Kaê Guajajara lança primeiro álbum visual indígena da música brasileira

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Kaê Guajajara

Responde aqui pra gente: você já ouviu música indígena brasileira? Infelizmente em um país onde as pessoas escutam canções de todo o mundo, é até feio admitir que pouca gente escuta o que é produzido aqui. E não falamos só de música popular brasileira e sim o trabalho de quem sempre esteve aqui, mesmo antes do Brasil se Brasil. E uma dessas promissoras e talentosas artistas é Kaê Guajajara, que acaba de lançar o primeiro álbum visual da música brasileira.

O premiado e elogiado Kwarahy Tazyr, primeiro disco completo de Kaê Guajajara, divulgado em 2021, ganha agora uma nova camada de compreensão a partir do seu lançamento em formato de álbum visual. Produzido com smartphones, por criadores indígenas do selo AZURUHU, o projeto inaugura uma nova fase na carreira da cantora, ativista, compositora, escritora e atriz. Para esse trabalho, ela também assume o papel de roteirista, juntamente com Kandu Puri, que é responsável pela direção. A estética apresentada ganha forma no paradoxo de territórios indígenas, hoje ocupados por favelas e paisagens urbanas.

Divulgado em estreias semanais, este é o primeiro registro do tipo estrelado por uma artista indígena na história da música brasileira. A primeira faixa retratada, “Minha Missão”, foi ao ar em julho. Desde então, “Meu Respirar” e “Home” já foram disponibilizadas ao público. A mais recente, lançada no último dia 12 de agosto, “Sol em Leão” chegou consciente das armadilhas da colonização, expressando a plenitude de autoestima e retomada dos povos originários.

Kaê Guajajara enaltece suas raízes entre os povos originários

Engajadora da Música Popular Originária (MPO) e nascida em Mirinzal, no Estado do Maranhão, Kaê Guajajara se mudou para o complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, ainda criança. Teve sua vida marcada por preconceitos e racismo por conta de seus traços e origem. Mais que uma expressão artística, ela vê na música uma forma de resistir e se manifestar contra o silenciamento dos povos originários imposto pelos colonizadores e perpetuado até hoje pelos seus descendentes.

“Kwarahy Tazyr” significa “Filha do Sol” em zeeg’ete, língua do povo indigena Guajajara, e oferece uma nova perspectiva sobre a colonização a partir de composições originadas dos sonhos de Kaê – uma técnica ancestral de se receber os cantos.

Kaê Guajajara

“A construção da narrativa do álbum visual está sob o realismo do que significa ser indígena no Brasil de 2022, particularmente no campo de invisibilidade e apagamento, onde ser um corpo indígena na favela ou em contexto urbano parece não ser possível, sendo esta distinção historicamente articulada pela colonização para romper forças coletivas. A colonização invade corpos, espíritos e pensamentos de todos que estão no Brasil, independente de etnia ou território, sendo indígena ou não. Aonde estão hoje e como vivem os povos indígenas perseguidos, expulsos ou que reivindicam aos legisladores 1 centímetro de terra demarcada?”, questiona Kaê.

A artista aborda em suas composições uma realidade que vai muito além do noticiário e das lutas dos povos aldeados pela demarcação de terras. Aqui, ganha protagonismo a vivência daqueles que cresceram sem terra por conta do conflito com invasores e se exilaram nas favelas das capitais brasileiras ou mesmo que já nasceram nelas por terem suas gerações separadas pela colonização.

O álbum “Kwarahy Tazyr” está disponível para streaming nas principais plataformas.

Fotos e vídeo: Tainá Sampaio/Reprodução

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