Wolney Oliveira, o “cangaceiro” do cinema cearense

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O cineasta cearense Wolney Oliveira contou ao No Pátio a sua trajetória no cinema brasileiro e sobre seu sucesso internacional

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Quem gosta de cinema e acompanha a história do cinema cearense certamente conhece o premiado cineasta cearense Wolney Oliveira. Para quem não conhece, o No Pátio apresenta um perfil com a sua caminhada de sucesso, iniciada ainda na década de 80. “Por volta de 1981 comecei a trabalhar com vídeo e diretamente com meu pai, Eusélio Oliveira, professor de cinema e cineasta cearense”, confirma Wolney.

O cineasta cearense Wolney Oliveira nasceu em 1960, em Fortaleza. Formou-se como cineasta na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, em Cuba e se especializou em fotografia. “Eu tive a sorte de ser, como aluno, um dos fundadores da Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños (EICTV), em Cuba, isso em 1986, com 26 anos. Lá conheci grandes nomes do cinema internacional que com certeza definiram os meus caminhos e meu amor pela sétima arte”, conta Wolney. O premiado cineasta é atualmente diretor da Casa Amarela Eusélio Oliveira, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Wolney ocupa ainda o cargo de diretor executivo do Festival Ibero-americano de Cinema, o Cine Ceará.

O cineasta conta que começou a trabalhar com vídeos no começo da década de 1980 com seu pai, Eusélio de Oliveira, o professor de cinema e cineasta cearense. Ainda nos anos 80, Wolney participou do Curso Básico de Cinema e Vídeo da Casa Amarela da UFC. “Meu pai foi pioneiro na formação de jovens cineastas no Estado do Ceará e um dos pioneiros do cinema cearense. Foi ele que pensou e fundou na Universidade Federal do Ceará, em 1971, o Cinema de Arte Universitário, hoje Casa Amarela Eusélio Oliveira”. O trabalho de Eusélio Oliveira na UFC formou vários nomes do cinema cearense como Glauber Filho, Joe Pimentel, Marcos Moura, Jane Malaquias, Yuri Pereira, Firmino Holanda, entre outros.

Seu primeiro curta metragem veio em 1982. Era um documentário chamado “Um día de Tito”. Sua filmografia é composta, basicamente, por documentários. Seu filme de ficção mais recente é “A ilha da morte”, lançado no Brasil e em Cuba. O filme “Sabor a Mí” foi lançado no Brasil, Panamá, Argentina, México e Cuba.

Influências

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A formação de Wolney Oliveira no exterior contribuiu para que os cineastas que influenciaram seus primeiros trabalho fossem cubanos. “entre eles destaco os cineastas cubanos Gutierrez Alea, Fernando Perez e Santiago Alvarez; os brasileiros Eduardo Coutinho, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra; os americanos Orson Welles, Jim Jarmusch e Martin Escorsese; os italianos Ettore Scola, Sergio Leone e Giuseppe Tornatore e o japonês Akira Kurosawa, entre outros”.

Estudar fora trouxe produções incríveis em parceria com Cuba e Espanha, a exemplo o filme “A Ilha da Morte”. “Foi a melhor experiência da minha vida. Fui para passar três anos e meio estudando cinema, mas acabei ficando seis anos em Cuba. Foi importante não apenas do ponto de vista da oportunidade de estudar numa das melhores escolas de cinema do mundo, mas do ponto de vista humano – conviver com pessoas de três continentes, aprender espanhol, conhecer a cultura e o cinema latino-americanos e me sentir parte desse continente fantástico onde apenas o Brasil fala português”, revela o cineasta.

Projetos para o futuro

"Os Últimos Cangaceiros"
“Os Últimos Cangaceiros”

Wolney Oliveira define-se como um “geminiano irrequieto” e tem muitos projetos para 2013. “Preparo ao mesmo tempo quatro grandes projetos. Em agosto, será lançado comercialmente meu terceiro longa metragem, ‘Os Últimos Cangaceiros’, primeiro longa metragem brasileiro com a temática do cangaço, lançado nacionalmente nos cinemas brasileiros pela distribuidora paulista Imovision; outro projeto é o 23º Cine Ceará Festival Ibero-americano de Cinema, que será realizado de 7 a 14 de setembro no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, evento do qual sou o diretor executivo e um dos principais festivais de cinema do Brasil; uma semana depois, no dia 22 de setembro,  retomo as filmagens do meu quarto longa, o documentário “A Guerra da Borracha”, que  resgata uma historia quase desconhecida do público brasileiro, a saga dos ‘Soldados da Borracha’”.  Para finalizar o ano de 2013, Wolney pretende lançar em novembro o livro “Soldados da Borracha: os heróis esquecidos”. “Publicação que reconta com textos e imagens a impressionante historia desses heróis anônimos e esquecidos pelo governo brasileiro”, comenta o cineasta.

Em agosto, Wolney laçará o longa metragem “Os Últimos Cangaceiros”. “O filme resgata a polêmica historia do cangaço, que se espalhou no nordeste brasileiro com mais intensidade de 1910 a 1940. O relato é feito através do último casal de cangaceiros vivos então, Durvinha e Moreno. O casal foi filmado por Benjamin Abraão (fotografo sírio-libanês que também foi secretário de Padre Cícero), em 1936, financiado pela empresa cearense Abafilm”, explica Wolney. Apesar de ainda não ter sido lançado, o filme já conta com sete prêmios no Brasil e no exterior. O mais importante foi o de melhor longa Ibero-americano no 7º FIDOCS – Festivel Internacional de Documentário do México em 2012. Segundo Wolney, o publico pode esperar por um filme impactante, um rood movie do cangaço com um triângulo amoroso surpreendente e conhecer detalhes da historia do cangaço que eram, até então, desconhecidos.

Prêmios

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Soldados da Borracha

O filme “Milagre em Juazeiro” ganhou 6 prêmios de 1999 à 2001 em Brasília, Recife, Portugal e até no Uruguai. Um dos prêmios foi o de melhor filme no III Festival Luso-Brasileiro em Portugal em 2000. Em 2001, o longa metragem ganhou o prêmio de melhor documentário em Montevidéu.

Em 2007, Wolney Oliveira foi premiado pelo filme de ficção “A Ilha da Morte”, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival Latino-Americano de Trieste na Itália. Outro grande filme premiado de Wolney foi “Sabor a Mí” que recebeu prêmios em Roma na Itália, São Luís, San Juan em Porto Rico, Rio de Janeiro, Cuba como o melhor vídeo.

Cinema no Ceará

Trabalhar com cinema no Ceará e no Brasil como um todo, segundo Wolney, requer “um amor especial”. É preciso ter certeza de querer trabalhar na profissão, pois é difícil se posicionar profissionalmente no mercado de trabalho. Os maiores produtores de cinema no Brasil são os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco. Portanto, a dificuldade é acentuada em outros estados, como o Ceará. A diferença entre os estados fica evidenciada quando é visto os valores dos editais para os cineastas. O Governo de Pernambuco disponibiliza anualmente R$ 11,5 milhões, enquanto o Governo do Ceará apenas R$ 3 milhões. “Do ponto de vista da formação, estamos bem, mas em relação à produção não. Há uma subutilização dos profissionais formados na cidade”, lamenta Wolney. O Ceará conta com dois cursos de graduação em cinema, na UFC e na Universidade de Fortaleza (UNIFOR). A prefeitura de Fortaleza ainda oferece a população cursos sequenciais e na Casa Amarela Eusélio Oliveira é ofertado o curso básico de cinema e vídeo.

10 filmes imperdíveis

A pedido do No Pátio, Wolney preparou uma lista com dez filmes considerados, por ele, imperdíveis. Confira:

  1. “Cidadão Kane”, do Orson Welles;
  2. “Depois de Horas”, do Martin Scorsese;
  3. “Cinema Paradiso”, do Giuseppe Tornatore;
  4. “O Bom, o Mal e o Feio”, do Sergio Leone;
  5. “O Baile”, do Etore Scola;
  6. “Down by Law”, do Jim Jarmusch;
  7. “Cabra Marcado para Morrer”, do Eduardo Coutinho;
  8. “Dodeskadem”, do  Akira Kurosawa;
  9. “Memórias do Subdesenvolvimento”, do Gutierrez Alea;
  10. “Suite Havana”, do Fernando Perez.

Se você acompanha ou quer começar a conhecer os trabalhos de Wolney Oliveira, confira o trailer do seu trabalho mais recente, o longa “Os Últimos Cangaceiros”.

Trailer do filme “Os Últimos Cangaceiros”

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=6zdEKlsaQqI[/youtube]

Wolney ainda dá dicas para os estudantes cearenses que pretendem seguir carreira no cinema cearense: “O Ceará é um dos poucos estados que conta com dois cursos de graduação de cinema, o da Unifor e o da UFC, além de cursos sequenciais oferecidos pela Prefeitura de Fortaleza e do curso básico de cinema e vídeo da Casa Amarela Eusélio Oliveira”.

Serviço

Casa Amarela Eusélio Oliveira

Endereço: Av. da Universidade, 2591 – Benfica – CEP 60020-181 – Fortaleza – CE
Fone: (85) 3366 7772 / 3366 7773
Fax: (85) 3366 7771

site: http://www.ufc.br/cultura-02/equipamentos-culturais/2047-casa-amarela-euselio-oliveira

 

Fotos: Reprodução

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