Vinicius Ribeiro começou a escrever ainda criança, enquanto contava suas histórias por meios de rabiscos no papel. Aos sete anos fez seu primeiro conto e, durante a adolescência, encontrou na insônia e falta de concentração a motivação para transcrever suas angústias, sonhos e as existências ignoradas pela maioria. A escrita sempre foi sua fonte de liberdade, um hobby que somente na fase adulta transformou em carreira profissional. Nesse gosto por imortalizar frases, momentos, pessoas que nunca mais verá e sentimentos abandonados, no fim de 2016, lançou “Charada Azul”. A obra de autoconhecimento, belezas, assuntos complexos, que você conhecerá melhor na entrevista exclusiva com o autor:
Qual a inspiração central da história de ‘Charada Azul’? O que exatamente te motivou a escrever esse livro?
Costumo dizer que antes de passar para o papel, vivo as histórias. Não houve uma motivação específica. Viagens, experiências, pessoas (de amigos a estranhos, de figuras conhecidas a anônimas) é o que de fato me motiva. Muita coisa que está no livro aconteceu comigo e com as pessoas ao meu redor; notícias de internet (mesmo as mais absurdas), conversas ouvidas em fila de bancos, no táxi, no ônibus/avião também estão presentes no livro – Sempre achei que elas deveriam vir a público.
A obra é o relato das desventuras psicodélicas de um grupo de amigos, mas indo além da sinopse, você pode nos descrever algo mais sobre o livro?
Todo o processo até esse livro chegar a publico foi mágico. Fiz toda uma pesquisa e vivi durante seis meses numa favela aqui da cidade para entender de fato como as coisas são lá. Se as coisas já são tão difíceis para as mulheres na nossa realidade, para a mulher negra e pobre é ainda pior. As crianças não tem muito acesso à educação e ao lazer, e além de sofrerem com moradia precária e difícil acesso a direitos básicos, vivem em famílias totalmente desestruturadas (mães menores, sem muita instrução; pais presos ou envolvidos com toda espécie de crime). Claro que as coisas mudaram muito. Conheci muita gente que estuda e trabalha, de pequenos a grandes empresários, de graduandos a pessoas com especializações – mas o número é ainda muito pequeno em relação a outras áreas da cidade.
O livro possui algum foco específico? Um público em exato que você queira tocar?
Primeiro de tudo, o livro é direcionado ao povo fortalezense. Por exaltar nossa cidade, suas belezas e características, mas também por denunciar problemas sociais, políticos e ideológicos. Creio que muitos irão se identificar (seja positiva ou negativamente). Como falo de temas bastante complexos e delicados (violência doméstica e urbana, abuso infantil, racismo, segregação social e preconceito), e outros temas tidos como tabu em nossa sociedade (uso de drogas ilícitas, sexualidade, repressão policial e a morte em massa da população pobre e negra da periferia), qualquer pessoa no Brasil vai se identificar e até mesmo se questionar. No geral, esse é um livro escrito para quem acredita na libertação e superação através do autoconhecimento; para quem não se contenta com o “por-que-deus-quis-assim”, para amantes da vida e da poesia, para aqueles que tentam sobreviver em suas prisões através de paraísos artificiais, e para aqueles que tentam sobreviver “de cara” também. E para você que queira ter uma viagem psicodélica literária!
Entre os assuntos leves, os tabus vividos em sociedade e a psicodelia, Charada Azul é, sobretudo, um livro de amor, dedicação e generosidade. Financiada através do CATARSE (site de financiamento coletivo), a obra leva ao conhecimento de uma realidade ignorada que tem muito a dizer. Com seus 26 anos, Vinicius Ribeiro mostra a união suave entre o belo e polêmico, na narrativa que vale cada página lida e nos deixa na torcida por sua carreira promissora no universo literário.
Para mais informações e compra, acesse: http://www.livrariakiron.com.br/charada-azul.html
Texto: Bárbara Rios / Fotos: Reprodução