Por mais que o preconceito infelizmente reine em nosso país, é preciso reconhecer que a cultura da favela existe. E mais do que isso, é preciso levar a mais pessoas a ideia que mostra que favela não é só violência e tráfico de drogas. Também há muita coisa boa na comunidade, tanto que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acabou desenvolvendo um verdadeiro dicionário com os termos utilizados nas comunidades, o WikiFavelas.
Também conhecido como Wikipédia da Quebrada, o WikiFavelas é um projeto da professora Sônia Fleury, da Fiocruz. Dentro dele, está o Dicionário de Favelas Marielle Franco. Ele traz, assim como em qualquer outro dicionário, uma lista de verbetes utilizados nas comunidades e seus respectivos significados.
A ideia é agrupar em um só local várias concepções ligadas ao universo das favelas. E o dicionário recebeu esse nome em homenagem à vereadora assassinada em 2018, que era grande apoiadora e entusiasta do projeto. Atualmente, já são mais de 200 termos cadastrados, todos com links e explicações sobre uso e contexto.
O site funciona de forma bem parecida com a Wikipédia sendo, inclusive, uma plataforma colaborativa. Ou seja, qualquer pessoa pode escrever sobre os termos relevantes em sua comunidade. Para isso, basta se inscrever na plataforma e escrever um texto de 400 palavras sobre temas ligados à favela. Uma vez aprovado, o autor pode passar a incluir verbetes na plataforma. E, para isso, deverá seguir o modelo que é explicado no próprio site.
Cada pessoa cadastrada pode enviar quantos verbetes quiser, desde que todos tenha relação com o cotidiano nas favelas e comunidades. E sobre o nosso título, veja abaixo o que encontramos lá sobre palavras como coió e rolezinho:
Coió
“O termo “coió” – que, simplificadamente, pode ser entendido como sinônimo de homofobia – tem origem na linguagem conhecida como “pajubá”, uma fusão da língua portuguesa provenientes de diversos idiomas africanos. Trata-se de um linguajar informal, negro, ligado a religiões de matriz africana, como o candomblé – que, curiosamente, foi apropriado por parte da comunidade LGBT como um linguajar próprio. (…)”
Rolezinho
“Era para ser um simples passeio entre amigos, mas virou uma afirmação de identidades e estilos quando estes passaram a ser proibidos de circularem em locais como os shoppings da cidade. Hoje, é uma manifestação cultural e conjunta da juventude para afirmação e busca pelo direito à cidade. Virou a afirmação de identidades, de estilos, além de mostrar que é necessário atravessar os muros invisíveis da cidade e é possível se manifestar em espaços ditos particulares, fechados ao grande público. (…)”
Fotos: Reprodução