Designer, psicanalista com especialização Psicanálise Lacaniana e artista, Cláudio Quinderé tornou-se reconhecido no Brasil todo por sua força inventiva e a capacidade de reproduzir folhas, flores, pássaros e as mais diferentes formas geométricas em belíssimas jóias – que misturam pedras preciosas e metais nobres, como a prata, com itens inusitados como a palha de buriti, couro, linho e fios de seda.
Casa Cor Ceará, Casa Cor São Paulo, Fashion Rio, Daslu Artes, III Bienal Brasileira de Design e exposições nas Galeiras Printemps são alguns dos importantes eventos que o designer de jóias Cláudio Quinderé marcou presença e mostrou para o Brasil e para o mundo as potencialidades do Ceará por meio de peças únicas, que fogem do tradicional e buscam a proposta de aliar beleza e design arrojado.
A notoriedade das peças criadas por Cláudio Quinderé é tanta, que as jóias já foram exibidas em grades produções globais, como Mulheres Apaixonadas, O Beijo do Vampiro, América, Celebridade, Duas Caras, Caminho das Índias e Ti-Ti-Ti. Para saber mais sobre a trajetória de sucesso dele, entender como são criadas as peças que encantam o Brasil inteiro e descobrir curiosidades sobre a arte de traduzir elementos da natureza em jóias, o No Pátio mostra agora uma conversa super animada com o designer cearense de maior sucesso nacional, Cláudio Quinderé:
No Pátio: Você é psicólogo e exerceu a profissão durante muitos anos. Como surgiu a ideia de ser designer?
Cláudio Quinderé: Eu gostava muito de arte e fiz várias coisas como hobby. A gente morava no Rio e eu estudei pintura no Museu de Arte Moderna quando era criança. Todos os domingos minha mãe me levava. Estudava com Ivan Serpa – que era um grande pintor da época. Estudava pintura, gostava de teatro, de música… Com 17 anos montei uma banda. Tinha toda uma história ligada as artes.
No Pátio: Então, sempre foi muito incentivado em casa?
Cláudio Quinderé: Muito! Com 7 anos de idade ganhei um violão. Lá em casa todo mundo ganhava um violão. Com 17 anos fui fazer vestibular e fiz psicologia. E a partir daí teve um certo hiato em realação a arte, fiquei meio fora durante a faculdade. Eu fiz faculdade aqui na UFC. Fui para o Rio e fiz formação em psicanálise, durante 5 anos. Tive consultório lá, mas voltei. Exerci 8 anos a profissão de psicanalista. Trabalhava em hospital público e tinha meu consultório. Quando me deu vontade de fazer um curso de escultura e me apaixonei pela arte em três dimensões, que nunca tinha feito. Eu sempre trabalhava com pintura, essa coisa mais em 2D. Disse “vou trabalhar com isso”.
No Pátio: Foi difícil partir para uma área nova?
Cláudio Quinderé: Foi. Porque eram muitos anos de investimento, eu vivia daquilo, tinha uma vida relativamente estável, era conceituado como psicanalista, tava formando minha clientela. Mas, quando eu decidi foi de uma vez! Fui embora para o Canadá, pedi demissão do hospital onde trabalhava, passei meus pacientes do consultório para uma colega e passei oito meses no Canadá fazendo o curso introdutório de design de joias. Depois fiquei em Vancouver, na casa de um primo que morava lá.
No Pátio: Suas peças tem características muito fortes e arrojadas! Desde o começo essa foi a sua marca: fazer peças diferenciadas, ou isso surgiu com o tempo?
Cláudio Quinderé: Eu sempre gostei da escola de Bauhaus, que é uma coisa bem minimalista. Uma das coisas mais fortes de Bauhaus é o “menos é mais”. Então, às vezes, eu desenhava uma peça e começava a enxugar os traços. Quanto mais limpo, melhor. Os designers que me inspiravam no começo eram os minimalistas. Uma das coisas que mais me inspiram até hoje é a natureza. Então, eu tento trabalhar com a natureza de uma forma bem minimalista. Até mesmo na escolha dos materiais. Tem os naturais, misturados com prata também.
No Pátio: Desde o momento do surgimento da ideia até a finalização da peças, quantas pessoas estão envolvidas?
Cláudio Quinderé: A única pessoa envolvida sou eu! A criação é minha, a pesquisa é minha… quando eu penso em uma coleção, começo também a pesquisar o que já foi feito dentro dele. Busco muito saber o que já foi feito dentro daquele tema para não fazer nada nem parecido. Para ter uma originalidade e ser algo diferenciado. Aí, começo a criação. Vou desenhar tudo sozinho. Em uma coleção de 20 peças, tenho 130, 140 desenhos que aproveito esses 20. Com esses desenhos eu sento na bancada e vou executar cada peça. Derreto a prata, faço a lâmina, recorto, faço acabamento e digo quando está aprovada. Todas as minhas peças são feitas a mão do começo ao fim do processo. Então, são peças únicas porque é impossível que a mão humana repita o mesmo traço.
No Pátio: E quando há repetição de modelo?
Cláudio Quinderé: Quando há repetição de modelo não sou quem faço. Tenho uma equipe com alguns ourives que trabalham comigo e fazem a repetição do processo. Mas, o processo de criação, pesquisa, execução da primeira peça – a peça piloto – sou eu quem faço do começo ao fim.
No Pátio: Suas peças tem uma força inventiva muito grande e são muito diferenciadas! Por ser tão original, foi fácil achar mercado?
Cláudio Quinderé: Quando eu comecei a trabalhar com prata, trabalhava apenas em Fortaleza, na época. Em 1994, 1995 a prata não era vista como joia. A joia era apenas o ouro, esmeraldas, rubis, safiras… As pessoas só consideravam joias somente o que tinha um valor de matéria prima enorme! As pessoas compravam joias até como um investimento. Tentei trazer o valor de que a prata é um metal tão nobre quanto o ouro. Um pouco mais barato, mas tão nobre quanto o ouro. Então, quis mostrar para o mercado de Fortaleza que prata é joia e que as pessoas tinham que investir no design e não na matéria prima em si.
No Pátio: E na prata você mostrou um design totalmente diferente do que existia, o que foi o seu grande diferencial, não é?
Cláudio Quinderé: Mas, o que diferencia mesmo é a clientela, que procura justamente o que não existe por aí, o que é uma coisa única. Tento lançar coisas que nunca foram feitas que nunca foram feitas. Eu fiz uma linha de prata com palha de buriti e você pode até pensar “como assim misturar prata com palha? Isso é absurdo”. Mas, na verdade eu juntei a palha – que é um material nada nobre – com a prata – que é um material nobre – e nessa hora torna-se também um material nobre.
No Pátio: Então, o valor vem da junção?
Cláudio Quinderé: Isso! Da junção, da criação e do design. E essa coleção de palha com prata, inclusive, agora está rodando a Inglaterra. Está em várias galerias de lá.
No Pátio: Para fazer essa junção de materiais nobres com materiais não nobres, como é o processo?
Cláudio Quinderé: É um processo de muita pesquisa. Em relação a pesquisa de tendência não me preocupo tanto, até porque a minha ideia é que minhas peças sejam esculturas e a arte é atemporal. Tento transformar minhas joias em esculturas. A minha preocupação com tendência é: se estão usando brincos enormes, gigantescos, então, eu adoro fazer brincos grandes, que chamem a atenção e que dê para a gente viajar no design. Mas, na época em que estão usando brincos bem pequenininhos eu não poderia continuar lançando muitos brincos grandes. Sempre lancei os brincos grandes, mas em pouca quantidade. Tenho que me adequar relativamente ao mercado. Por exemplo, em relação a tendência: todo ano a gente recebe de uma empresa internacional o que vai ser tendência em joias no ano seguinte. Quando eu recebo, por exemplo, que a turquesa vai estar em alta no próximo ano, a última coisa com que eu vou trabalhar é com turquesa! Porque na hora em que essa informação é passada para os designers de joias e pouco tempo depois todas as lojinhas de bijuterias e na 25 de Março estão como turquesa. Eu quero fazer exatamente um trabalho diferente.
No Pátio: Você participou de eventos importantes, como Casa Cor Ceará, Casa cor São Paulo, Fashion Rio, Daslu Artes, a III Bienal Brasileira de Design,em Curitiba, na Galeria Printemps – em Paris. Qual foi a sensação de levar as potencialidades do estado para outros lugares?
Cláudio Quinderé: Esse o papel da gente. Eu vivo dizendo que o designer, por mais que more fora daqui, que tente fazer um design diferenciado, com a linguagem da terra onde a gente está lá fora, a gente sempre leva o nosso traço. Eu vou levar para o resto da vida. Eu posso morar no Japão durante 30 anos que o traço sem do Ceará.
No Pátio: E o traço do Ceará é a questão da natureza sempre tão presente em suas peças
Cláudio Quinderé: Da natureza, das ondas, acho que essa coisa meio orgânica que eu tenho. Com o tempo, fui tentando descobrir o porquê daquilo, de onde vinha, até como psicanalista. Percebi que era por conta das nossas dunas, das ondas que elas fazem, do mar, do coqueiro balançando… Essa coisa do orgânico é muito nossa!
No Pátio: E mais uma vez falando em potencialidades, como foi ser chamado para expor as peças em novelas globais como Mulheres Apaixonadas, O Beijo do Vampiro e outras?
Cláudio Quinderé: Eu acho muito bom! Os figurinistas da Globo estão sempre procurando o que tem de melhor fora do eixo Rio São Paulo para mostrar para o Brasil todo. Ter o trabalho da gente colocado em uma novela é uma chancela de que esse trabalho está sendo reconhecido. Eu fiz nove novelas e alguns seriados na Globo e isso é sinal de que o meu trabalho foi reconhecido.
No Pátio: E a primeira proposta para ter pelas expostas em alguma novela global como surgiu?
Cláudio Quinderé: Tenho uma grande amiga que é uma atriz bem conceituada da Rede Globo e eu dei um brinco de presente para ela e, por acaso, ela estava usando e uma figurinista de uma novela viu esse brinco, gostou e perguntou de quem era. Eu estava no Rio nessa época, entrei em contato com ela, que me pediu para fazer uma coleção para Mulheres Apaixonadas.
No Pátio: E tudo foi acontecendo…
Cláudio Quinderé: Isso! Tudo foi acontecendo! Eu estava em Fortaleza quando o Lessa de Lacerda, que era o figurinista do O Beijo do Vampiro, pedindo para eu fazer uma coleção para a Cláudia Raia usar – que era a vampira de maior evidência. Teve um anel meu que foi usado quase a novela toda. Era um chuveirão enorme, com pérolas e quartzo, ônix e cristais.
No Pátio: Como é seu processo criativo? Existe um lugar que você goste sempre de ir ou uma música que te inspire?
Cláudio Quinderé: Não. Acontece! Depois da pesquisa, da escolha do tema… A criação, na verdade, ela toma cerca de 5 a 10% só do tempo todo até a execução da peça. Então, depois da pesquisa, da escolha do tema e tudo mais, as coisas já estão mais ou menos encaminhadas na minha cabeça.
No Pátio: E as vendas on line surgiram como um diferencial?
Cláudio Quinderé: Acho que a melhor coisa que eu fiz hoje foi sair da loja física e ir para on line. Pelo fato do meu trabalho ser conhecido fora daqui – quase no Brasil todo – tinha muito pedido para fora de Fortaleza. Eu tinha uma certa dificuldade em atender a essas demandas. Então, eu tinha algumas possibilidades : abrir outras lojas fora daqui ou fechar todas as lojas e investir no universo on line, foi o que eu pensei ser o certo.
No Pátio: Como você se define como profissional: um designer, um artista….
Cláudio Quinderé: Um primo meu, o Maneco Quinderé – designer de iluminação – ele definiu a diferença entre a arte e o design: o design é solução e a arte é problema. Quando você olha uma cadeira que tem um design maravilhoso, ela solucionou ali. A arte é um problema porque quando você olha para um objeto de arte, ele te faz pensar em outras coisas. Acho que meu trabalho está em um intermediário entre uma coisa e outra.
No Pátio: Um filme…
Cláudio Quinderé: Meia noite em Paris
No Pátio: Uma música …
Cláudio Quinderé: Is It Okay If I Call You Mine, do Filme Fama
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Cláudio Quinderé: Filé com batata frita
No Pátio: Um lugar…
Cláudio Quinderé: Fortaleza
No Pátio: Ser feliz é…
Cláudio Quinderé: Fazer o que a gente gosta!
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Fotos:Reprodução
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