Imagens de suas obras intercaladas com ensaios, poemetos. Ao longo das 168 páginas, o livro Ausência [Memórias Ancoradas] traz uma publicação bilíngue que tece o movimento de produção múltipla do artista visual cearense Rian Fontenele. O evento de lançamento acontece no próximo dia 06 de novembro, segunda-feira, às 19h, no Ateliê-Casa do artista, em Fortaleza (CE), espaço de produção, exposição e de morada de Fontenele que está muito presente na publicação.
“O vazio é seu ponto de apoio, e é assim que a pluralidade do trabalho de Rian é aqui compilada; trata-se de assinalar a trajetória de um campo de questões que ganha expressão e força em diferentes linguagens”, escreve Bianca Dias, que estabelece um diálogo franco e rico com o artista, oferecendo ao leitor um panorama da trajetória, do lastro e do processo criativo de sua obra, que transita entre o desenho, a gravura e o bordado até condensar em sua pintura.
Para Bianca Dias, o percurso descontínuo por essas linguagens diversas “assinala a inquietação errante de um artista que parece saber que não se trata de alcançar um ponto programado ou um objeto final, mas que é no processo mesmo que se permite a abertura de um espaço autoral”.
Outra parte fundamental do livro reúne quatro ensaios críticos sobre a obra do artista escritos por curadores e pesquisadores como Bitu Cassundé, Luiza Interlenghi, Silas de Paula e Weydson Barros Leal. Todas essas percepções são permeadas por desenhos, imagens de cadernos de estudo, obras em diversas linguagens e suportes e, sobretudo, referências literárias que marcam seu trabalho.
A obra de Rian Fontenele é marcada pela austeridade e pela sobriedade de elementos e pela presença de personagens dramatizados, os quais louvam o silêncio e a memória. “As figuras se encadeiam umas às outras, mergulhadas em uma bruma ou na paisagem, em contraluz dura, permanente noturno. Estão envoltas por uma geografia ou vegetação nunca reconhecidas, quase como se fossem colagens de um tempo e espaço indecifráveis, abstraindo-se do mais verossímil como fundo do qual acontecia alguma coisa”, diz o artista.
Sobre a oferta de corpos quase sempre nus, Rian afirma tratar-se de uma “nudez desconhecedora da vergonha, não sensualizada, mas potente. Desnuda, de toda máscara e véu, como se ali estivesse sem artifício algum, como se estivesse crua. Nem impura, sem sacra. A nudez ofertada como presença, em uma estética próxima da honestidade de suas paixões, contudo nunca idealizada ou em estado de volúpia. O corpo como resistência, memória e vontade. É exatamente assim que penso o corpo narrativo, vestido de si – de pele e pelo .”
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