Selvagens à procura de lei…

entretenimento|Música

Sendo músico em Fortaleza, inevitavelmente eu conheci outros músicos da nossa terra. Gente jovem, engajada no que faz e principalmente, com trabalhos de primeira. Nossa cidade hoje, na minha opinião, se firmou como um dos grandes pólos de música autoral no Brasil. Fortaleza possui uma cena diversificada, cosmopolita, extremamente profissional, com trabalhos reconhecidos pela mídia e agraciados com prêmios. Temos artistas cearenses que produzem do rock ao blues, do eletrônico ao indie, do experimental ao MPB. E o que é melhor, de uns tempos pra cá o público tem se educado mais e dado mais valor ao que é feito aqui – que, no fim das contas, é o que pesa mais nessa equação.

Sendo uma publicação genuinamente cearense, é claro que aqui não podia faltar aqui a menção de artistas ou bandas que merecem o devido destaque. E eu começo com meus amigos da Selvagens à Procura de Lei, um quarteto de rock nascido aqui mesmo na nossa cidade.

É possível que você já tenha ouvido falar nos Selvagens aqui ou ali. Matérias sobre eles e entrevistas pipocam nos blogs de música do país. Eles já passaram por importantes palcos como o do Ceará Music, do Ponto.CE, e recentemente representaram nossa cena em São Paulo participando do Festival Planeta Terra, que teve como headliner ninguém menos que os Strokes de Julian Casablancas. Fora isso, fazem shows regularmente na cidade e fora do estado, e são banda residente do Órbita Bar, com shows mensais.

Tudo isso é fruto do trabalho lançado em julho de 2011, o álbum Aprendendo a Mentir. Gravado no estúdio Casona em Recife, o disco foi produzido por Iuri Freiberger, que também assinou trabalhos dos Violins, Superguidis, Tom Bloch, e outros. O som dos meninos tem uma influência forte do indie rock inglês da década de 2000, que tem como grandes representantes bandas como Arctic Monkeys e The Strokes. Mas o que mais me chama a atenção nos Selvagens são as letras, com as quais eu me identifico muito. Também pudera – os Selvagens contam histórias sobre como é ser jovem em uma metrópole do nordeste. Descrevem experiências e personagens, mas de uma forma ácida, densa e provocante, fugindo da linguagem piegas e repetitiva das bandinhas teen que infestam nossas rádios (é com vocês mesmo, seus imundos). Quem nunca se deparou com uma Patrícia Narcisista ou nunca se sentiu um Mucambo Cafundó?

Eu conversei com o Rafael Martins (guitarrista) rapidamente sobre como tem sido essa espiral positiva, sobre a cena de Fortaleza e também sobre planos futuros. Em seguida, o vídeo de Mucambo Cafundó, minha música preferida deles. Confiram!

 

Eu queria que você começasse com um balanço do ano de 2011, passando pela repercussão que o álbum teve aqui, o início da penetração de vocês no mercado de São Paulo e claro, a participação no Planeta Terra.

2011, pra gente, começou cedo, ainda na segunda semana de janeiro, quando fomos a Recife terminar de gravar o tão esperado primeiro CD. Passamos cinco dias no estúdio Casona gravando com o Iuri e depois voltamos pra Fortaleza. Em abril tivemos a chance de tocar no Abril Pro Rock, mas ficamos em 2º lugar pela votação de internet com direito a show ao vivo. Não foi dessa vez, mas a gente sabia que teria uma próxima. Decidimos, de forma estratégica, lançar São Paulo em julho para divulgar o CD, mesmo sem ter lançado por aqui. Passamos 10 dias por lá e tocamos no Gig Rock Festival, na casa Beco 203. Foi uma experiência ótima. Ainda em São Paulo, passamos na MTV pra deixar nosso clipe. Voltamos para Fortaleza e fizemos o tão sonhado show de lançamento do álbum no Órbita Bar. Eis que surgiu mais uma oportunidade para tocar em São Paulo. Na verdade, três oportunidades! Graças aos contatos armados na ida de julho, conseguimos três shows em setembro – sendo dois na Outs Club e 1 na Casa Fora do Eixo. Nesse momento percebemos o quão importante é ficar perto das bandas que estão movimentando a cena, assim como nós. A Vivendo do Ócio foi a banda que nos abraçou e armaram os shows da Outs, sem falar que nós ficamos na casa deles por 10 dias, algo que nunca vamos esquecer. Fizemos uma entrevista na MTV e gravamos o programa Trama Virtual. De volta à Fortaleza, mais uma vez, mantemos nossa rotina e sempre fazendo shows semanais, divulgando o clipe e o álbum. Até que surgiu o concurso do Festival Planeta Terra e nós imediatamente movimentamos nossas redes sociais, que a esse ponto já estavam com um bom número de seguidores no Twitter e fãs no Facebook. Não foi fácil, mas conseguimos virar finalistas e, mais uma vez, fomos à São Paulo (desta vez, tudo pago, ufa!). Ganhamos o concurso e continuamos na cidade com alguns compromissos. Gravamos o Sonora Terra, programa exibido pelo portal da Terra e conhecemos algumas pessoas que fizeram toda a diferença para a nossa nova fase que virá próximo ano. Dia 5 de novembro chegou, finalmente tinha caído a ficha de que iríamos tocar no Planeta Terra! Fizemos um show seguro e bem recebido. Depois dessa jornada, voltamos mais uma vez para Fortaleza, mas dessa vez com a confirmação de que finalmente poderíamos viver de música autoral. Posso ter esquecido de alguns outros detalhes, mas o fato é que este foi o nosso melhor ano até agora. O ano em que demos o nosso 1º passo profissionalmente falando.

 

Como você avalia a cena de Fortaleza atualmente? Ainda é “loucura” ter banda de rock aqui?

Ter uma banda de rock e querer viver disso, independente do local em que você mora, já é uma loucura. Então não importa o quão louco isso seja e sim a relevância da banda. Atingir o coração e a mente dos outros não é uma tarefa fácil… Às vezes, escrever e tocar bem uma música é tão complicado quanto passar no vestibular. Outras vezes elas saem em 5 minutos e dizem tanto sobre você que nem sua mãe saberia dizer. Não quero pagar de tutor, até porque quem sou eu pra falar disso, só acho que se for montar uma banda, faça algo relevante.

Sobre a cena de Fortaleza, posso falar apenas do que eu vi e vivi até agora. Comecei a conhecer as bandas locais em 2008, aos 18 anos. Antes disso só ouvia falar. Eu acho que aqui temos excelentes músicos e pessoas muito criativas. Sempre haverão bandas que não tem a atenção merecida por não correrem atrás do merecimento e sempre haverão as que bombam na internet por simplesmente terem se disposto a esse trabalho. Cansei de ir a festivais em Fortaleza e conhecer bandas que nunca tinha visto na vida. Bandas que me chamaram a atenção pela criatividade e identidade sonora. Mas voltando a sua pergunta, eu acho que a cena está crescendo de forma mais selecionada. As bandas que antes não se preocupavam em mostrar o trabalho pela internet já estão aderindo ao Twitter, Facebook, SoundCloud, etc. O que eu quero dizer com isso tudo é que enquanto tem muita banda ruim pela internet, tem várias que merecem atenção e não estão conectadas.

 

Me fala um pouco sobre os planos dos Selvagens pra 2012, e pro futuro de uma forma geral.

2012 vai ser o ano dos Selvagens! Vamos lançar um CD por uma gravadora e nossa vida de músico finalmente vai ser concretizada. Sabemos que não podemos nunca, jamais, nos desprender de Fortaleza e por isso optamos por ficar por aqui até que seja impossível dar conta da rotina. Pra falar a verdade eu nem sei direito como vai ser 2012, mas estamos sentindo que vem coisa boa por aí.

 

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Foto: Reprodução.

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