Um dos maiores nomes da música eletrônica brazuca, Dj Fil, completa 13 anos de uma carreira de garra, inovação e respeito. Desde o icônico Cidadão do Mundo (projeto que deu início ao ciclo de festas e iniciativas da segmentação da música eletrônica), Felipe Sá Correa esteve à frente dos eventos de maior importância no estado. Não estamos falando de festas com os “maiores” Djs do mundo, e sim da educação de um público que não existia e agora existe. Eventos como seminários, palestras, formação de coletivos e performances artísticas ligadas à cibercultura. Um dos nomes mais criativos e polêmicos por sua postura sincera e incorruptível. Tive o prazer de trabalhar e aprender muito com esse profissional/amigo. No Pátio bate um papo com ele sobre esses 13 anos como Dj Fil.
NP – Em 13 anos de discotecagem, qual foi a fase mais marcante pra você?
Fil – Tenho a felicidade de sempre ter sido um dos mais ativos personagens da história da música eletrônica em Fortaleza, por isso fica difícil eleger uma fase marcante pela qual passei. Da época em que não existiam festas (difícil até imaginar isso atualmente) até os dias de hoje (com seus mega-eventos), guardo na memória belos e maravilhosos momentos. Sou extremamente apaixonado pela arte que escolhi como profissão, então cada instante, por mais exagerado que possa parecer, é preciosamente vivo e emocionante.
Pontuando em momentos, poderia falar que foi alguma das minhas “gigs” (trabalhos) em clássicos clubs de São Paulo, como Clash, LovE, Aloca e Kraft, verdadeiros templos da música eletrônica nacional em seus momentos áureos. Poderiam ser também gigs como a do Festival de Verão de Salvador, um mega evento com repercussão nacional… Mas vou ficar com algo relativamente recente. Me enche de orgulho ser um dos idealizadores e DJ residente da festa que revolucionou a cena eletrônica em Fortaleza: Heineken Sunset. Em 2007, ano da sua primeira edição, a cidade via nascer o circuito das grandes festas de house.
NP – No atual circuito de festas, qual é o requisito maior nas qualidades do DJ?
Fil – A música eletrônica, e consequentemente a discotecagem, sempre foi influenciada e sempre influenciou bastante o universo da cibercultura. No ambiente virtual é muito comum ver a atitude de pessoas que vendem uma imagem construída em cima de mentiras para chegar rapidamente ao sucesso. Isso é uma característica forte da cultura Pop atual, cultura essa que vem assolando a música eletrônica. Isso vem fazendo surgir um bizarro e monstruoso hábito entre os DJs, principalmente entre os novos “DJs” (sem generalizar, claro) = Mentir.
Na ânsia de chegar rapidamente ao tal “sucesso”, usam sets pré-mixados em suas apresentações, disponibilizam para download sets editados por softwears que fazem todo o trabalho técnico que verdadeiros DJs demoram anos para aprimorar, escrevem releases repletos de fatos distorcidos e até inverídicos. Enfim, voltando para a pergunta… Provavelmente MENTIR seja o principal requisito nas “qualidades” do “DJ” no atual circuito de festas. É algo que não acontece apenas aqui em Fortaleza, acontece no Brasil, acontece no mundo. Lamentável, porém a mais pura verdade.
NP – Depois do sucesso das edições da Heineken Sunset, quais DJs (não locais) são cotados para 2012?
Fil – Heineken Sunset é uma festa à frente do seu tempo para Fortaleza. Única no que se propõe, pois é a única grande festa conceitual da cidade. Ela tem uma base conceitual sólida quanto evento: investe na qualidade musical da música eletrônica de vanguarda, propões um mix de despojamento e sofisticação em termos de ambiente e estrutura que nenhum outro evento ousa arriscar e foi a primeira festa local a investir nas redes sociais como forma de se relacionar diretamente com o público, onde o perfil da festa fala diretamente com cada pessoa (isso ainda nos tempos do finado Orkut). Entender isso é entender porque sempre optamos por artistas que não hesitam em surpreender a pista com novidades musicais. Seguindo essa linha de pensamento, cogitamos nomes nacionais que fazem parte da DEdge Agency e internacionais que são constantemente citados no Resident Advisor. Na minha opinião, o que existe de bom na música eletrônica atual se encontra ali.
NP – Quais são seus futuros projetos?
2012 promete ser um ano ainda mais maravilhoso do que foi 2011. Retorna agora dia 08/01 um projeto que venho tratando com muito carinho, pois vem crescendo aos poucos e tem uma ótima ideia como base: unir música eletrônica com estética deep, lounge, a prática de esportes como o wakeboard. O projeto Feeling Sunset, na Lagoa do Colosso. A princípio previsto para as férias, mas com grande chance de se estender durante o ano por conta do sucesso na aceitação inicial.
Outro projeto com o qual estou entusiasmado foi o de assumir a residência da festa Palace Vinyl ao lado dos DJs Rafa Viana (SP) e Marquinhos. Uma delícia de festa que vai acontecer mensalmente no novo Acervo Imaginário. Discotecaremos apenas em vinyl clássicos da dance music dos anos 80s, 90s e 00s. Um formato inédito em Fortaleza. Fizemos uma festa teste e foi sensacional. Tem tudo para ser um grande sucesso assim como é a Fliperama.
A minha revista (Feeling Mag), em sociedade com Rodrigo Vieira da produtora Feeling Club, vem crescendo no ritmo que desejávamos, tanto que em breve lançaremos um programa semanal na rádio Beach Park FM linkado a revista. Venho gradativamente guinando minha carreira como DJ para algo que propicie uma base mais sólida como produtor musical, pois pretendo começar a lançar faixas ainda esse ano. Os planos incluem o lançamento de um selo digital cearense para vender deep house.
Depois de tantos anos distante da produção, devo retornar a produzir eventos de médio porte focados na música eletrônica conceitual. O intuito é ativar um intercambio entre DJs de Fortaleza e DJs de outras capitais.
NP – Após 13 anos como DJ profissional, que dica você dá aos que começaram recentemente nesse mercado?
Música é arte! Uma das 7 grandes artes universais, talvez a mais antiga de todas. Por isso nunca esqueça que, se a música é a sua matéria-prima, isso significa que antes do SER profissional, existe o SER artista. Você é aquele que emociona ao emocionar-se, por isso subverta, crie, experimente. A cada nova apresentação, quebre limites, seu e dos que estão lhe escutando. Por menor que seja, procure isso. Evolua como um pintor evolui a cada novo quadro, construa uma identidade, procure uma assinatura só sua… Discotecagem é arte!
Para saber mais sobre a carreira do DJ Fil e ouvir sets maravilhosos produzidos por ele, clique aqui!
Fotos: Divulgação/Reprodução.