
A série Adolescência segue sucesso em todo o mundo, e cada vez mais a produção tem levantado discussões profundas sobre a relação entre pais e filhos. Principalmente em um momento em que tantos jovens acessam a internet sem supervisão, encontrando conteúdos nocivos. E, em meio a isso, alguns termos tem chamado a atenção do público. Por exemplo: você sabe o que é Incel? E Machosfera, também conhecida como Manosfera? Bem, se você tem filhos e nunca ouviu falar desses termos, é melhor ficar mais atento.

Esses termos podem soar estranhos, mas entender o que significam é crucial, especialmente para pais e mães preocupados com o que seus filhos consomem online. Afinal, esses movimentos misóginos crescem e representam um risco real, especialmente para mentes jovens e em formação. Então, para começar, é importante entender a machosfera. Trata-se de um conjunto de sites, blogs e fóruns online dedicados a discutir masculinidade e questões masculinas.
No entanto, isso não ocorre de forma “saudável”, por assim dizer. Isso porque esse ambiente online é dominado por discursos antifeministas e misóginos. Frequentemente, culpam mulheres e o feminismo pelos problemas dos homens e da sociedade. Assim, cria-se entre os homens que frequentem esse tipo de sites e fóruns um sentimento de que eles tanto estão sendo injustiçados quanto de que eles têm o direito de se sobrepôr às mulheres. E mais: normalizam o uso de violência para alcançarem seus objetivos.
E o que é um Incel?

Os Incel são o lado mais extremista da machosfera. O termo vem do inglês “involuntary celibate”, que quer dizer “celibatário involuntário”, em tradução literal. Basicamente, são homens (em sua maioria) que se sentem incapazes de conseguir relações amorosas ou sexuais, mesmo desejando. O problema é que, para eles, essa dificuldade em se relacionar não é culpa deles, e sim, das mulheres. Para um Incel, as mulheres devem sexo e atenção aos homens e, se eles não estão tendo isso, elas que estão erradas. Consequentemente, eles desenvolvem um profundo ressentimento e ódio, não só por mulheres, mas pela sociedade que, segundo eles, os rejeita.
O mais curioso é que quem definiu o que é um Incel foi uma mulher, lá nos anos 1990. Uma jovem canadense conhecida online como Alana criou um espaço chamado “Alana’s Involuntary Celibacy Project”. A ideia era até interessante, pois deveria ser um movimento inclusivo de suporte para pessoas que se sentiam solitárias e tinham dificuldades de se relacionar. Contudo, o movimento machista se apossou do termo e o utilizou para nomear sua ideologia extremista de ódio.
O perigo Incel para os jovens

Como visto na série da Netflix, em que um menino de 13 anos mata uma colega de escola, os jovens estão em uma fase muito vulnerável de suas vidas. Mas, a principal diferença entre a juventude “de hoje em dia” é o acesso a uma poderosa ferramenta que antes não existia: a internet. E uma vez que esse espaço é o principal meio que extremistas como os Incel utilizam para propagar suas ideias, adolescentes se tornam alvos fáceis.
Embora ficcionais, séries como Adolescência refletem a realidade: a internet é central na vida dos jovens. Assim, sem orientação, eles podem tropeçar em comunidades Incel, que oferecem um falso senso de pertencimento, mas que, na verdade, os enchem com discursos de ódio e ressentimento. Um garoto pode começar buscando dicas de relacionamento e acabar consumindo conteúdo que desumaniza mulheres.
No entanto, não são apenas pais de meninos que devem se preocupar com esse tipo de conteúdo. As meninas também devem ter supervisão para não caírem em redes que propagam o machismo e acabarem se tornando vítimas de misoginia. Isso porque essas ideologias ensinam que homens devem ser dominantes e que mulheres existem para servi-los, inclusive sexualmente. Quando essa expectativa não se cumpre, o Incel reage com raiva e culpa a mulher. Infelizmente, isso não fica só no discurso. Já foram registrados diversos crimes violentos realizados por homens que se identificavam como Incel.
Adolescência, o sucesso da Netflix
Disponível na Netflix desde o início de março, a série Adolescência se tornou um hit. A produção britânica quebrou recordes no Reino Unido e vem levantando debates sobre o uso indiscriminado da internet por jovens e a relação entre pais e filhos em todo o mundo. A minissérie conta a história de Jamie (vivido por Owen Cooper), um jovem de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Com quatro episódios de cerca de uma hora cada filmados em uma única tomada, a produção mostra como o pai, uma psicóloga e o inspetor de polícia tentam entender a mente do garoto para saber o que realmente aconteceu e a motivação do crime.
Importante discutir esse assunto, não?
Fotos e vídeos: Reprodução