Conheça a tatuadora Patrícia Borboleta na estreia do Tattoodo Hype

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Estamos estreando nesta sexta-feira mais uma nova coluna aqui no Pátio Hype! É a nossa Tattoodo Hype A cada sexta-feira, vamos trazer para vocês uma entrevista bem bacana com vários tatuadores de Fortaleza, mostrando o trabalho e a arte incrível que essa galera tem feito aqui na cidade. E para nos dar a honra de estrear com o pé direito, convidamos a tatuadora Patrícia Borboleta, dona de traços impecáveis, desenhos ma-ra-vi-lho-sos (sim, a gente rasga a seda mesmo!), com um sorriso e um bom humor contagiantes e que ainda trabalha um lado social  muito bacana no estúdio no qual ela trabalha.

Até hoje (12/05), tatuagens minimalistas saem a R$ 50 com a doação de cinco peças de roupas em bom estado de conservação. (Vai que com nossa postagem eles esticam esse prazo, não é mesmo?). E nem de longe essa é a primeira ação do tipo que ela faz lá no Nativas Tattoo, onde trabalha. Lá se vão mais de dez anos de tatuagens e muitas histórias que ela vem compartilhar diretamente aqui com a gente. É com você, Patrícia Borboleta!

Pátio Hype: Para você, o que tatuar significa?
Patrícia Borboleta: Tatuar é criar um laço eterno com o cliente. Podemos marcar toda uma personalidade em um só desenho. Sempre achei que o corpo pertence exclusivamente a cada um, e que nele temos o direito de retratar toda uma vida. É extremamente gratificante você ter a permissão de alguém pra criar esse laço. Tatuar exige paciência, estudo, compreensão e muita dedicação.

Como você vê o mundo da tatuagem hoje em Fortaleza? Está melhor ou pior do que quando você começou?
O mercado da tatuagem em Fortaleza se expandiu muito rápido. Temos pontos negativos e positivos em relação a isso. Uma das vantagens é que temos grandes artistas surgindo e realizando trabalhos incríveis, assim como os mais antigos que vem evoluindo e acompanhando essa expansão. O cliente também tem mais opção de escolha em relação aos tatuadores e seus estilos de trabalho. Um dos pontos negativos é que com esse aumento muito rápido de estúdios, alguns tatuadores não se prepararam o suficiente pra realizar uma tatuagem de qualidade no cliente . É preciso muito estudo quando decidimos virar tatuadores, tanto de desenho como em relação à todo o procedimento durante o processo da tatuagem. Temos que nos atentar a como cada pele vai reagir durante uma cicatrização, explicar a importância dos materiais descartáveis, das tintas liberadas para uso pela ANVISA, de como acalmar o cliente durante todo o procedimento e acompanhar no pós, tirar as dúvidas (que as vezes são tão simples)… São pontos importantes pra quem decide virar tatuador.

Conta um pouquinho da sua história como tatuadora pra gente?
Em 2004, eu possuía uma loja de roupas e acessórios na Galeria [Pedro Jorge], e já customizava roupas desenhando. Alguns amigos começaram a me incentivar que eu aprendesse a tatuar. Observei durante muito tempo alguns tatuadores trabalhando e comecei a praticar (com a ajuda deles) para que eu também pudesse entrar nesse mundo. Nunca tinha me imaginado nessa profissão que hoje eu não largo por nada. Na época foi um pouco difícil, pois não existiam muitas mulheres tatuadoras, mas não queria desistir, pois era algo que eu sabia que era capaz de fazer. Vejo que surgiram muitas mulheres pra fortalecer a nossa classe. Fico feliz que esse preconceito tenha diminuído bastante e que podemos trabalhar mais tranquilas e com o apoio de vários tatuadores. Tenho como referência desse tipo de ajuda dois tatuadores, o Jack Garra e o Roberto Doubly que me impulsionaram para que eu nunca desistisse, mesmo com muita pressão negativa de várias pessoas na época.

Já sofreu preconceito por ser tatuada? Por ser tatuadora?
Já sofri e ainda sofro. Mas é algo que temos que aprender a passar por cima, principalmente pra poder abrir espaço para todas as tatuadoras que ainda estão por vir pra fortalecer nossa classe. O preconceito é algo que pode ser combatido e estamos lutando pra isso.

Foto: Ethi Arcanjo

E por ser mulher e tatuadora… A questão do machismo e do assédio pega mais pesado?
Tive poucos casos dentro do estúdio em relação a assédio até porque sempre soube contornar a situação e resolver. O problema maior sempre é nas ruas. Dentro do estúdio eu posso me impor de uma forma em que o cliente fica sem ter como questionar até porque eu não trabalho sozinha. Nas ruas nós estamos sujeitas a levar como resposta algum tipo de agressão física. Fora do estúdio infelizmente ainda não tenho quem me defenda em certos momentos, mas mesmo assim ainda “bato de frente” porque não podemos ter medo de lutar por respeito. Respeito é a ferramenta chave pra se viver bem. Quanto ao machismo, eu aprendi a rebater com mais facilidade porque ele é somente fruto de pessoas ignorantes e a ignorância se combate com sabedoria..

Algum desenho você fez e foi assim, marcante para você enquanto profissional?
Fico muito sensibilizada quando faço homenagens pra pessoas que estão passando por situações difíceis. Durante o procedimento sempre converso bastante com meus clientes e acabamos absorvendo muito da vida deles. Recentemente tatuei um cliente cuja mãe está passando por um processo difícil em relação a saúde. Ele fez uma homenagem a ela retratando nessa tatuagem a força que ela tem. Isso mexe muito com a gente. Tatuar envolve muita energia entre tatuador e cliente.

Você se define dentro de algum estilo específico de tatuagem?
Venho de uma época da tatuagem em que você tinha que aprender a tatuar tudo pra poder atender todos os seus clientes e suas exigências. Então acabei aprendendo a não focar somente em um estilo. Gosto muito de trabalhar pontilhismo em grandes áreas, mas não deixo de gostar de todos os outros estilos.

Dentro do atual contexto político-social-econômico do país, tempos de machismo, corrupção e intolerância, o que mais te irrita?
Tenho refletido sempre mais sobre toda essa desigualdade e falta de união das pessoas. Não me irrita a falta de empatia entre elas, me entristece. Tive uma criação onde uma grande mulher, que é a minha mãe, me ensinou a me pôr no lugar das pessoas. Acabo sendo muito sensível em relação a toda essa falta de amor ao próximo no mundo. Luto da forma que posso pra que haja essa união entre as pessoas. Acredito no potencial do ser humano em apoiar um ao outro mesmo sabendo que muita gente nada na direção contrária. As vezes as pessoas só precisam de um direcionamento.

Por fim… A campanha de arrecadação de roupas em troca de descontos em tatuagens não é a primeira que você propõe. Por que você defende o engajamento social?
Acredito que se cada um se movimentasse um pouquinho, da forma que pudesse, o mundo se tornaria melhor. Defendo que as pessoas se ajudem e procurem lutar contra as desigualdades pois precisamos desse tipo de luta. Fico muito feliz em ver que existem vários estúdios de tatuagem realizando campanhas pra ajudar de alguma forma. É incrível ver como podemos rebater todo esse preconceito que foi jogado durante anos em cima dos estúdios e das pessoas que decidem se tatuar com atitudes assim. Fazemos essas campanhas mais de uma vez por ano e sempre temos uma grande quantidade de doações. Isso nos faz acreditar que existem muitas pessoas dispostas a ajudar sempre. Mesmo com questionamentos adversos, nós pretendemos continuar com as campanhas e sempre que pudermos ajudar de alguma forma, estaremos nos empenhando pra isso.

Serviço
Nativas Tattoo
Rua Senador Pompeu, 834 – Galeria Pedro Jorge – 3º andar – Loja 325 – Centro
(85) 3031-0427
Instagram Patrícia: @patriciaborboletatattoo

A Arte de Patrícia Borboleta
Confira na galeria abaixo alguns dos desenhos criado pela tatuadora:

E aí, curtiram a nova coluna? Semana que vem voltamos  com mais um Tatoodo Hype e mais um artista incrível de Fortaleza!

Fotos: Reprodução / Ethi Arcanjo

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