Tiago Pedro, o olhar de um cearense em Cuba

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Dizem que fotografar é fazer poesia com a luz. De fato, sensibilidade é algo importante no momento de capturar imagens, essências. Trabalhar com vídeo segue linha parecida. Imagens têm a incrível capacidade de tocar o ser humano de forma peculiar. E o cearense Tiago Pedro gosta exatamente de contar histórias com imagens, seja em vídeo, seja em fotos.

Atualmente, o cearense está morando em Cuba. Ele está estudando na EICTV (Escuela Internacional de Cine y TV), uma escola de cinema com 30 anos de história. Ela foi fundada por Gabriel García Marquez, e é umas das cinco mais premiadas do mundo, incluindo premiações em Cannes. “Diga-se de passagem que morar em Cuba é incrível, morar na escola de cine mais ainda. Somos 80 alunos de nacionalidades diferentes, vivendo juntos, em uma escola no campo, estudando 24 horas cinema, é intenso.”

Tiago Pedro5Tiago Pedro se define como documentarista, fotodocumentarista, cinematógafo, ou seja, poeta. Um homem que gosta do que é simples, do minimalista, do que é natural. “Que a foto seja simples, mesmo a que se caracteriza por uma performance ou intervenção, quanto mais simples mais poética e mais próxima de mim estará.” Ele trabalha tanto com câmeras analógicas quanto digitais, apesar da preferência pela primeira. “Trabalho com película pela possibilidade física que ela me proporciona, posso trabalha manualmente minha obra. Acabei de gravar em 16mm, preto e branco. Ao final, peguei esse material e o fervi em água, peguei outras parte e pintei manualmente. E o resultado foi vivo, mais do que se fizesse tudo em computador. Não é que seja melhor ou pior, é outro formato, outra textura, outras ondas de luz também, como fotógrafo e artista, me sinto melhor experimentando aí. ”

A ida para Cuba não foi fácil. Ele vendeu praticamente todos os seus pertences para pagar passagens, comida, etc… Mas valeu a pena. Foi na EICTV que Tiago Pedro teve a oportunidade de conhecer grandes nomes do cinema mundial, como Francis Ford Coppola, Abbas Kerostami e o brasileiro Cao Guimaraes. Esta foi a primeira vez que Tiago saiu do país e que ficou tanto tempo longe de sua família. “Na verdade, venho de família bem humilde, então tudo me parece uma grande vitória. E um grande privilégio, o que acarreta grande grande responsabilidades. Sinto como que carregando toda a minha história comigo.”

Tiago Pedro15Cada momento no país de Fidel Castro, para Tiago, é especial. Ele sente, ele sabe que tem que aproveitar cada instante para aprender, para capturar através de suas lentes. “Cuba em especial é um pais particular. Difícil de descrever o que passou lá, difícil de descrever o que está passando agora, não é nada do que a direita ou a esquerda brasileira possa te descrever. Tem que vir para conhecer. E não ficar somente em Havana, tem que ir para o interior da ilha, Hogin, Santiago, Santa Clara, Serra Maestra, dormir em casa de morador etc… More um dia em Centro-Havana e entendera melhor o que é Cuba. ”

E dentre as viagens de Tiago por Cuba, ele destaca a oportunidade de ter conhecido Serra Maestra. “Passei muitos dias caminhando pela Serra Maestra, e sai logo com minha câmera para ver como as pessoas reagiam a ela. Muitas pessoas me convidavam para entrar, tomar café. Teve uma hora que tive que negar os convites para poder continuar fazendo minhas pesquisas, procurando personagens. Estando lá, me chamou muito atenção os álbuns de família. Sempre alguém me mostrava os álbuns de 15 anos, por exemplo, ou de aniversários, e era forte a grande quantidade de montagens, mudando completamente o fundo, pondo casas ricas, ou numa praia gringa.” Tiago destaca que era um contraste grande entre as montagens e a realidade. “Eram memórias inventadas. A fotografia já é uma coisas cheia desejos, não? Ser fotografado como você que ser retratado, e essa imagens estavam assim; eram mais imagens do imaginário e desejos das pessoas. Não era errado, eram como queriam ser vistos, um estilo que para eles era o normal e aceito.”

Série de fotos das “memórias inventadas” de Serra Maestra

O curso tem duração de três anos, e Tiago já está no segundo. A saudade do Brasil é grande, mas infelizmente, os preços das passagens para cá não permitem que ele venha visitar seu país de origem. Durante as férias, Tiago Pedro aproveitou para passar uma temporada no México, passeando e, claro, treinando o olhar e fotografando.”Muita coisa encareceu o bilhete e eu mesmo não tenho dinheiro ultimamente. México estava próximo, e já fazia muito tempo que estava na escola, e nesse país eu podia exercitar mais a fotografia, comer melhor – a comida vai muito mal em Havana (risos) -, conhecer a cultura Asteca e Maia, os murais mexicanos, a casa de Frida Khalo, ver arte…”

Tiago Pedro2Mas nem tudo é apenas amor à fotografia na vida do artista! “Uma coisa que acontece muito: conheci uma mexicana na escola que foi fazer um curso de curta temporada, me apaixonei por ela, e queria vê-la de novo.”

Tiago Pedro3Para o futuro, o jovem cearense vê tudo ainda como possibilidades abertas. Em primeiro plano, cursar o terceiro e último ano na EICTV. Depois, tudo é possível: desde voltar à Fortaleza a aproveitar alguma grande oportunidade que venha a surgir. “Minha maior vontade contudo, claro, é produzir no Ceará. Quanto mais tempo eu vivo e estudo em Cuba, [mais] lembro e reconheço tudo que não produzi de histórias aí.”

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https://www.flickr.com/photos/70189440@N08/
Fotos: Reprodução/Tiago Pedro

 

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