Não são todos os jovens que sonham obter uma boa nota no ENEM e entrar em uma universidade pública. As instituições de ensino superior militares como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) também são alvos almejados por muitos adolescentes. Entretanto, são vestibulares extremamente difíceis e disputados e conseguir uma vaga em uma dessas instituições requer muito estudo e dedicação.
E não é que um cearense do interior do Estado conseguiu garantir uma vaga nas duas instituições? Felipe Bastos, de 17 anos, nascido em Saboeiro – interior do Ceará, distante 442 km de Fortaleza – foi aprovado para cursar Engenharia Mecânica no ITA e IME, considerados dois dos vestibulares mais difíceis e concorridos do País.
Filho de uma professora e de um comerciante, Felipe sempre viu a educação como um agente de transformação da sua vida e de sua família. Ao participar da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), incentivado pelos seus professores, conquistou quatro vezes menção honrosa e tornou-se o aluno com maior número de premiações no município.
Após demonstrar bons resultados na OBMEP, Felipe foi contatado pela Associação Primeira Chance, que identifica e apoia alunos de escolas púbicas com o objetivo de promover a inclusão social de jovens de baixa renda por meio da educação. O estudante, então, teve a oportunidade de sair de Saboeiro, município com cerca de 15 mil habitantes, e morar em Fortaleza, para estudar com bolsa no Colégio Ari de Sá Cavalcante, escola referência no ENEM, ocupando o 3º lugar no ranking nacional 2015, e nas aprovações para ITA e IME.
A mudança de endereço trouxe a Felipe uma série de adaptações. “Em Saboeiro, minha vida era bem simples: eu acordava, ia ao colégio, voltava para casa, ajudava minha mãe a fazer o almoço e a arrumar a casa, além de estudar um pouco. Era essa a minha rotina”, conta Felipe. Fora disso, apenas as aulas de caratê que fazia com os amigos. Já em Fortaleza, “acordava às 6h para ir ao colégio e passava a manhã estudando na biblioteca. As aulas começavam às 12h30 e terminavam às 20h. Quando eu voltava para casa, continuava estudando”.
Além das adaptações, as dificuldades. Como a escola pública a qual frequentava tinha grade curricular diferente da particular onde foi estudar, Felipe chegou à turma especial preparatória para os vestibulares do ITA e do IME sem ter visto alguns conteúdos. “A primeira prova que fiz foi de Física e fui muito mal; deu até vontade de voltar para casa, mas meus pais diziam: ‘você consegue, tem inteligência e sabe o que quer”, relembra. Para acompanhar o ritmo, Felipe buscou o apoio dos colegas de sala, que indicavam leituras e o ajudavam nas tarefas. Em Saboeiro, ele não tinha tantos desafios e na nova escola teve que acompanhar os novos conteúdos, tirar boas notas, passar no vestibular, ter mais garra para conseguir o que quer.
Agora, Felipe precisa decidir se vai para São José dos Campos (SP), onde fica o ITA, ou para o Rio de Janeiro (RJ), onde fica o IME. “Tenho muitos amigos que estão tanto no ITA quanto no IME. O Ceará aprova muito nessas duas faculdades. Espero que seja parecido [com o colégio], porque são pessoas muito boas”, declara. Segundo Felipe, “muitas pessoas de Saboeiro têm uma vida humilde como a minha, mas a educação transforma, e educação e família para mim são a base de tudo. Se você tiver educação, você pode construir qualquer coisa, é só correr atrás”.
Fotos: Reprodução