Consumo e considerações da contemporaneidade

Moda

 

Sou empresária, lojista e fabricante, tenho um atelier de costura onde fabrico mil peças por mês, e duas lojas, onde vendo as peças que fabrico. Todo mês que começa é a mesma batalha: vender, atingir a meta, pagar as obrigações, que são muitas. Ter vinte e cinco funcionários custa bastante, e se todos os astros não tiverem alinhados na casa certa, é fácil faltar dinheiro para pagar as contas. É uma luta diária, essa é a minha história profissional no momento.

Por outro lado, exatamente no lado oposto de despertar o desejo de consumo pra minha marca e pros meus produtos, condição da minha sobrevivência no negócio, penso que se o mundo continuar consumindo desenfreadamente do jeito que está, não teremos longevidade no planeta. Essa situação que criamos para nós, a de que consumir muito, comprar vorazmente, ter primeiro o último lançamento, chegar na frente, ganhar respeito e admiração pelo que temos, ganhamos, ou possuímos, é um grande engano.

A felicidade que vem do consumo é muito volátil. Na hora de comprar é bom, na de pagar já não é tão bom, e é só o tempo de chegar em casa pro vazio voltar. É só tirar o carro da concessionária, pra passar outro modelo melhor que o seu na rua, e você já está pensando em trocar o carro de novo. É só o seu amigo milionário comprar um jato novo, pra você achar que o seu não fala da sua importância como pessoa. É isso, por mais rico que você seja, sempre tem alguém mais rico que você. Não importa o sucesso financeiro que você atinja na vida, a satisfação e o reconhecimento sempre serão trocadas por um quero mais, ou falta alguma coisa, ou o outro tem mais que eu.

Eu tenho um amigo que quando era adolescente sonhava em ter uma calça jeans da Bunnis, hoje ele compra marcas importadas e de luxo. Ele está feliz? Não! Agora quer um relógio de 60 mil dólares, que segundo ele todo mundo tem. O que ele não sabe é que ele pode até comprar o relógio, logo depois a frustração dele vai apontar pra outro lado: um modelo ainda mais caro? Uma outra marca? Um outro bem? É um vício.

Além de nunca estarmos plenos e satisfeitos com essa felicidade que vem de fora, ainda fazemos coisas por impulso, compramos o ideal de felicidade do outro, achamos que o que é bom pros outros, deve ser bom pra gente também. Outro dia uma conhecida comentou comigo que não agüentava mais o pacote carro Tuckson + bolsa speedy da Louis Vitton. É fato. Todo mundo quer o que todo mundo quer. A moda se desmassificou, mas as pessoas não. Ter estilo próprio, ser diferente está na moda, mas nas ruas todo mundo anda igual, é um padrão que a massa adota, e acaba virando uma ditadura.

Nossa felicidade, nossa auto-estima, não pode estar atrelada a nada fora de nós mesmos. Encontrar este amor próprio, fazer este amor se multiplicar – e o amor, diferente dos bens materiais que se dividem, se multiplica, é um fenônemo típico do amor: a multiplicação – é a única maneira de encontrarmos a tão sonhada e quase obrigatória felicidade.

Talvez, apenas talvez, quando a humanidade encontrar valores mais profundos, e aprender a amar mais e multiplicar mais, o consumo como conseqüência disso se torne saudável e realmente prazeroso. Mas para isso, precisamos nos descortinar, nos despir, deixar pra trás nosso ego, nossas crenças e valores mais arraigados. Precisamos crescer em auto-estima e nos perguntar o que realmente queremos da vida, o que é felicidade para nós e qual o verdadeiro propósito de estarmos aqui. Precisamos encontrar nossa essência e conectar com esse amor abundante que está, tenho certeza, ao nosso redor, dentro de nós, fora de nós, está aí para nos apropriarmos dele.

Foto: Reprodução.

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