Marina Silva: A mulher por trás da política

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Para a entrevista de estréia, o Portal No Pátio traz a Ex-Senadora da república Marina Silva. Marina é um grande exemplo de mulher e figura política, daqueles que nos fazem ter orgulho de ser brasileiros! Em quase 30 anos de vida pública, Marina Silva ganhou reconhecimento dentro e fora do país pela defesa da ética, da valorização dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Uma reputação construída em mandatos de Vereadora, Deputada Estadual e Senadora – eleita sempre com votações recordes – e no período em que esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, entre janeiro de 2003 e maio de 2008.

Marina nos recebeu em seu hotel no Rio de Janeiro durante um almoço, entre um compromisso e outro de sua agenda lotadíssima. Mesmo com o tempo corrido, a ex-senadora esbanjou simplicidade e simpatia ao mostrar um lado que pouca gente conhece, falando sobre sua vida pessoal, família, rotina, gostos e projetos para o futuro! A seguir, você confere na íntegra a entrevista com Marina Silva:

Lívia Saboya: Marina, um grande diferencial seu em relação a outros políticos de renome nacional, é a sua origem humilde. Como você acha que sua infância, vivida na Amazônia, influenciou na sua personalidade e atuação política?

Marina Silva: Existem dois tempos dentro de mim, o tempo da floresta e o tempo da cidade. O tempo da cidade passa muito rápido, é veloz; a gente vai para o trabalho e volta do trabalho, pega ônibus ou carro, enfim… e as informações também circulam muito rápido ! Já lá, onde eu fiquei até os 16 anos, a gente demorava a receber as informações. Passava muito tempo processando essas informações e as distâncias também eram muito grandes, não é? A casa mais próxima que tinha da minha, ficava a uma hora e meia andando na floresta, a pé, e as outras ficavam bem mais distantes. Então, misturar essas duas coisas eu acho que deu uma química boa, Pois ao mesmo tempo que você vive essa coisa da exposição e da velocidade, minha criação fez com que eu vivesse também o recolhimento, de elaborar as coisas com mais cuidado. E quando eu penso nessas coisas – voltando para o que você me perguntou – eu sinto que isso me ajudou porque ao mesmo tempo que eu vivo nessa correria, graças a Deus eu consigo manter uma relativa calma e também me da um tempo, muitas vezes, de buscar, de procurar, de responder e de perguntar. Acho que isso na política faz toda a diferença. E aprender a escutar também. Essa coisa de escutar, de olhar para as pessoas e compreender. Talvez isso seja aquela coisa do matuto seringueiro (risos).

Lívia: Quais são suas maiores influências e inspirações de vida?

Marina: Com certeza eu tenho boas inspirações. Da infância eu trago minha avó, meu pai, minha mãe, meu tio xamã (Pedro Mendes, curandeiro espiritual) e essa convivência, na qual eu morava com a minha avó em uma casa cheia de velhinhos. Era uma criança rodeada de idosos, que me contavam histórias e tinham todo tempo do mundo para responder minhas perguntas. Então, essas pessoas são fortes experiências na minha vida. Além do meu pai e da minha mãe serem pessoas muito especiais. Minha mãe pela força e determinação e meu pai pela leveza, pela beleza da pessoa compreensiva que ele é. E na vida pública, depois mais na frente, como D. Moacir – que foi uma inspiração – Chico Mendes e, de uma forma mais ampla, Mandela, Gandhi e Luther King.

Lívia: Você já falou em muitas de suas entrevistas que você vem de família matriarcal, de mulheres de personalidade muito forte que contrastam com a leveza dos personagens masculinos em sua vida. Como é a Marina em casa com o marido e com os filhos?

Marina: Eu acho que o matriarcado da minha família é um matriarcado tranquilo. A minha vó materna era matriarca, depois esse matriarcado passou para a minha mãe – que morreu, infelizmente, aos 36 anos. A minha avó paterna era matriarca, a “vó Júlia”, mas era uma pessoa tranquila, bela, que gostava muito de literatura de cordel. Ela era cearense lá de Messejana, sua conterrânea! E isso acho que elas conseguiram passar para a gente. Então, eu com a minha família sou muito tranquila.

Lívia: A Marina tem pulso forte, é ela quem dá o castigo, o “carão” ou não?

Marina: Lá em casa é mais na conversa. É mais por argumento de ambas as partes. Agora eles já são adultos, a mais nova tem 18, a mais velha tem 29. São quatro filhos. Então, é muito na base da conversa e do convencimento. Eles conseguiram me convencer de muitas coisas. Abertura e negociação, às vezes algumas negativas de ambas as partes também. Eu acho que essa coisa de ser sustentada por eles e ao mesmo tempo eu também os sustento nessa relação de afetividade, de compreensão, às vezes estranhamentos também acontecem, claro. Quem não tem esses estranhamentos é porque de fato não é capaz de afirmar sua personalidade e as suas diferenças. E a gente tem que aprender que nós somos seres diferentes, que somos assim cunhados por Deus para exercitarmos a austeridade, o respeito pelas diferenças. Sabendo que a gente tem também que estabelecer a troca.

Lívia: Uma das premissas na sua casa, então, é o respeito às diferenças?

Marina: O respeito às diferenças é importante. E aprender. Hoje, eu estou na fase de aprender muito com meus filhos.

Lívia: E o que você gosta de fazer no seu tempo livre, que é bem raro?

Marina:As vezes eu vou ao cinema com meus filho. Também gosto muito de ler e fazer o meu artesanato.

Lívia:

Interessante! E quais as peças de artesanato que a senhora mais faz?

Marina:Eu faço mais colar de bijuteria. Brincos, pulseiras… principalmente de semente e de madeira. Isso me dá assim… Um descanso, sabe?

Lívia: Uma coisa que muita gente gostaria de saber: Seu cardápio no dia a dia também é verde?
Marina: A minha alimentação é muito cuidadosa. Por aspectos mesmo de cuidado, mas uma boa parte por cuidados de saúde, pois tenho muitas alergias!

Lívia: Existe a preocupação em comprar vegetais sem agrotóxico ou em locais especiais?
Marina: Sempre que possível, mas não sou do tipo paranóica. Procuro comprar com o máximo de cuidado, usando essa coisa da saúde, mas não sou paranóica em relação a isso.


Lívia: E em casa, quem cozinha?

Marina: Tenho uma pessoa que trabalha em casa e minha sogra, quando está em casa, toma conta da cozinha. Ela cozinha muito bem! Eu não sou uma boa cozinheira, não gosto. Qualquer evento que tem em casa de família, eu já me escalo para lavar a louça depois, que é onde posso contribuir. Os meus dotes culinários não são muito bons. Ainda que a irmã Cristina tenha se esforçado muito para me ensinar quando eu morei no colégio interno. (quando adolescente, Marina pretendia ser freira, chegando a iniciar os estudos nessa área).

Lívia: E a senhora tem manias?

Marina: Minha mania é carregar meus livros para onde eu vou. Gosto de carregar uma malinha cheia de livros que eu compro ou ganho. No campo de meio ambiente, história e na área da psicanálise. As vezes literatura, a minha literatura cristã também que eu prezo muito e as coisas da psicopedagogia. Dentro do avião, se começar a tremer, eu tenho que fazer um manejo de livros. Eu tenho muito medo de avião! (Risos)

Lívia: A senhora também fez uma pós-graduação em psicopedagogia, não é?

Marina: Tenho uma especialização, na Católica. Estou terminando outra agora na Argentina. E fiz uma outra especialização em teoria psicanalítica.

Lívia: A senhora falou que gosta muito de cinema. Qual o último filme que a senhora viu ou o filme que mais marcou? Como é sua relação com cinema, a senhora gosta de filmes estrangeiros ou filmes brasileiros?

Marina: Ah! Eu gosto de um modo geral. Um filme que eu acho que foi muito interessante foi o “Avatar” (James Cameron, 2009). Mas eu gostei muito porque é o uso da tecnologia não para mostrar o que se vê, mas o que se sente quando se entra em uma floresta. E não é fácil mostrar acusticamente, plasticamente, o que se sente e eu acho que James Cameron conseguiu fazer isso de uma forma muito bonita, mostrando essa coisa da realidade e do mistério por trás de todas essas questões!

Lívia: A senhora pratica esportes no seu dia a dia?

Marina: Antes da campanha eu estava fazendo Pilates, mas na campanha eu tive que parar. E eu tenho uma série de exercícios que eu faço já há muito tempo, alongamento… essas coisas! Teve um tempo que eu tentei caminhar, mas era difícil, o tempo sempre era curto… Tentei, mas não dava muito. Eu vou voltar novamente para minha atividade física, até porque eu preciso. Tenho problemas de hipertensão, então meu médico disse que eu tenho que fazer atividade física, sobretudo exercícios aeróbicos. Acho que vou procurar aí uma academia, ou uma esteira para poder retomar as atividades. Eu sou disciplinada!

Lívia: Essa é uma pergunta que recebemos dos internautas: a senhora tem algum interesse em que um de seus filhos siga a carreira politica ou se a senhora se mais em algum deles, ou vê nele um interesse mais aguçado pelo tema

Marina: Eu procuro respeitar muito o que é o interesse deles. Eles todos são envolvidos com o processo político, mas muito intra-familiar, nas discussões, acompanham minha vida e são verdadeiros colaboradores, com opiniões, com críticas, com elogios. Como eu acho que você deve fazer também com sua mãe. Mas até agora não senti que nenhum deles pensem “ah! Eu quero sair para esse lado do cargo eletivo”. Com certeza o envolvimento com a questão ambiental e política no ponto de vista pessoal e militante eles têm, mas até agora não senti. A Moara é muito é muito mais envolvida, mais envolvida com o diálogo. Na época do colégio e faculdade se envolvia com C.A. Ela é muito envolvida, mas não sei se ela vai canalizar isso para a política.

Lívia: Eles seguem carreiras diferentes?

Marina: A Shalom é psicóloga, o Danilo é publicitário, a Moara está fazendo direito e a Maiara tá estudando jornalismo.

Lívia: E a mãe, muito orgulhosa dos filhos?

Marina: Graças a Deus!

Lívia: Bom, falando um pouquinho de moda: a senhora foi agora a convite do estilista Ronaldo Fraga para o São Paulo Fashion Week e sua ida foi muito comentada pela imprensa, a senhora usou uma roupa tradicional do Acre. Como a senhora vê a questão da cultura brasileira em termos de talentos, da nossa produção artística e também dos incentivos do governo?

Marina: Graças a Deus que a arte nasce antes dos incentivos e dos apoios dos governos. Aliás, é porque ela existe que os governos apoiam e incentivam. Claro que nós ainda temos um investimento muito aquém das nossas necessidades nas áreas de educação e cultura. Mas a produção cultural do Brasil é muito relevante, muito significativa e diversificada. É só a gente olhar para os vários “Brasis” que a gente tem, que a gente vai encontrar uma diversidade fantástica em termos de produção artística. E isso se expressa em tudo: da música à literatura, da literatura ao fazer uma roupa com inspiração brasileira, ou um colar com inspiração brasileira. Eu sou uma admiradora da arte, da beleza, dos significados que evocam uma obra de arte e me sinto também no lugar de co-autora, porque quando você observa uma obra de arte, de alguma forma você também tá emprestando a aquela obra alguma coisa. Um significado, uma aprovação, o recebimento de algo. Seja para negar ou para afirmar, de certa forma você é co-autor do artista que se autoriza a apresentar a sua obra.

Lívia: A senhora tem algum estilista favorito aqui no Brasil, que a senhora usa mais?

Marina: Ah! Eu não tenho assim uma… (Lívia completa: “essa coisa de marca? Ela: não, “não”) eu vou compondo meu guarda-roupa com as coisas que eu vejo e que me enamoro delas! Eu boto o olho e gosto. Meu motorista, as vezes a gente ia para os almoços e nas quadras eu ia olhando e via uma coisa e dizia “Ah! Depois vou pedir para a minha filha vir aqui comigo”. No outro dia se eu não comprava, eu com minha filha no final de semana e depois eu dizia “lembra daquela roupa que eu vi na vitrine? Comprei com minha filha” e ele: “Poxa! Como eu queria que minha mulher comprasse as coisas assim a distância, olhando de longe porque ela demora tanto escolhendo!”. Uma vez eu estava no shopping em São Paulo e entrei para comprar uma roupa e ai entrou uma cliente com uma saia e eu disse “Meu Deus! Que saia linda”. E era tamanho P, que é o meu tamanho. Ai eu fui perguntar para a moça “ainda tem essa saia?” ela disse “tem, mas só tem G” ai eu digo “ah! Valha-me Deus!” ai fiquei torcendo, assim uma coisa meio egoísta “tomara que ela não queria, tomara que ela não queira!”. Ela experimentou lá dentro e eu fique esperando e ela jogou lá em cima. Eu disse “não vai levar?” ela “não” eu peguei e disse “já vou levar!”, e a mulher: “a senhora não vai experimentar?”, eu: “não, já sei que está ótima”. Era uma saia preta e branca com uns desenhos muito bonitos e eu já recebi tantos e-mails por causa dessa saia, que a minha filha já me proibiu de andar com a saia e disse “mãe, a saia que todo mundo já conhece. Vai com essa sai de novo?!” (Risos).

Lívia: A senhora diria que essa é sua peça favorita de roupa? A senhora tem alguma peça favorita ou estilo de vestir?

Marina: Acho que meu estilo mantém uma certa coerência. Mesmo na campanha eu procurei manter essa coerência. Tinha ajuda de profissionais, mas não para mudar o meu estilo, sim para procurar e garimpar as coisas que tivessem relação com meu estilo e ai eu fazia as minhas escolhas. Eu tenho várias peças preferidas. Depende do momento.

Lívia: Qual a peça indispensável na mala da Marina Silva?

Marina: Os colares. Eles são indispensáveis. Já fazem parte de mim.

Lívia: Durante a campanha presidencial, muita gente comentou sobre as mudanças no seu visual, dentre elas algumas roupas diferentes e a adoção de um pouco de uso de maquiagem, por conta das fotos. Você ainda mantém essas mudanças ou retornou ao seu estilo mais discreto e natural?

Marina: As mudanças não aconteciam, a diferença é que você trabalha de manhã, de tarde e de noite com exposição, você tem que trocar de roupa e as pessoas era acostumada ali com meu trabalho no Senado. Você tem uma rotina de trabalho. E eu tinha peças que eu acho que davam até discurso! (Lívia: “Minha mãe também!”, sobre a deputada Patrícia Saboya). Era mais para evitar o uso de certas cores que não caíam bem na televisão, com muitas informações. Ainda mais se o programa é de 1 minuto e 20 segundos, aí você escuta a candidata ou você enxerga a candidata?(Risos) Mas não tive grandes mudanças não. E a maquiagem foi uma coisa muito discreta, muito leve porque eu sou muito alérgica e hoje eu voltei a ser o que eu era. Eu não fico me maqueando o tempo todo para pegar um avião, então, voltei a ser o que eu era!

 

Lívia: Recentemente a senhora ganhou o prêmio Shorty Awards do Twitter, de perfil político mais influente do mundo. Dentro desse tema, em sua opinião, o Brasil ainda está passando por um processo de inclusão digital? Como a senhora analisa a importância da Internet e das redes socias para a evolução do povo brasileiro como um todo?

Marina: Eu acho que a Internet é uma ferramenta fundamental no processo de educação, que seja atualizado para as necessidades dos jovens nesse início de século. Ela favorece o diálogo entre os professores, favorece uma interação mais próxima em termos de circular a informação com os alunos, se for bem utilizada. E além disso, abre inúmeras janelas para os alunos. Acho que a Internet ela é boa para o mundo dos negócios, boa para a educação, é boa para o entretenimento. Assim como pode ser equivocadamente utilizada para o mundo dos negócios, para o entretenimento e para a própria educação, constituindo uma deseducação.

Lívia: Essa seria minha próprima pergunta: quais seriam as consequencias negativas de uma superexposição, principalmente no âmbito das redes sociais.

Marina: Ah… eu procurei fazer e fiquei muito feliz com o prêmio e esse reconhecimento e agradeço sempre aos internautas. Como eu disse ninguém é autor sozinho. Você é co-autor. A equipe que trabalha comigo trabalhou, as pessoas que me acompanham no Twitter, no facebook, trabalham no blog, enfim… eu sinto que é um trabalho em co-autoria porque é uma retro-alimentação… entre aquilo que eu digo, aquilo que eu recebo. Então, eu nunca sai dessa coisa de ter uma exposição meio que resvalada. Não uma coisa direta, frontal ou exagerada. Eu acho que acaba te exaurindo e cansando também quem te acompanha. Afinal de contas, fica uma relação sem nenhum mistério, sem nenhuma reserva e eu acho que essa linha tênue entre aquilo que você expõe e aquilo que você guarda é o que faz com que as coisas possam fluir com naturalidade e verdade. É diferente de esconder. Eu não procuro me esconder. Eu procuro mostrar e guardar. Guardar aquilo que eu acho que devo guardar por um tempo e mostrar quem sabe com o tempo, o que é pessoal…. e mostrar o que eu acho que contribui para o fortalecimento dessa relação. Também não é só falar de coisas políticas, é falar de questões de um modo geral e as vezes até um enfoque pessoal tímido também.

Lívia: Nessa questão do toque pessoal tímido, todo mundo quer saber: quem é o “tuiteiro” por trás dos seus tweets? Existe alguém ou a senhora mesmo costuma usar e twittar?

Marina: Não existe nada no meu Twitter que não tenha sido dito por mim. É claro que eu tenho pessoas que me ajudam a operar e a monitorar algumas coisas, porque são muitas coisas ao mesmo tempo. Mas não tem nada que não seja dito por mim. Todas as mensagens que estão ali, elas passam por mim, são ditas por mim. Essa terceirização da minha palavra não há a menor possibilidade. E quando isso é feito – quando é uma resposta – vai assinado: equipe Marina.

Lívia: Isso quando a senhora não estava presente, mas eles afinados com a sua posição…

Marina: Não. Ai eles respondem, mas não respondem como se fosse eu respondendo. É assinado que é equipe Marina porque se não, você acaba criando uma relação fraudulenta com as pessoas. Se a pessoa responde como se fosse você…e depois tem que arcar com qualquer consequência Isso é não passa de um desrespeito a pessoa. Ela tem que saber que quando estou me dirigindo a ela, de fato, há uma autenticidade nessa relação.

Lívia: Com certeza isso foi observado, tanto que a senhora ganhou o prêmio, não é? Mas na vida pessoal, a senhora utiliza o smartphone ou a senhora é meio aversa a tecnologias dessa forma?

Marina: Eu estou cada vez mais me permitindo, me autorizando, a usar cada vez mais as tecnologias no dia a dia. É claro que eu sou uma recem incluida digital. Meu batismo digital na Campus Party, em Fevereiro de 2009. Eu já fazia o uso, mas muito mais para ler as coisas e ler meus textos e fazer meus estudos e agora cada vez mais eu estou … como a gente chama? Tem uma palavrinha… me “inserindo”. Até porque meus filhos… meu filho é programador…

Lívia: A senhora poderia se dizer uma tuiteira de plantão?

Marina: Não, de plantão não. Eu procuro alimentar. Na campanha era mais intenso. Agora como eu faço uma série de coisas, então, pode ver que tem alí uma mistura do tempo da cidade com o tempo do seringal. Um tempo para as pessoas olharem, perceberem, ai eu sinto uma necessidade de falar, eu falo. Sinto uma necessidade de ir olhar o que estão dizendo, eu vou lá e olho.

Lívia: A senhora foi a precursora, não é? Claro que todos os candidatos nessa campanha presidencial usaram. Mas a senhora já utilizava desses meios um pouco antes da campanha e utilizou muito mais assiduamente do que qualquer um e tinha um número de seguidores muito maiores do que qualquer um. A senhora acha que agora que nas próximas eleições terão mudanças nesse sentido, as campanhas vão acontecer mais na Internet?

Marina: Acho que quanto mais inclusão digital, mais essa ferramenta vai ser utilizada nos processos políticos e eu espero que nao seja só na campanha. Que a política possa ser professada também através das redes sociais e eu tento dar continuidade a iss fora da campanha. É muito interessante o que a gente consegue colher nesse contato mais ampliado com o mundo digital que acaba também se desdobrando em ação presencial. Tenho certeza que vai ser ampliada. A diferença não está apenas no uso das ferramentas. Eu diria que é na mensagem e na identificação que as pessoas fazem entre a mensagem e a prática de quem está se colocando.

Lívia: Agora falando em meio ambiente, quais as suas titudes em prol da sustentabilidade no seu dia a dia? vocês tem esses cuidados?

Marina: A gente procura essa coisa de separar o lixo, isso já é básico. Mesmo quando não tinha essa coleta seletiva, eu sempre fazia o esforço de levar e juntar… isso já faz parte. Economizar energia, economizar água… isso já faz parte. A minha família é muito grande e a gente tem um trabalho de educação constante. As vezes chega visita e tem que ter cuidado para não ser deselegante com a visita, mas ao mesmo tempo, onde se hospeda muita gente, você vai fazendo ali uma educação ambiental básica para não romper com os costumes da casa. Mas essa coisa de procurar economizar sempre.

Lívia: Ecologicamente, como a senhora vê o Brasil daqui há 10 anos ou sonha o Brasil daqui a 10 anos?

Marina: Eu sonho com o Brasil sendo uma referência naquilo que eu tenho dito, como uma economia de baixo carbono. O Brasil sendo uma referência em sustentabilidade econômica, social, cultural. Acho que esse é o esforço que precisa ser feito e isso não vai ser alcançado se não tiver um forte investimento em educação de qualidade, que gere oportunidade, para que as pessoas possam se incluir socialmente, mas já com uma nova mentalidade na forma de produzir, na forma de consumir. Tanto para médios, pequenos e grandes.

Lívia: Tem se falado muito nessa coisa do ecofriendly, do sustentável, do verde… a senhora acho que as pesssoas estão se preocupando mais no seu dia a dia com o meio ambiente ou a senhora acho que isso ainda muito se fala e pouco se faz? Essas novas gerações estão realmente levantendo essa bandeia?

Marina: As pessoas estão levantando essa bandeira, que é uma preocupação real para elas. A consciência do brasileiro tem aumentado significativamente em relação a esses temas. É claro que entre a consciência e a tradução dessa consciência em uma nova atitude tem um tempo. Mas a gente começa a perceber que de 20 anos pra cá, as pessoas mudaram seu comportamento de uma forma significativa em relação a questão do meio ambiente, e isso é o cidadão, é o empresário, sã também os meios de comunicação. Mas há uma grande contribuição dos meios de comunicação, que são capazes de traduzir para o grande público essa problemática e as suas soluções também.

Lívia: Ultimamente tem se falado muito na questão polêmica das energias renováveis, principalmente o Biodíesel e energias que são produzidas através de plantas em áreas que poderiam estar sendo usadas em produções agrícolas. Na opinião da senhora qual seria a prioridade para o Brasil? Qual seria o mais importante: usar essas áreas para energia ou para alimentos?

Marina:Acho que para o Brasil não está posto ainda esse dilema. O Brasil tem uma dimensão territorial continental, o Brasil tem 350 milhões de hectares de área agricultável, tem 51 milhões em repouso. O Brasil pode sim, ou um zoneamento agrícola, ou um zoneamento ecológico econômico respeitando as áreas para a preservação da biodiversidade, ser um grande produtor de alimento e da uma grande contribuição na questão das energias renováveis e no uso dos combustíveis. É fundamental observar três coisas: as capacidades de suporte dos ecossistemas, a segurança alimentar e as questões sociais que envolvem a produção do álcool, sobretudo por causa das denúncias constantes que tem não só em São Paulo, mas mais ainda no Nordeste, com em trabalhos com condições análogas as condições do trabalho escravo. Eu acho que observar essas três coisas é uma contribuição muito grande que o Brasil pode das nas questões das energias renováveis. E o Brasil precisa manter uma matriz energética diversificada, limpa e segura. Para isso, ele pode usar o potencial de hidro-eletricidade, desde que respeite as questões ambientais e sociais e usar o grande potencial da energia solar, o Brasil tem a maior área de conservação do planeta.

Lívia: Como a senhora analisa, hoje em dia, a evolução da participação da mulher na política? Como a senhora tem visto esse comecinho de governo da nossa primeira presidente mulher e se a senhora tem algumas políticas brasileiras que a senhora admira, que a senhora acha que agregam mais para o Brasil?

Marina: Eu acho que as mulheres tem contribuído muito ao longo de todos esses anos com a política, não é? E a contribuição da mulher na política não é só quando ela tem um cargo constitucional – vereadora, prefeita, ministra, senadora… as mulheres tem contribuído porque elas assumem que querem participar do processo, porque elas buscam participar já no começo pela luta da nossa democracia, as mulheres tiveram um papel fundamental. Na reconquista da democracia, nas organizações sociais, dentro das ONG´s, antigamente nas associações… hoje, cada vez mais a mulher faz valer o seu olhar, a sua contribuição dentro das empresas e isso também é uma forma de participação política. Na política institucional própriamente dita eu acho que tem ainda um desafio para nós; que é de não nos deixarmos aprisionar pelos modelos masculinos de fazer política – muito mais pelo caminho do confronto que pelo caminho do diálogo; muito mais pelo caminho da imposição do que pelo caminho do convencimento e do grito do que aquela forma de liderar pelo exemplo. Eu acho que as mulheres podem participar das politicas e serem respeitadas, sem abrir mão da sua condição feminina. Não ter medo de expor sua forma específica de ser; sua sensibilidade, seu olhar, sua intuição… acho que esse é o grande desafio da mulher na política. E nós temos inúmeras mulheres que dão essa contribuição no coditiano, no congresso.. eu agora estive recentemente no Haiti, com a professora Judite, que fez um trabalho muito interessante lá no seu estado e a Judite,
uma professora universitária, tem ajudado países em desenvolvimento a fazerem transformações energéticas, inclusive as que aconteceram no estado do Ceará. E ela fez uma pesquisa em que ela diz que essas transformações que acontecem vem muito mais das ações e dedicações de funcionários anônimos que propriamente dos governos. Ainda que os governos se apropriem desse fazer dos funcionários. São vários os que estão ai contribuindo há decadas em políticas sociais, e são servidores públicos, que independente de governo estão ali defendendo e defendendo uma causa. Eu acho que esse olhar que a gente lançou para esse fazer anônimo de milhares e milhares de pessoas, muitas vezes não é visto porque as vezes ele é focalizado por uma ou outra figura, parece que foi aquela pessoa que fez. Eu conheço inúmeras pessoas que tem uma militância socio-ambiental, ainda que as pessoas vejam na Marina, não é a Marina é um conjunto de pessoas que agora puderam se expressar através do voto dando quase 20 milhões de votos. Em relação aos primeiros passos da Dilma, eu acho que ela deu alguns passos interessantes na política externa se distanciando da posição cômoda com o Armadinejad, na defesa pela democracia, colocou a questão social como prioridade do governo. Tem ai dois grandes desafios: não permitir retrocesso nas políticas ambientais e o problema grave de voltarmos a ter ai o fantasma da inflação, questão que precisa sempre ser fiscalizada de perto e eu torço para que dê certo, torço sinceramente para que Deus a ajude a fazer um bom governo. E acho que a melhor forma de fazer um bom governo é entender que nem sempre quem tá na situação é quem está com a razão. E quem está na oposição, tem que entender que nem sempre quem está na situação está errado. Eu acho que isso já seria uma boa ajuda.

Lívia: E seus planos pra 2014, Marina, você pretende se candidatar a presidência mais uma vez, continuar nessa luta, ou você tem algum outro plano?

Marina: Eu quero trabalhar para que o Brasil continue crescendo e caminhando na direção que idealizamos, fazendo com que a questão ambiental, a proteção, o uso sustentável dos recursos naturais seja uma questão relevante para o Brasil, é isso que eu vou trabalhar. Não vou ficar a priori no lugar de candidata , não existe cadeira cativa de candidata. Quando a hora chegar e houver um consenso de que o melhor será que eu me coloque mais uma vez na disputa eu espero ter sabedoria e a graça de Deus para poder decidir com o compromisso que sempre tive, com o Brasil.mas não quero ficar engessando a minha atuação para direcionar a minha energia política para eu ser a candidata e se a plataforma for relevante, a melhor figura para liderar essa plataforma. Eu fico muito orgulhosa de ter sido essa pessoa em 2010 e eu espero que a plataforma continue revelante. Não precisa ser necessariamente eu a pessoa que tem esse perfil. Aliás, eu espero que tenhamos isso nas várias candidaturas. Eu acho que um dos problemas da política é você ficar o tempo todo querendo administrar o sucesso, sabe? Ficar escrevo do sucesso. Você tem que viver a política como um processo vivo em que você se expõe a ele com alguma imprevisibilidade. A politica tem que ter uma palavra viva, uma palavra que não seja pura repetição e para isso é preciso que você não queira ficar o tempo todo prisioneiro de repetir o que foi sucesso anteriormente. Precisamos sempre abrir novos caminhos e novas idéias, isso sim é caminhar para frente!

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