Sempre que se fala em militância LGBTI+, logo associamos uma imagem de um grupo de pessoas jovens lutando pelo direito de ter a sexualidade que quiserem, certo? Pois é, muito se fala sobre a sexualidade entre os jovens, e acabamos esquecendo que as pessoas mais velhas também tem questões ligadas a sexualidade. Com a abertura – ainda que pequena – da sociedade, cada vez maior é o número de pessoas mais velhas que assumem sua sexualidade ou sua inconformidade de gênero. Estamos falando difícil? É simples: Está aumentando a quantidade de idosos trans, gays e afins!
E foi justamente para dar voz a esse público ignorado por muita gente que uma fotógrafa nos Estados Unidos fez uma série de retratos. Jess Dugan criou o projeto To Survive on This (Ou Para Sobreviver Neste Lado, em tradução livre).
Ao lado de uma assistente social, Jess viajou pelos Estados Unidos durante cinco anos. Ao longo deste período, ela fotografou e conversou com várias pessoas trans e em não conformidade de gênero, porém mais velhas. “Antes do início do projeto, ouvi vários jovens trans dizerem que nunca tinham visto imagens de pessoas trans mais velhas. Por isso, elas não faziam ideia de como seria a vida delas daqui para frente”, afirmou a fotógrafa. “Criei esse projeto para eles, assim como também para registrar e validar as experiências dos idosos trans, muitos dos quais lutaram pelo mundo em que vivemos hoje.”
O resultado foi um livro emocionante repleto de imagens incríveis. E na galeria abaixo, você pode conferir algumas dessas fotos:
D'Santi, 54 anos, Santa Fé
"Eu me identifico como um homem hétero. E sempre fui assim. Minha primeira recordação é de dizer: 'Eu não sou uma garota. Eu não quero ser uma garota.' As pessoas precisam saber que não estão sozinhas – porque essa foi a minha luta. Durante 50 anos, eu estava nessa sozinho. Eu sabia que era diferente, mas não conseguia entender como. Eu me automedicava, bebia muito. Bebia até apagar. Eu gostava daquele estado alterado, porque assim não precisava ser eu. Eu era só um dos caras. Agora estou muito empolgado com minha vida. Eu só quero tocar mais. Passar mais tempo com minha mulher, meus netos, minha família. Ser autêntico. Eu perdi os primeiros 50 anos da minha vida, mas não perderei os próximos 50."
Sky, 64 anos, Palm Springs, Califórnia
“Acho que o meu maior medo é o maior medo de quem vive em casal, que minha alma gêmea morra. Também me preocupo com a falta de casas de repouso e instituições de cuidado prolongado voltados para nossa comunidade. Atualmente, se algo acontecesse e eu precisasse ficar em uma dessas casas, seria difícil encontrar um lugar onde eu me sentisse confortável. Tenho esperanças que nos próximos vinte anos algo mude, mas gostaria que isso ocorresse o quanto antes.”
Dee Dee Ngozi, 55 anos, Atlanta
“Esta real plenitude que sinto hoje, sabendo a razão de eu ser diferente, é porque eu expressei meu espírito para esse mundo. E eu não sabia como Deus se sentia sobre isso, mas acredito em Deus, tive uma criação muito espiritual, e falo com o Espírito Santo constantemente. Foi Ele quem me tirou do bairro de Lower West Side, onde eu trabalhava como garota de programa, e me permitiu chegar até a Casa Branca.”
Duchess Milan, 69 anos, Los Angeles
“Minha mãe dizia que, quando morremos, ficamos de pé diante da luz e devemos nos perguntar: 'Fui digno de mim mesma, ao reconhecer que gosto de mim?' Certo? Eu gosto de mim. Certo? Eu eu vou dizer a todos os anjos, querida: 'Eu gosto de mim.' Eu não machuco ninguém, não faço mal a ninguém. Já enfrentei tudo o que pude, o máximo que pude. Então encontre isso dentro de si e passe um tempo com essa pessoa. Erros, defeitos, desejos, tudo, isso não importa. Não vamos ter tudo. Ninguém tem tudo. Certo? Mas o que temos podemos cuidar e polir. Podemos polir o que temos, querida, até brilhar tanto que vai cegar as outras pessoas.”
Hank, 76 anos, e Samm, 67 anos, North Little Rock, Arkansas
"Acontecia muito antigamente, sabe, havia muitas pessoas como eu. Os outros apenas esperavam que nos tornássemos 'tias solteironas' ou 'meninos afeminados', ninguém conversava com você sobre isso. Meu pai dizia coisas como: 'Ah, esse aqui nunca vai casar.' Se eu ouvisse ele falando essas coisas hoje em dia, falaria: 'Ah, ele está falando que sou gay.' Só que naquela época não tínhamos palavras para esse tipo de coisa." —Hank
"Hank e eu estamos juntos há 44 anos. Eu a encontrei no oeste de Michigan. Ela era diferente de todo mundo que eu já havia conhecido, e eu soube na hora que ela nunca mais sairia da minha vida. Rolou essa conexão imediata, que sempre esteve e sempre estará presente. O modo como somos hoje, nós já começamos dessa maneira." —Samm
Gloria, 70 anos, Chicago
“Sou uma senhora de idade. Cheguei aos 70, e muitos de nós não chegam a essa idade. Não chegam nem perto. Muitos morrem por causa de drogas, doenças sexuais ou são assassinados. Me perguntam coisas como: 'Então, Mamãe Gloria, como você sobreviveu?' E eu respondo: 'Sobrevivi com o amor da minha família e a graça de Deus.' Foi assim que sobrevivi. Você precisa ter um pouco de estabilidade e ter um pouquinho de classe, um certo charme. Eu nunca estive no armário. A única vez que entrei no armário foi para escolher um vestido. E logo em seguida saí e o vesti.”
Lindo, não é mesmo? E sempre é bom lembrar: seja idosos trans, sejam jovens gays, seja o que for, todo mundo merece respeito, certo?