
Imagine que, dentre as cores das tintas guache que você brincava quando criança tivesse uma que levasse restos humanos em sua composição. Ou então, que aquele quadro caríssimo exposto no museu tenha sido feito com uma tinta a base de múmias. Pois é, prepare-se para conhecer o marrom múmia, a cor que, sem brincadeira, já foi moda e tinha restos humanos na composição.
Pode parecer loucura, mas essa cor realmente existiu e, além disso, durante séculos, especificamente entre o XVI e o início do século XX, o marrom múmia fez sucesso. Tanto é que vários artistas europeus brigavam para consegui-la e utilizar este tom peculiar de marrom em suas obras. Mas de onde ele vem? Como você deve supor, vem das múmias egípcias.

Como era o processo para produzir o marrom múmia
Os fabricantes da tinta importavam múmias humanas e, acredite, até de gatos. Em seguida, as múmias, já preservadas com resinas e betume, eram trituradas até virarem pó. Esse pó, então, transformava-se no pigmento base. Esse pigmento era misturado a outros materiais como mirra, para criar um pigmento marrom rico e translúcido.
Artistas apreciavam a cor por sua transparência e pela profundidade que conferia às sombras. Contudo, a qualidade variava drasticamente. Afinal, dependia da “qualidade” da múmia e dos materiais usados em seu embalsamamento. Isso tornava cada lote de marrom múmia uma surpresa.

Muitos pintores renomados, especialmente os pré-rafaelitas do século XIX, usaram o marrom múmia. Eles valorizavam seus tons terrosos para criar peles, sombras e paisagens. O tom fez tanto sucesso que, em algum tempo, começou a ficar cada vez mais escasso. Isso porque o número de múmias disponíveis para o processo começou a ficar escasso. A empresa britânica C. Roberson & Co. foi uma das últimas a oferecer a cor, afirmando em 1964 que ficaram sem múmias.
Além disso, há relatos de que, quando alguns pintores descobriram a verdadeira origem do pigmento, o choque foi grande. Reza a lenda que o pintor Edward Burne-Jones, por exemplo, ficou tão horrorizado que enterrou cerimoniosamente seu tubo de tinta marrom múmia no jardim.
Ainda bem que hoje em dia existem os pigmentos sintéticos, porque definitivamente podemos afirmar que o marrom múmia não era uma tinta vegana…
Fotos: Reprodução