O Mini Museu Firmeza foi o local escolhido pelo artista Nilo Firmeza, o Estrigas, para o lançamento do livro e documentário NicEstrigas – Arte e Afeto. Falecido no último dia 2, aos 95 anos, Estrigas terá respeitado o seu desejo. No próximo sábado, 25 de outubro, a publicação, organizada pelo amigo, artista plástico e poeta Bené Fonteles, será lançada às 10 horas, sob a sombra das mangueiras do sítio no Mondubim, que no último dia 9 recebeu as cinzas do artista. O evento é aberto ao público.
“Esta será uma homenagem ao Estrigas e Nice, com a presença de amigos, familiares, artistas, apreciadores das artes e freqüentadores do sítio que abriga o Mini Museu”, diz Patricia Veloso, da Terra da Luz Editorial, responsável pela publicação e pela exposição homônima, que foi aberta em setembro de 2013 no Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura com a presença de Estrigas. “A exposição foi um primeiro momento do processo de elaboração do livro, realizada na fase de catalogação das obras; foi um recorte do que é apresentado agora na publicação”, explica a editora e coordenadora do projeto, que foi aprovado pelo Edital Mecenas do Ceará e recebeu o apoio cultural da Coelce. Já o documentário recebeu apoio do Banco do Nordeste, Newland e Guanabara através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
O projeto foi iniciado em 2012, como uma homenagem ao casal que teve papel definitivo nas artes plásticas cearenses. Mesmo após o falecimento de Nice, em abril de 2013, a produção da exposição, do livro e documentário teve continuidade com a colaboração direta de Estrigas.
Em 180 páginas, NicEstrigas – Arte e Afeto tem mais detalhes da cronologia dos dois artistas, quededicaram quase 60 anos de vida juntos a receber as pessoas no sítio no Mondubim, onde moravam e fundaram em 1969 o Mini Museu Firmeza. Ali, eles apresentavam aos visitantes o desenvolvimento do processo das artes visuais no Ceará, da pré-história ao contemporâneo. “Mostravam também os trabalhos deles, mas isso não era o principal”, disse Bené Fonteles, por ocasião da exposição, da qual foi o curador. “O nome diz muito, ‘arte e afeto’, porque não se pode mostrar a história de Nice e Estrigas sem falar em afetividade”, explica Bené Fonteles.
O livro conta com fotografias que retratam a vida do casal no sítio, onde recebiam muitos artistas, intelectuais, educadores, estudantes e tantos outros que os visitaram, para quem foram educadores da percepção e da sensibilidade. Nice acolhia a todos com suas boas histórias, suas comidas, suas flores e sua generosidade; Estrigas, com sua conversa sobre arte, seu discernimento como crítico e historiador, e sua experiência política. No livro estão presentes imagens dos espaços da residência, como a cozinha e a antessala, além de fotos de Nice e Estrigas no sítio. Segundo Bené Fonteles, de fato, tudo era um mini museu, mesmo as áreas íntimas da casa, com exceção do quarto e o ateliê, únicos espaços que não ficavam abertos à visitação.
O livro é composto por fotografias que mostram a trajetória da arte produzida por Nice e Estrigas, desde o início dos anos 1950 até este ano, no caso de Estrigas. São imagens de obras pertencentes ao Museu da Universidade Federal do Ceará (MAUC), à Pinacoteca do Estado e a coleções particulares.
De Nice, estão suas pinturas, mandalas, roupas e bordados,que são considerados verdadeiras obras de arte. Está também a “Missa”, como Estrigas chamava a instalação que ele compôs em um dos recantos do Mini Museu dias após a partida de Nice. O espaço costumava ser dedicado à obra da artista, com pinturas feitas desde o início dos anos 1950 até os anos 2010, além de fotografias e prêmios. Estrigas ampliou a instalação e acrescentou, entre outras peças, uma das camisas bordadas que ela própria usava, na qual marcou o símbolo do seu signo, câncer. A “Missa” reconta a trajetória de Nice como artista, passando pelas várias fases, como a das máscaras, até a mais recente. Lá estão também retratos que Estrigas e outros artistas fizeram da homenageada.
De Estrigas, além de suas pinturas, o livro mostra a diversidade de sua atuação também como crítico e historiador, apresentada em sua produção intelectual como autor de cerca de 20 livros, em sua maior parte sobre a arte e os artistas do Ceará.
O livro deixa evidente ainda a forte relação entre arte e natureza, a consciência ecológica que motiva a preservação de um lugar capaz de reproduzir uma Fortaleza de outrora, como um último reduto de criação e liberdade, de afetividade e entrosamento com o outro. “Só mostrar arte não é história. É arte e vida. Não há separação. Eles propunham isso o tempo inteiro, fazer da vida uma obra de arte”, disse Bené Fonteles.Com a morte de Estrigas, o lugar passou a ser gerido por sua sobrinha-neta, a antropóloga e produtora cultural Rachel Gadelha.
Além de fotografias da vida, afeto e obra de Nice e Estrigas, o livro apresenta textos de Bené Fonteles, Marly Vasconcelos, Gilmar de Carvalho, Carlos Macêdo, Milton Dias, Yuri Firmeza, Flávio Paiva. A publicação tem encartado um DVD do vídeo realizado pelo fotógrafo e documentarista Tibico Brasil com depoimentos de Nice e Estrigas.
ESTRIGAS E NICE
Nascido em Fortaleza em 1919, o pintor e ilustrador Nilo de Brito Firmeza (Estrigas) era formado em odontologia, profissão que exerceu e lecionou na área por cerca de 15 anos. Estrigas fez seus primeiros cursos de pintura e desenho em 1950 na Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), onde conheceu Nice, também aluna da SCAP, com quem se casou e viveu por mais de meio século, até o falecimento da artista em 13 de abril de 2013.
Bastante atuante no movimento artístico local e nacional, Estrigas participou de inúmeras exposições e salões de artes e tem obras em acervos particulares e museus Brasil afora. Entre as homenagens que recebeu, destacam-se Medalha do Mérito Cultural, da UFC, Medalha Boticário Ferreira, da Câmara Municipal de Fortaleza, e a Sereia de Ouro, do Grupo Edson Queiroz.
Publicou cerca de 20 livros, na maior parte sobre a arte e os artistas do Ceará. Entre os quais, “Contribuição ao Reconhecimento de Raimundo Cela” (1988), “A Saga do Pintor Francisco Domingos da Silva” (1988), “Arte: Aspectos Pré-Históricos no Ceará – Uma Contribuição ao Estudo das Artes Plásticas no Ceará” (1989) e “Barrica: O Alquimista da Arte” (1993). Estrigas faleceu no dia 2 de outubro de 2014 aos 95 anos.
Maria de Castro Firmeza (Nice Firmeza) nasceu em Aracati, no litoral cearense, em 18 de julho de 1921. Na década de 1950 foi a primeira mulher a entrar para a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), como aluna do Curso Livre de Desenho e Pintura e de Iniciação à História da Arte.
A pintura e o bordado à mão marcaram a obra desta artista, que atuava também como arte educadora. Transmitia com alegria seus conhecimentos às crianças, o bordado a um grupo de mulheres e a culinária aos visitantes de sua residência, aos quais regalava com suas receitas criativas.
Crianças, flores e muitas cores eram traços sempre presentes em sua arte, tendo participado de inúmeras exposições no Brasil e no Exterior. Os bordados (verdadeiras obras de arte, que chamava de pintura em linha) renderam uma exposição particular, em 2005, nomeada “Mandalas”. Em 2007 Nice recebeu da Secretaria da Cultura do Estado (Secult) o título de Tesouro Vivo. Nice Firmeza faleceu em 13 de abril de 2013, aos 91 anos.
Em 1969, o casal fundou o Mini Museu Firmeza em seu sítio no Mondubim. Mais de 600 peças compõem o acervo, na maioria de artistas cearenses, entre os quais Vicente Leite, Aldemir Martins, Chico da Silva, Zenon Barreto, Barrica, Mário Barata, Heloisa Juaçaba, Sérvulo Esmeraldo e Hélio Rôla. O acervo possui ainda reproduções, catálogos e livros relacionados às artes no estado do Ceará.
Serviço:
Lançamento do livro “NicEstrigas – Arte e Afeto” (Terra da Luz Editorial, 2014)
Data: 25 de outubro
Hora: 10Hrs
Local: Mini Museu Firmeza (Linha Férrea, 259, Mondubim, Fortaleza). Livro à venda no lançamento por R$ 80,00. O evento é aberto ao público. Informações: (85) 3261.0525.
Livro “Nicestrigas – Arte e Afeto”
180 páginas. Capa Dura. Formato – 23x28cm. ISBN – 978-85-88112-16-2. Editora – Terra da Luz Editorial.
Fotos: Reprodução/Divulgação