Você já parou para se perguntar por que algumas palavras são consideradas tão ofensivas? Pode parecer estranho, mas é através dos xingamentos interpessoais – contexto que passa despercebido por grande parte da população – que podemos notar a desigualdade no tratamento entre homens e mulheres.
Um recente estudo do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), realizado pela professora Valeska Zanello, revela quais são os palavrões mais ofensivos considerados pelas mulheres e quais os mais difamadores para os homens.
No Brasil, a grande maioria dos xingamentos são ou de cunho moralista ou homofóbicos, e a velha história de que o homem que fica com muitas mulheres é garanhão mas a mulher que tem mais de um homem é “galinha”, não é algo da época de nossos avós. A sociedade, por mais progressista que esteja, ainda costuma julgar de forma diferente situações como a descrita acima.
A pesquisa da professora reforça um comportamento comum na sociedade, que, no fundo, sabe da diferença de tratamento mas a ignora. “A mesma palavra que para uma mulher é uma violência, para o homem vira um elogio”, explica Valeska. Outro dado interessante é que, de acordo com a pesquisadora, uma mesma palavra pode ter sentidos diferentes, dependendo até da entonação.
Para exemplificar a questão basta lembrar do termo “vagabunda”. Para a mulher, o adjetivo está diretamente ligado ao comportamento sexual ativo e de acordo com os valores culturais da sociedade, é o mesmo que xingá-la de “piranha” ou “puta”. Já para o homem, possui uma conotação bem diferente: ser xingado de “vagabundo” significa dizer que ele é um fracassado, sem trabalho, pobre, e eles geralmente costumam ofender-se bem menos com esse termo que as mulheres. “Os xingamentos refletem valores. Nunca é dito aleatoriamente. Tanto que na pesquisa, em todas as faixas etárias e sociais, disseram que o pior xingamento para uma mulher é ‘puta’. Ou seja, existe uma intenção de controle sexual das mulheres. O ideal de mulher é a do recalque. Uma cultura machista”, avalia a professora.
Na segunda categoria de palavrões, as palavras mais ofensivas dirigidas ao sexo feminino são “farsante”, “mentirosa”, “egoísta”, demonstrando traços de caráter relacional. Em seguida, entram os traços físicos. “O pior é chamar a mulher de gorda. Assim, fica claro que o ideal de beleza é a magreza”, ressalta Valeska. Enquanto para os homens, “gordo” nem entra na lista de xingamentos. Terrível mesmo é ser chamado de “veado”, “bundão” e “pobre” ou ter a sua eficácia sexual atacada com definições do tipo “pinto mole” ou “pinto pequeno”.
Para obter os resultados, a investigação foi realizada com 700 pessoas de diferentes idades, unidades de ensino e classe social entre 2007 e 2014, através de um questionário com oito perguntas sobre os piores palavrões e em quais situações.
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