O pontífice fica sete dias no País, em sua primeira viagem internacional desde março, quando sucedeu Bento XVI
No último Angelus, tradicional bênção dominical no Vaticano, antes de embarcar ao Brasil, o papa Francisco pediu aos fiéis presentes que o acompanhassem em orações durante a Jornada Mundial da Juventude.
“Peço-lhes que me acompanhem espiritualmente em oração na primeira viagem apostólica que farei a partir de amanhã (hoje). Como vocês sabem, vou viajar ao Rio de Janeiro, no Brasil, por ocasião da 28ª Jornada Mundial da Juventude”, disse, ontem, o papa argentino.
Numa praça São Pedro cheia, apesar do sol do meio-dia e do calor de 29ºC, o sumo pontífice comentou a visita. “Todos os que estarão no Rio querem ouvir a voz de Jesus: ´Senhor, o que devo fazer de minha vida?´ Vocês, jovens presentes aqui na praça, façam a mesma pergunta ao Senhor”, declarou.
Pouco antes, ele voltou a falar sobre a importância da aproximação com os pobres. “Mesmo em nossa vida cristã, caros irmãos e irmãs, oração e ação estão sempre profundamente unidos. Uma oração que não leve a ações concretas para o irmão pobre, o doente, o carente de ajuda, o necessitado, é uma oração estéril e incompleta”, disse.
O papa desembarca hoje no Brasil, onde ficará por seis dias. Os compromissos incluem visita a Aparecida, encontro com a presidente Dilma Rousseff (PT) e uma missa campal para centenas de milhares de fiéis.
Orientação
A Igreja Católica marcou sua posição a respeito de temas polêmicos de comportamento durante a Jornada Mundial da Juventude. Distribuído a aproximadamente 350 mil jovens inscritos no evento, o chamado “kit peregrino” inclui manual com “reflexões éticas” sobre assuntos como aborto, reprodução assistida e homossexualidade.
O mesmo livreto também foi encaminhado aos 60 mil voluntários da Jornada e a mais de seis mil jornalistas credenciados para a cobertura do megaevento.
A publicação apresenta aos participantes perguntas como: “Todos os modelos familiares seriam válidos, desde que a criança seja amada?”. Logo abaixo, vem a resposta da Igreja, contrária a famílias com casais do mesmo sexo: “Naturalmente, é essencial ser amado pelos pais, mas não basta. (…) Sejamos realistas: nascemos menino ou menina. A procriação necessita de pai e mãe. A criança precisa de pai e mãe para se desenvolver”.
O tema polêmico ensejou embate dos católicos com o governo na Argentina, em 2010, durante a votação sobre o tema. O então cardeal de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, hoje papa, foi responsável por divulgar a posição da Igreja contra lei.
Discursos devem refletir mudanças
Os discursos que o papa Francisco vai fazer durante a Jornada devem tratar de temas como dignidade, justiça social, solidariedade, direitos humanos, combate à pobreza e à corrupção, ecologia e consumismo. A avaliação é do teólogo Leonardo Boff, para quem os tópicos representam a linha que o papa pretende seguir para transformar a Igreja Católica.
“Creio que ele vai prolongar o discurso que já era característico dele como cardeal em Buenos Aires, dizendo que a pobreza não se combate com a filantropia, se combate com justiça social”, disse em entrevista à Agência Brasil. Para o teólogo, nessa que será a primeira viagem internacional como papa, ele deve abordar atitudes concretas para reformular a Igreja, como apuração das denúncias de irregularidades no Banco do Vaticano e tolerância zero aos pedófilos.
“Há ainda milhares de pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia. É evidente que a agenda social que ainda não avançou é uma preocupação não só para a Igreja Católica como para os governantes do mundo”, avaliou o professor de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, Ricardo Ismael.
Roteiro do papa no brasil
22 de julho – hoje
– Será recebido pela presidente Dilma e autoridade em cerimônia no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio
23 de julho – terça
-Presidirá missas privadas
24 de julho – quarta
– Por volta das 8h15,partirá para o santuário de Aparecida, onde celebra uma missa marcada para as 10h30
– Volta ao Rio por volta das 16h e, às 18h30, participa da inauguração de um centro para dependentes químicos na Tijuca (zona norte do Rio)
25 de julho – quinta
– Realiza missa privada na residência do Sumaré. Às 9h45, irá até o Palácio da Cidade, em Botafogo, onde receberá as chaves da cidade
– No mesmo dia, por volta das 11h, visita a comunidade da Varginha, no complexo de Manguinhos, onde abençoará os moradores
– Por volta das 18h, o papa discursa e se encontra pela primeira vez com os participantes da Jornada Mundial da Juventude na praia de Copacabana
26 de julho – sexta
– Participa de missa privada. Por volta das 10h, ouvirá a confissão de quatro jovens em ato na Quinta da Boa Vista
– Em seguida, vai ao Palácio São Joaquim, residência do arcebispo do Rio, quando receberá jovens presos
– Por volta das 18h, acontece a via-crucis na praia de Copacabana. Será o terceiro ato central da Jornada com um discurso do papa
Dia 27 de julho – sábado
– Celebra missa na Catedral do Rio com bispos da JMJ e sacerdotes
– Logo após, ele se encontrará com representantes da sociedade no Teatro Municipal. O papa deve fazer um novo discurso. Às 13h30, almoça com bispos da CNBB
– A partir das 19h30, estará em Guaratiba, no Campus Fidei, onde faz vigília de oração com jovens
Dia 28 de julho – domingo
– Realiza, às 10h, missa em Guaratiba e fará a oração do Angelus
– Às 17h30, participará de evento no Riocentro e, por volta das 19h, ele embarca de volta para Roma (Itália)
Grupo convoca manifestantes
O grupo Anonymous Rio está convocando manifestantes pelo Facebook para dois atos que serão realizados durante a semana da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro.
O primeiro é hoje, no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, onde o pontífice vai ser saudado pela presidente Dilma Rousseff (PT), o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB. A concentração será às 18 horas no Largo do Machado.
Batizado de “Grande Ato Papa, veja como somos tratados”, o segundo é na sexta-feira (26), na praia de Copacabana, onde são esperados dois milhões de fiéis. A concentração será às 17 horas na estação do metrô Cardeal Arcoverde.
Enquanto no primeiro caso os manifestantes devem chegar ao Palácio Guanabara após a agenda do papa (a cerimônia de boas-vindas no jardim, seguida de visita de cortesia à presidente dentro do palácio estão marcadas para as 17h e 17h40), no segundo a convocação é bem no horário do início da Via-Crúcis que será encenada na Praia de Copacabana. A encenação é uma das principais atividades do evento.
“Não se trata de um protesto contra o papa nem a Igreja Católica”, explica o Anonymous. O grupo é contra gastos públicos com o evento, contra o governador e o vice-governador do Rio e contra excessos cometidos pela PM em protestos no Rio.
Fonte: Diário do Nordeste
Fotos: Reuters