Com 16,6 mil casos confirmados, o Ceará já contabiliza 28 mortes. Situação preocupa e requer atenção, pois o mosquito transmissor já é considerado como “parte da nossa ecologia” e impossível de ser eliminado
Ficou no passado a era de você preocupar-se com a dengue apenas em tempos chuvosos. O mosquito Aedes aegypti adaptou-se às condições ambientais e climáticas do Ceará, tornou-se mais resistente e já reproduz-se em períodos de estiagem. Os oito meses deste ano são prova disso. Apesar de vivermos a maior seca do último meio século, quase 16.667 casos já foram registrados até 23 de agosto em 151 municípios, 5.971 dos quais na Capital. Vinte e oito pessoas morreram. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
A vigilância contra a proliferação do mosquito agora, mais do que nunca, precisa ser todo dia. “Este ano, por causa da seca, era para termos menos casos. Mas o mosquito está aí. Não tem mais como a gente eliminar. A gente tem é que aprender a conviver”, alerta o coordenador de proteção e promoção à saúde da Sesa, Manoel Fonsêca.
O uso de carros-pipa no Interior é apontado como um dos possíveis motivos para surtos da doença serem diagnosticados neste segundo semestre – quando, historicamente, as ocorrências deveriam recuar. Em Fortaleza, a interrupção do fornecimento de água também força moradores de diversos bairros a armazenar água em casa. Em ambos os casos, muitos recipientes não são isolados da forma adequada e o Aedes aegypti encontra o ambiente certo para a reprodução.
Outra prova de que o mosquito encontrou formas de reproduzir-se em tempos de seca é a proporção entre casos e mortes. Em 2012, ano de epidemia da doença, 57 mil pessoas contraíram dengue e 67 óbitos foram registrados. A proporção foi de uma morte para cada 761 casos. Neste ano, foram 28 mortes em 16.667 ocorrências em menos de oito meses. Proporção de um óbito para cada 607 registros da doença.
Como o Ceará tem dois dos quatro sorotipos de dengue em circulação, é elevado o risco de muito mais gente ser infectada pelo mosquito. Cada pessoa pode contrair a doença quatro vezes. A variação 4 é a mais recente e de maior predominância nos casos do Estado. “Pedimos aos médicos que não deixem de pensar em dengue o ano inteiro. No inverno, a possibilidade de contração é maior por causa dos reservatórios naturais. Mas o mosquito é como se fosse uma muriçoca: já faz parte da ecologia”, acrescenta Fonsêca.
Fonte: O Povo
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