Cláudio Silveira – O homem por trás do DFB!

Moda

Dinâmico, bem sucedido, criativo, inteligente e sempre bem humorado. Assim é Cláudio Silveira, um dos nomes mais importantes no cenário da Moda do Nordeste. Com apenas 15 anos já trabalhava nesse segmento, em grandes grifes como Yes Brasil. Com espírito empreendedor, aos 18 anos montou a primeira loja. A paixão por Fortaleza aconteceu aos 19 anos, durantes uns dias de férias por aqui. Antes de fixar residência de vez na capital cearense, Cláudio voltou ao Rio de Janeiro e criou a S27, loja super renomada e famosa que, em apenas 4 anos, virou febre nacional. Aos 23 anos já era dono de um pequeno império! Depois de passear por diferentes setores do mundo da moda, em 1998 foi o momento de criar a sua equipe de produção. Profissional super reconhecido, marido afetuoso e pai coruja, Cláudio Silveira – o idealizador do Dragão Fashion Brasil – fala sobre o desenvolvimento da moda no Ceará, novos estilistas, trabalhos, família, filhos e – claro – conta novidades em primeira mão! Conheça mais sobre o homem que está por trás do DFB!

No Pátio: São 13 anos de Dragão Fashion Brasil. Como foi a trajetória desse evento, que é um dos mais famosos do Nordeste?

Cláudio Silveira: São 13 edições! São edições crescentes e olha que é uma luta grande para conseguir chegar ao terceiro maior evento do país e ter respeito, que é o principal de tudo.

NP: Como é a produção por trás do evento?

CS: Leva muito tempo! A produção do próximo já começa no dia seguinte do término dessa edição porque o que está acontecendo hoje no mercado: eu estourei a nossa participação porque existe São Paulo e Rio porque todo mundo brinca agora que é o São Paulo Fashion Rio! Porque é tudo junto, com o mesmo produtor e mesma empresa que comanda os dois eventos. Eles são focados totalmente no comercial. Não tem como ter nenhum tipo de comparação ou comparativo. A gente está falando de 20 milhões de habitantes contra 2. Enfim, é um desparato de comparação. Não deveria ser feito. Eu fui observado por toda a imprensa, pelo ministério da cultura e por toda a imprensa internacional, como o maior evento autoral do país. Eu não tinha o comércio na veia, mas eu tinha uma preparação completamente focada, original do trabalho autoral em cima dos estilistas. Trabalhos em cima das faculdades. Somos o primeiro evento do país que se preocupa realmente com as faculdades de moda do país porque até então os eventos maiores – que eram SFW E Fashion Rio não davam essa abertura aos alunos. E agora eu acho que o Dragão está em uma posição muito privilegiada porque depois dessas edições todas, ele realmente mostrou que sem cultura, sem raiz e sem essa cultura de moda que no caso é do Nordeste, ele não seria o que ele é.

NP:É um grande desafio fazer com que o evento mantenha essa raiz nordestina tão forte e ao mesmo tempo seja visto como um dos maiores eventos de moda do país?

CS: Esse é o maior desafio! Hoje a gente brinca que é China para todo lado. É China no Rio de Janeiro, é China em tudo quanto é lugar! É muito fácil trabalhar com tecido de poliéster, com tecido de viscose, de poliamida… Agora eu quero saber quem trabalha bem com tecido de algodão, com a linha de algodão, com a linha crua, com material que dá resultado. Então, o que foi que eu fiz: eu ensinei que é muito importante a modelagem, que é muito importante a mistura de tecidos e mostrei a necessidade que as artesanias entrassem na indústria. Disso tudo foi surgindo resultado.

NP:Como surgiu a ideia de criar a Ksa do Dragão, que une sustentabilidade, solidariedade e moda?

CS: A necessidade! Nordestino tem necessidade sempre de sobrevivência. Se a gente tem uma verba mínima – seja do Governo, do fulano, do beltrano – para poder estar trabalhando, a gente tem que se virar com o que tem. Se a gente tem uma empresa que só dá para a gente o tecido, a gente tem que se virar com o que tem. Nós não estamos no Rio, nem em São Paulo, que têm empresas gigantescas, que querem aparecer nos eventos, onde vão um número alto de pessoas. E olha que a gente consegue lotar aquele Centro de Convenções. Seja com obra ou sem obra, porque eu dou meu jeito, eu decoro do lado de fora, eu decoro a rua, eu consigo patrocínio do Salinas, eu levo divã para dentro do evento, enfim! Esse ano foi muito melhor. Inclusive tenho que agradecer a Lívia Saboya Gomes, que foi uma grande incentivadora não só da moda, mas de ações modernas e corretas. Ela é muito direta. Seja política, seja moda. Ela é muito danada, muito correta. E isso me deixa com muito prazer, em ter essa parceria com ela. Foi onde a gente descobriu que tem cada vez mais focar na nossa identidade cultural, regional, brasileira.

NP: Mas, isso e uma coisa que está mudando? Diminuiu um pouco esse preconceito. Profissionais do Brasil inteiro voltaram os olhos para o Nordeste, em especial o Ceara.

CS: Estão atrás da nossa renda, do nosso bordado. Eles não conseguem ficar fazendo só com tecido importado. Com essa invasão muito grande da cultura que está acontecendo, com gente que vai buscar moda em Miami, nos outlets ou em outros lugares, isso representa uma invasão muito grande de importado. É basicamente fast food de roupa! “Fast Food Fashion” que eu chamo. Já uma peça de algodão ou bordada ela tem sua garantia de uso porque não sai de moda. Não to focando no artesanato, que é muito bem vindo. Mas, sem ser caricato. Ele tem que ser colocado como a gente faz: na indústria, por designers, com uma nova posição no mercado e tem seu valor.

NP:Como você o desenvolvimento da moda no Ceará?

CS: Durante essas 13 edições do Dragão houve um crescimento bem grande da moda. Não da indústria. Por que da moda? Com a abertura de novas faculdades, abertura de novos cursos tecnólogos… várias possibilidades para que isso acontecesse. Mas, não se tem uma notícia positiva, acho que no país inteiro, quanto ao crescimento industrial. Você tá vendo a confusão que está agora? São Paulo entrando em greve, baixarias grandes. O pessoal está revoltado porque tem uma invasão chinesa e dos importados no nosso país, que está quebrando a indústria brasileira. Essa industria local e brasileira tem seus problemas seríssimos para enfrentar essa grande concorrência, uma concorrência desleal, que vem da China e de outros lugares.

NP: Como você define o papel do Dragão Fashion?

CS: A gente tem que trabalhar a moda porque isso dá ânimo para as pessoas melhorarem seu produto! O papel do Dragão Fashion é animar, impulsionar e cooperar com essa visibilidade do nosso estado, com a visibilidade da nossa indústria da moda – essa indústria que vem dos designers, dos fotógrafos, dos alunos das faculdades. Para você ter uma ideia – vou falar isso em primeira mão para Lívia – estamos formatando um grupo de participantes para o Reality Project Show e eu estou encaixando de Dona Guiomar Marinho, uma senhora de idade, a Yuri Costa, de 21 anos. Os extremos e as pontas desses designers, dessa criação.

NP: Isso prova que a moda – não em termos de indústria, mas de tendências – ela está muito democrática?

CS: Ela está muito democrática até porque ela tem que ser. É um concurso de designers. É tão globalizada a coisa, que você acaba tendo: quem sabe fazer e quem não sabe fazer. Não existe mais o meio termo. Existem os que sabem, os que tem na veia, os que tem bom gosto; existem os que tem bom gosto porque são preparados para ter bom gosto, porque viajam porque conhecem e existem os que se viram para ter bom gosto, que nunca saíram daqui de Fortaleza – como é o caso de alguns estilistas – e tem uma qualidade incrível, bom gosto, feeling.

NP: O Dragão é o maior evento de moda no Nordeste. Você acredita que ele ajuda a propagar outros eventos e a incentivar o surgimento de novos eventos?

CS: É muito difícil fazer um evento. Seja no Nordeste ou fora dele. Os eventos menores que existem não têm tanta expressividade dentro do mercado. Eles têm que existir para fomentar esse mercado, para despertar dentro dessa pequena indústria os grandes empreendedores que estão iniciando. Existem muitas indústrias que são enormes, que fabricam muito, mas não tem estilo nenhum; e tem as industrias pequenas que possuem um estilo absurdo. Depende muito. Eu acho que o Dragão abriu os olhos de todos os outros estados – tanto é que eu estou trazendo para o Dragão toda a região do Nordeste e o SENAC também traz esses estados – para que a gente possa fazer um Dragão penando moda em todos os outros estados.

NP: E como surgiu o tema desse ano?

CS: “Consciência Criativa”, esse é o tema desse ano. A palavra de ordem da Secretaria de Cultura é a economia criativa. Falar de economia criativa é falar da possibilidade de uma pessoa ou de um grupo de pessoas – empreendedor ou empreendedores – se aproximarem um pouco da moda ou, de alguma forma, criar uma condição de sobrevivência, de trabalho. A consciência criativa, para mim, tem essa colocação. Pensamos em conscientizar criativamente a industria da moda de que ela deve ser renovada, ampliada, reciclada e se envolver com novos mercados, novas possibilidades, novos saberes e daí sai a criatividade dos designers brasileiros e principalmente os do Nordeste, que com palha e um pedaço de algodão conseguem fazer um produto, enquanto outros lá no Sul tem que arrumar um material especial – de preferência importado – para poder ser respeitado.

NP: Como é que está a expectativa para o DFB 2012?

CS: A indústria criativa é tudo de bom! Essa história do Reality Projetc Show vai dar o que falar! Aas festas também, que pela primeira vez no evento nós vamos ter o baile funk de máscaras do Órbita, que vai ser um escândalo no dia 10. O lançamento da Elle, que vai ser um baita de um coquetel de abertura do evento, que é para convidados e a festa de encerramento, com um grupo que faz a Guarderia – um pessoal super bacana. Então, pela primeira vez, esse lado de entretenimento.

Helena e Cláudio Silveira

NP: E trabalhar junto com a sua esposa como é?

CS: É um prazer! Minha mulher é muito forte. O que ela tem de frágil como mulher e como pessoa – que ela é um doce – ela tem de forte nas decisões, nas ações. Ela é muito correta, objetiva. Eu já sou muito explosivo e muito tímido. Mais engraçado é isso, que eu sou muito explosivo, falante, domino bem a questão da palavra por conta do meu trabalho. Mas, o meu normal é ser tranqüilo, tímido dentro de casa.

NP: Vocês levam trabalho para casa?

CS: A gente combinou que as sete horas da noite a gente desliga o celular. A gente leva trabalho para casa algumas vezes, principalmente Dragão, mas a gente tenta desligar mesmo. Nós temos dois filhos que já são grandes. Nós somos muito amigos! Quando a gente quer se desligar a gente vai ao cinema, conversa e acha uma possibilidade de filme. Nós somos cinéfilos! Trabalhar com Helena é ótimo, mas as vezes existem problemas, claro. Mas, quando existe parceria, noção da importância de cada um e respeito por isso, as coisas funcionam.

NP: Como você define:
-Cláudio Silveira profissional:
CS: Perfeccionista, workaholic doente. Honesto no que faz, em tudo o que coloca a mão. Curto e grosso, porém justo. Não tenho tempo. O tempo é inimigo do meu trabalho. Então, não posso achar que eu tenho tempo para ficar passando a mão na cabeça de alguém ou ensinando duas, três, quatro vezes.

– Cláudio Silveira marido:
CS: Acho que eu ainda deixo a desejar, coitada dela! (risos). Falta tempo para dar mais atenção, mas eu tento ser correto e amigo.

– Cláudio Silveira pai:
CS: O pai é muito chato, eu acho! Eu posso dizer que sou chato porque cobro muito deles. Embora eles tenham uma liberdade muito grande e isso tornou os dois altamente amigos. “Pai doido, filho careta”, tem essa história ou “Pai careta, filho doido”, não é sempre assim? Então, eu sou um doido e os dois são caretas! (risos). Os dois já trabalham no mundo da moda. Mas, ainda não se decidiram. A Maria Júlia quer ser jornalista e ela é bacana para caramba, toma conta do DFHouse. O João é mais comunicativo e por isso pode ser que ele pegue mais a questão das produções. Mas, ainda não é a praia dele, ele quer estudar fora. Eu não forço, deixo bem a vontade!

NP: Um sonho
CS: Eu acho que sou uma figura realizada. Mas, um sonho real mesmo… Ser respeitado nacionalmente com o Dragão Fashion, mostrando que o Nordeste é o Brasil

NP: Um lugar
CS: Londres

NP: Um filme
CS: Todos! São tantos e eu sou bem eclético em relação a cinema, de aventura a romance, ação, luta. Tenho paixão por cinema. O que me marcou pela proposta e forma como foi elaborado foi Tropa de Elite. Achei muito forte.

NP: Uma música
CS: Música brasileira. Qualquer uma!

NP: Uma comida
CS: Comida italiana. Gosto muito! Adoro todo tipo de massa.

NP: Um estilista favorito:
CS: Aquele que cria uma coleção e que não faça releituras de nenhum outro estilista

NP: Ser feliz é
CS: Ser amado. Amado pelas pessoas, pela minha família e ter muita saúde,que é o mais importante.

 

Fotos: Reprodução

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