Pelo direito de ter um príncipe encantado!

Comportamento

O assunto não é novo e é muito provável que você esteja fazendo parte do grupo de devotados da Trilogia escrita por E. L. James, assim como eu. Por enquanto, em português, injustamente, só o primeiro pode ser encontrado, na verdade é possível que esteja esgotado nas prateleiras das livrarias.

Acontece que quando você o lê, vai sentir uma necessidade de ler os próximos livros o mais rápido possível e vai correndo comprar uma edição em inglês, russo ou mandarim. Não dá para resistir e vicia. É fato que não dá para encarar “50 Tons de Cinza” e suas continuações como alta literatura, mas certamente a obra tem causado um alvoroço entre as meninas, mulheres ou meninas-mulheres dos quatro cantos do Mundo. Eu sou uma delas e tenho suspirado e trocado qualquer outro programa para ficar em casa lendo o que eu chamo de “Meu Crepúsculo para Adultos”. Não por acaso o apelido, já que a escritora, assumidamente fã da saga que narra o triangulo amoroso entre uma mortal, um vampiro e um lobisomem, tomou a narrativa teen como ponto de partida para escrever seus livros.

Tirando toda a fantasia e divertimento que o livro me traz, tenho pensado e refletido muito sobre comportamento, relacionamento, ideais e escolhas.
Tenho um time extenso de amigas que aderiram à leitura e que sonham junto comigo com um Christian Grey, personagem do livro que dentre os seus maiores defeitos, está o de ser protetor demais e muito preocupado em dar prazeres à sua Anstasia, personagem principal cuja vida ordinária muda drasticamente ao primeiro encontro com Grey. Sim, existe sim um lado obscuro nessa história toda, mas sempre acaba sendo salvo por uma jogada de mestre e dos sonhos pelo príncipe Christian. Até que uma hora, correndo meus olhos ansiosamente pelas linhas e palavras, afim de saber o que vinha depois, eu me perguntei em certa cena; “não, não pode ser verdade! Não pode um homem ser tão perfeito assim”. E aí eu caí na real de que não pode mesmo!

É muito legal e inspirador entrar nessa historia de que vai além de um conto de fadas por permitir prazeres, descobertas e jogos adultos, mas não vamos esquecer por um só minuto que essa é uma história inventada pela cabeça de uma mulher, que com certeza, haja visto o sucesso de sua narrativa, os mesmos desejos, sonhos e vontades que nós, que aprendemos com os contos de fada! Desculpe dar uma de Bruxa Malvada, meninas, mas só estou querendo evitar que a gente tenha maiores frustações na vida! Não podemos aumentar o nosso nível de exigência a um nível que beira o insuperável e nem devemos sair por aí achado que existe de fato o príncipe encantado, que ainda por cima é hipnotizantemente lindo, bilionário por conta própria, está preocupado em resolver a questão da fome no mundo e que nas horas livres estará encontrando uma maneira de lhe dar muito prazer e de fazer vivenciar experiências incríveis! Na vida real, vai ser uma coisa de cada vez, vamos ter que aprender a aceitar, a fazer escolhas e a saber que ninguém é perfeito, muito menos nós mesmas!
Acho legal que a gente pense sobre a quebra de tabus e preconceitos que a história traz à tona, ela sugere um movimento de liberação e libertação das
mulheres sem cair no banal ou sem ser vulgar. Isso é bom e se adequa bem aos tempos de hoje.

Podemos sonhar e devemos! Não está certo o contentamento com qualquer coisa, mas há de saber olhar mais fundo e mais sensivelmente para as pessoas! Existem muitos atos de nobreza que vão além dos descritos pelo livro que podem tornar um homem o par ideal!
Vamos nos deixar embarcar nessa história sem perder o nosso senso crítico e sem aumentar demais nossas expectativas dando a possibilidade de a frustração entrar em nossos relacionamentos. Na vida real, o relacionamento perfeito vai ser aquele que tem defeitos, com uma pessoa que tem defeitos, mas que podem ser superados pelo amor, compreendidos pelo amor e curados pelo amor seja por sua vez, assim como pela vez do próximo. Agora, me dêem licença que eu tenho que voltar à minha leitura e avançar mais um capítulo antes de dormir e sonhar com isso tudo.

Joana Laprovitera

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