Não se trata de nenhuma novidade o conhecimento de que elementos existentes na natureza podem constituir materiais alternativos para o tratamento de diversas enfermidades. Materiais biológicos, empregados como curativo oclusivo, por exemplo, têm sido recomendados por vários médicos por possuírem propriedades antibacteriana e analgésica, acelerarem a formação de tecido de granulação e epitelização, propiciarem barreira à invasão bacteriana, assim como promoverem retenção do exsudato, características admitidas como benéficas para a cicatrização
Com base nisso, trinta pacientes do Centro de Queimados do Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, vem recebendo um tratamento inédito: um curativo biológico desenvolvido a partir da pele do peixe tilápia como alternativa no tratamento de lesões das queimaduras.
O estudo – desenvolvido por pesquisadores do Ceará, Pernambuco e Goiás – oferece inúmeras vantagens frente ao tratamento tradicional e, de acordo com a Prefeitura de Fortaleza, os resultados da primeira fase clínica dessa pesquisa pioneira são bem satisfatórios.
A pesquisa começou a ser desenvolvida há dois anos e meio, contando com 11 etapas pré-clínicas. Em julho, foi iniciado o estudo no grupo de 30 pacientes do IJF com queimaduras de 2º grau superficiais e graves, que representam 90% dos acidentes. A nova etapa da pesquisa teve índice de 94% de sucesso.
Conforme o coordenador da pesquisa e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), Edmar Maciel, 58 pacientes se voluntariam para a pesquisa e o tratamento será expandido para 100 pacientes no IJF. “Um fator importante é que não há troca de curativos diária, não causando dores e, dessa forma, o paciente não precisa se submeter a anestesias e analgésicos. No Brasil, nós utilizamos para tratamento de queimaduras a pomada de sulfadizina de prata. O tempo de cicatrização diminui porque que o curativo de pele da tilápia permanece numa queimadura de 2º grau até o período final de cicatrização. Já com outras aplicações de pomada, o curativo tem que ser renovado diariamente”, disse.
Com término previsto para julho de 2018, a pesquisa foi financiada pela Enel e conta com 44 colaboradores. No próximo ano, está previsto um estudo multicêntrico no Brasil, nos seguintes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiânia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Em seguida, será feito um estudo fora do Brasil
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