A população da tribo Taba dos Anacé, povo que habitava a região de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, recebeu, nesta terça-feira (06), pelo governador Camilo Santana, a Reserva Anacé, a primeira do Ceará. No País, 35 terras já foram demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e outras 15 estão em processo de demarcação.
Localizada no município de Caucaia, na RMF, a área possui 543 hectares, extensão que agora abriga gente das aldeias Baixa das Carnaúbas, Currupião, Matões e Bolso. Na reserva, 163 famílias foram contempladas com casas de alvenaria, escola e posto de saúde em padrão indígena, acesso viário, sistemas de energia elétrica, além de redes de água, esgoto e drenagem.
Recebido pela comunidade com danças e rituais próprios da tribo, o governador Camilo Santana participou das homenagens e antecipou que mais investimentos serão direcionados para essa população. “Estamos liberando, aqui, ainda, recursos para projetos produtivos para que a comunidade possa produzir, ter renda”, disse. Os investimentos serão feitos por meio do Projeto São José, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA). A cerimônia de entrega contou ainda com a participação do titular da SDA, Dedé Teixeira, do prefeito de Caucaia, Naumi Amorim, e do presidente da Funai, Franklimberg Ribeiro
Um encontro com as lideranças da reserva está marcado para o próximo dia 20. Na ocasião, o chefe do Executivo vai receber novas demandas da comunidade que foi remanejada de São Gonçalo do Amarante devido às obras da refinaria Premium II, da Petrobras – a empresa desistiu do empreendimento em 2015.
De acordo com o titular da Secretaria da Infraestrutura, Lucio Gomes, a intervenção custou R$ 30 milhões, dos quais 80% são oriundos do Tesouro Estadual. Para a consolidação do projeto, o secretário disse, ainda, que contou com apoio da Funai. “O Governo do Ceará reconheceu a importância de garantir para essas famílias uma continuidade com dignidade”, sublinhou.
Recomeços
A nova morada, resume Irismar Morais, de 45 anos, é uma conquista. Ela conta que a antiga casa, após a morte de sua mãe, era dividida com outros irmãos. “Não sentia que era minha, né? E essa (casa) eu bato no peito, digo que é minha, mando e desmando”, brincou. Mais conhecida pela comunidade como “Titia”, Irismar atualmente divide o lar com o filho de 19 anos e trabalha como auxiliar de serviços gerais na escola da reserva.
Maria Antônia, de 32 anos, é companheira de serviço de Irismar. Ela conta que, apesar da nova estrutura, sente saudade da terra onde viveu a infância e a adolescência. “Eu nasci e me criei lá. Para se acostumar, vai ser difícil, mas vai dar certo”, animou-se.
Diante dos relatos de saudade, de recordações que o povo indígena de Anacé tem da antiga terra, a titular da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Ceppir), Zelma Madeira, afirma que um trabalho está sendo feito com a comunidade. “Eles têm a dimensão da memória. E nesse espaço que é a terra, está a ancestralidade; tem as saudades, as lembranças. Nesse sentido, desenvolvemos um trabalho social para fazer uma adaptação desse povo, para que se crie e se recrie esse território; para que eles se sintam donos, pertencentes desse local”, destacou Zelma.
A Ceppir encabeçou Grupo de Trabalho para dar agilidade ao processo de remanejamento e dialogar diretamente com os indígenas. Integraram o GT as secretarias da Educação (Seduc), da Saúde (Sesa), dos Recursos Hídricos (SRH), do Desenvolvimento Agrário (SDA), além da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e Funai. A comunidade indígena Taba dos Anacé faz parte dos 14 povos indígenas que estão espalhados pelo Ceará.
Que venham por aí cada vez mais reservas e que o povo indígena do nosso estado possa ser sempre respeitado, admirado e preservado como devem, não é? Ficamos na torcida para que essa diversidade seja enaltecida e mantida!
Fotos: Reprodução