Psicólogos costumavam afirmar que ouvir vozes na cabeça era um indício de doença mental, mas após alguns estudos, pesquisadores descobriram que há uma enorme variação entre as formas como as pessoas “ouvem coisas”. De acordo com a pesquisa da Universidade de Queensland, essas vozes não são tão incomuns assim. Cerca de uma em cada 20 pessoas ouve vozes e vê coisas que os outros não vêem ou ouvem regularmente.
A investigação publicada recentemente no “The Lancet Psychology” é o resultado de uma pesquisa online que analisou 153 pessoas que ouviam vozes. De acordo com os dados da pesquisa, a maioria não procura a ajuda de médicos por acreditar que as vozes têm influência positiva em suas vidas, dando-lhes conforto e inspiração, e apenas uma minoria se sente angustiada e sem saber o que fazer.
Algumas dessas pessoas experienciam esse fato como se alguém as chamasse pelo nome, mas quando elas vão atender descobrem que não há ninguém. Outras ouvem as vozes como se fossem pensamentos externos entrando em suas mentes. “Sabemos que muitos integrantes da população em geral ouvem vozes, mas muitos nunca sentiram a necessidade de pedir ajuda aos serviços de saúde mental”, disse a pesquisadora Aylish Campbell.
O professor e pesquisador do Instituto do Cérebro de Queensland, John McGrath, disse que esses indivíduos são em sua maioria altamente funcionais, ou seja, “estão na comunidade, têm empregos e, em geral, estão bem, mas curiosamente ouvem vozes. Elas fazem isso quando não há ninguém mais ao redor e as vozes podem parecer muito reais. Às vezes, elas comentam sobre suas ações, podendo descrever o que a pessoa está fazendo. Às vezes, lhes dão ordens”.
Um terço dos entrevistados que admitiram ter alucinações ou delírios disseram que isso só aconteceu uma vez, enquanto outro terço relatou ter até cinco episódios ao longo da sua vida. McGrath considera os relatos interessantes. “Esperamos compreender os mecanismos subjacentes que fazem com que algumas pessoas tenham alucinações transitórias e outras tenham uma doença mais persistente, que atrapalha a vida, como a esquizofrenia. Se nós conseguirmos separar estes indivíduos, encontrar os mecanismos subjacentes, isso poderia ser uma pista muito importante do que provoca esses sintomas no tratamento de saúde mental”, afirma.
Para os estudiosos, esses resultados mostram que é indispensável repensar a relação entre ouvir vozes e saúde mental. “Quando eu estudei psiquiatria nos foi dito que, se você ouve vozes, você pode ter esquizofrenia e que os dois estavam muito estreitamente ligados”, revela o professor. “Mas acontece que quando você entrevista pessoas na comunidade e lhes pergunta se eles já ouviram vozes, eles dirão ‘sim, eu já tive essa experiência’. Isso é uma pista muito importante a respeito de que parte do cérebro pode estar funcionando errado – de que os circuitos no cérebro que comandam a linguagem, audição e fala estão tendendo a falhar”.
MacGrath complementa: “O importante para a comunidade de pesquisa é o fato de que ouvir uma voz não significa automaticamente que você está indo no caminho da esquizofrenia – isso parece ser muito mais diversificado do que se pensava anteriormente”.
Pesquisas anteriores descobriram que as pessoas que ouvem vozes geralmente tiveram uma infância traumática. Psicólogos afirmam que alguns dos indícios de que as vozes são alucinação é quando lhe dizem para cometer atos de violência ou o fazem acreditar que é portador de poderes especiais ou até mesmo que você é Deus.
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