Lixo, lixo, lixo… O que fazer com as toneladas e mais tonelas de residuos que produzimos todos os dias? Eis a pegunta que não quer calar. Parece até impossível dar um fim sustentável a isso tudo. Até no espaço, o homem já conseguiu deixar essa marca negativa. Muitas ações amenizam os impactos que tanto lixo causa ao meio ambiente, mas acabam sendo só paliativos que não resolvem a situação de fato. Há problemas na coleta, na educação das pessoas, nos aterros sanitários, na falta deles. Mas tem jeito sim. Pelo menos foi o que provou o município de Borås, sul da Suécia.
Borås tem 66.273 habitantes, e fechou o ciclo do lixo, onde 100% dos resíduos são corretamente destinados e 99% é reaproveitado. “Tudo começou com um experimento realizado em 1988 com 3 mil famílias da cidade,” diz Mohammad Taherzadeh, professor de engenharia na Universidade de Borås. No início o sistema tinha o objetivo de melhorar a coleta e o tratamento do lixo. Em 1995, somente 10% do lixo de Borås era encaminhado para aterros. O sucesso foi tanto que hoje, o município inteiro utiliza o sistema implementado há quase 25 anos. Eles usam um modelo que parte do principio de que tudo pode ser transformado em algo útil, chamado de ‘Waste Recovery’.
O sistema começa com os moradores, eles separam em sacos pretos e brancos o lixo de suas casas, dividindo o lixo em orgânico e inorgânico. O lixo orgânico (30%) é transformado em biogás e usado para abastecer os carros, ônibus e caminhões de lixo da cidade. Já o inorgânico (70%) tem três destinos: a reciclagem (27%), cujo produto é revendido para empresas fora da cidade, a incineração (42%) que tem como resultado a geração de energia elétrica e a combustão de 1% que provém de lixo hospitalar e resíduos tóxicos, que não podem ser reaproveitados. Isto significa que todo o resíduo local é corretamente destinado e 99% reutilizado. Veja no infográfico aqui.
O projeto é cíclico e, não iria funcionar se todo mundo não se envolvesse. Por isso, conta com a colaboração dos moradores, do governo, da Universidade de Borås, e da empresa SP Technical Research Institute of Sweden.
Como acontece:
Os moradores separam o lixo => O governo financia a coleta e gere o programa => A universidade fica a frente do desenvolvimento tecnológico dos processos de transformação => E a SPTRIS transforma o lixo em energia elétrica ou biogás.
Um modelo possível
Além do trabalho na cidade, a Universidade de Borås, desenvolve um projeto internacional chamado ‘International Partnership’ que exporta modelos de gestão de lixo. O modelo do projeto não é uma receita de bolo, e para cada país e cidade às vezes é criado um jeito diferente de lidar com as questões do lixo. “Cada lugar tem um nível de desenvolvimento tecnológico distinto.” diz Mohammad. Os países envolvidos no projeto hoje são Indonésia, Tailândia, Vietnã, Camboja, Laos, China, Nigéria, Brasil e Estados Unidos. No Brasil o projeto é desenvolvido em: Fortaleza, Natal, Sobral, Salvador, Rio de Janeiro, Macaé, São Paulo, São Bernardo, Blumenau e Porto Alegre.
Em Blumenau o projeto acontece de forma mais intensa e já contou até com um intercambio de professores e pesquisadores da FURB (Universidade Regional de Blumenau) e da Universidade de Borås em 2009,” comenta David Bilsland da Coordenadoria de Relações Internacionais da FURB.“Esse é um projeto de várias etapas e de longo prazo, pois implica desde o desenvolvimento de programas de educação ambiental e conscientização até pesquisas avançadas na recuperação de resíduos e na transformação em produtos e soluções de valor, de forma sustentável,” diz Bilsland. Borås nos ensina que práticas sustentáveis e reaproveitamento do lixo são possíveis, urgentes e necessárias, mas para isso exigem investimento, compromisso político, pesquisa e envolvimento da sociedade.
Fotos: Reprodução