A ciência anda bastante interessada no ânus

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Seja qual for a situação e o ambiente, falar do ânus nunca é fácil. Não se sabe se foi por vergonha ou pudor, mas o fato é que por muitos anos até mesmo os cientistas preferiram não pesquisar essa importantíssima parte do corpo. E antes que você comece a dar aquele sorrisinho de canto de boca, o No Pátio informa que os biólogos Andreas Hejnol e José Martín-Durán, da Universidade de Bergen, na Noruega, estão dedicadamente buscando reverter a situação de esquecimento em que o aparato traseiro dos seres humanos foi condenado.

Pois é, chegou a hora de rever seus conceitos sobre o nosso amigão lá de trás. Publicado na revista científica Zoologischer Anzeiger, o artigo intitulado provocativamente de Getting to the bottom of anal evolution (Indo até o fundo da evolução anal, na tradução para o português) descreve detalhadamente a evolução do orifício anal ao longo da história e a importância dele para o desenvolvimento das espécies.

O artigo mostra vários exemplos pouco conhecidos de como o ânus é posicionado e utilizado de formas diferentes entre os animais. Segundo os pesquisadores, a presença do ânus está relacionada ao grau de evolução e complexidade do sistema digestório, que nos seres vivos tem a tarefa de introduzir e digerir alimentos e absorver os nutrientes contidos neles, eliminando as substâncias que não foram utilizadas pelo organismo na forma de fezes — essa última função, aliás, é a principal tarefa do nosso amigão.

ânus 1

Assim como a coluna vertebral é uma das características comuns a todos os vertebrados, o ânus é fator definidor de uma linhagem evolutiva. Isso quer dizer que eu, você, o boi, o jacaré e a galinha, em algum momento, tivemos o mesmo ancestral. E esse ancestral em comum foi muito importante, já que a partir dele surgiram seres com um sistema digestório mais complexo, o que gerou nichos ecológicos diferentes e deu acesso a uma nova e ampla gama de alimentos. Ou seja, quanto mais eficiente esse sistema, mais desenvolvido e maior pode se tornar o ser vivo.

E no sexo?

Além de tratar da importância do ânus na evolução das espécies, o estudo de Hejnol e Martín-Durán também forneceu evidências muito interessantes para ligar o órgão a outra estrutura: aquela que os animais usam para o sexo. “Em alguns casos, como nas aves, o ânus também é responsável pela reprodução. Ele sempre será o lugar por onde os animais defecam e, às vezes, pode servir como órgão reprodutor”, diz Hejnol. Ou seja, ao contrário do que disse recentemente um candidato à presidência no Brasil, o “aparelho excretor” também pode ser reprodutor.

Diante dessas informações compare a importância do ânus com o grau de caretice e conservadorismo em que ele está envolto. Quem sabe depois dessa pesquisa ele possa ser melhor compreendido.

Fotos: Reprodução. 

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