A mostra, que tem curadoria do próprio artista, um dos mais importantes xilogravadores brasileiros vivos, é um passeio pelos trabalhos realizados nos últimos 27 anos, com foco na produção realizada desde 2005. Apresenta 168 obras: 132 xilogravuras em diferentes formatos, 6 matrizes e 30 trabalhos realizados com colagens e desenhos.
Ao reunir uma etapa de grande autonomia da trajetória de Rubem Grilo, a exposição revela um artista mais profundo e amadurecido. Nela, o público terá a oportunidade de conhecer uma primorosa seleção de obras, cujos temas e abordagens ganham ampla densidade e configuração dramática, adquirindo abrangência filosófica. Paralelamente ao mergulho em questões humanas fundamentais, depura-se do processo criativo de Rubem Grilo este fato plástico essencial: a síntese gráfica como elemento construtivo da visualidade que caracteriza a sua obra.
Rubem Grilo apresenta na CAIXA Cultural Fortaleza xilogravuras, desenhos e colagens de alto padrão técnico, gráfico e visual. Trata-se de relevante conjunto de seus 42 anos de atividade profissional, que exemplifica o estágio de amadurecimento alcançado por sua obra. Embora não seja uma retrospectiva, a exposição permite avaliar a coerência e a singularidade de seu trabalho, que incluem a depuração da linguagem gráfica e os contínuos desdobramentos decorrentes de uma trajetória em constante processo de acumulação.
De grandes dimensões e ainda não entintadas, as seis matrizes exibidas – placas de madeira por intermédio das quais as cópias xilográficas são impressas – são um dos pontos altos da mostra. O visitante, ao ver o desenho e a gravação nessas placas, os quais constituem etapas preparatórias para a impressão gráfica das gravuras, tem acesso tanto à técnica empregada quanto ao primeiro registro feito pelo artista. Isso é muito relevante porque, após a entintagem das matrizes para a realização da tiragem, esse registro inicial acaba sendo perdido em razão do emprego de solventes na limpeza das mesmas.
Os desenhos e colagens, realizados entre 2009 a 2012, reúnem outra importante vertente do trabalho de Rubem Grilo presente na exposição. A mudança de tratamento e de visualidade, bem como o diálogo entre diferentes mídias, estabelecido pela síntese gráfica no pensamento da imagem, motivam o espectador a estabelecer sua própria leitura do universo visual criado pelo artista.
Como explica o próprio Rubem Grilo, o componente temporal da mostra reforça a ideia de um processo que inclui a busca de afirmação de identidade e, ao mesmo tempo, transformações em aberto: “Escolhi a xilogravura pelo fato de ela ser simples, direta, quase rudimentar, e me permitir o envolvimento com duas experiências básicas e complementares, o desenho e a gravação. Não se trata de uma escolha nostálgica. Tem a ver com uma visão de mundo, a concentração em mim mesmo, propiciada pela intensidade da prática manual e do olhar, em busca do aprimoramento e autoconhecimento por meio da dilatação da experiência”.
O artista realizou em 2001, no MAUC, a exposição Arte Menor e Objetos Imaturos, composta de aproximadamente 600 xilogravuras em formato miniatura. A exposição atual, na Caixa Cultural, é a segunda grande exposição do artista na cidade. Segundo Luiz Eduardo Meira de Vasconcellos, que apresenta a exposição, “a trajetória de Rubem Grilo alia à síntese gráfica e visual uma paciente e ininterrupta indagação da condição humana, cujos desdobramentos dignificam a função sociocultural exercida pelo artista. […] Sem abrir mão do rigor e da inventividade que caracterizam essa indagação, suas recentes colagens têm ampliado os limites plásticos a que o papel como material de trabalho normalmente se submete”.
Sobre Rubem Grilo
Nascido em Pouso Alegre , Minas Gerais, em 1946, Rubem Grilo é um dos principais expoentes da gravura no Brasil. Realizou cerca de 70 mostras individuais e participou de mais de 120 exposições coletivas no País e no exterior, entre as quais duas Bienais de São Paulo (1984 e 1998), o Pavilhão Hi-Life na Feira Internacional de Hannover, Alemanha, em 2000, e o Festival Europalia Brasil, na Bélgica, em 2011.
Entre 1973 a 1985, ilustrou as páginas de importantes jornais do país, entre os quais Opinião, Movimento, Pasquim, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo. Em 1985, lançou o livro Grilo: Xilogravuras. Em 1995, criou, para a renovação do projeto gráfico do jornal O Globo, as vinhetas da agenda cultural e do horóscopo. Desde 2008, publica aos domingos na crônica de Ferreira Gullar no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo. Em 1990, ganhou o segundo prêmio da Xylon Internacional, Suíça e, em 2002, o prêmio Golfinho de Ouro do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Em 2011, recebeu o Prêmio de Artes Plásticas Marcoantonio Vilaça, referente à aquisição de 500 xilogravuras para o Gabinete do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Tem trabalhos publicados em revistas especializadas, como Graphis, Suiça; Who’s Who in Art Graphic, Suíça; Novum Gerbrauchsgrafik, Alemanha; Print, USA; e Idea, Japão.
Como curador, realizou diversas exposições, como Impressões – Panorama da xilogravura brasileira, no Santander Cultural, em Porto Alegre (2004); Pensar Gráfico, no Paço Imperial (1998), Rio de Janeiro; e o evento Mostra Rio Gravura (1999), que reuniu 70 exposições em 45 instituições culturais da cidade, composta de aproximadamente 5 mil gravuras nacionais e internacionais.
Serviço:
Data: 15 de janeiro a 17 de Fevereiro
Local: Caixa Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta 287, Praia de Iracema) – galeria principal
Visitação: terça a domingo, das 10h às 20h
Contato: (85) 3453-2750 | www.caixa.gov.br/caixacultural
Fotos: Reprodução