Mais de um século se passou desde o fim da escravidão e, ainda hoje, vemos graves reflexos desse período vergonhoso em nosso País. E, sem dúvidas, o racismo e o preconceito é um dos maiores. Várias expressões racistas se tornaram tão comuns que até esquecemos o quanto elas são preconceituosas. Por isso, separamos cinco dessas expressões racistas que falamos sem nos dar conta ainda hoje, e contamos sua origem. Tudo isso para mostrar como o preconceito se esconde nas coisas mais banais de nosso dia a dia. E já passou da hora de acabar com isso!
Já passou da hora de parar de falar que um lápis é “Cor de pele” e/ou “Nude”
Vamos começar por algo super corriqueiro. Quem nunca disse que lingerie cor de pele não é sexy? Ou que quer um batom nude? Mas, cor de pele de quem? Essas expressões preconceituosas já estão até sendo revistas, graças, mas ainda está longe de ser perfeito. Afinal, quem foi que disse que algo “cor de pele” ou a maquiagem “nude” é apenas aquela mais clarinha e amarelada que passa nos comerciais e tutoriais de maquiagem? Gente, aqui é Brasil, tem cor de pele e nudes de todos os tons! Atentos, hein amados?
“Que negra linda!”, “Negra de traços finos”, “Que negão, hein?” e afins: sim, essas são expressões racistas!
Pode parecer elogios, mas são expressões preconceituosas e racistas! Porque falar “negra linda”? Precisa destacar a cor? É algo tão incomum assim? Não mesmo! Por que não dizer “que mulher linda!”, oras! Ou então “que cara gato!”. Não se trata de uma mulher ou de um homem? Não é linda ou gato? Ser negra, branca, parda, amarela, vermelha, o que for não vem ao caso em relação à beleza da pessoa! E falar que tem os traços finos, nos poupem! Isso remete ao preconceito de que todo negro tem traços grosseiros, é generalização, é errado e ponto!
“Doméstica” não, né?
Aqui o racismo está tão enraizado que ninguém nem faz ideia! Mas sim, doméstica não tem NADA a ver com domicílio ou do lar. Ou melhor, tem, mas não da mesma forma. Domicílio é uma evolução da palavra em latim dommus. Já a expressão “doméstica” expressão também vem dos tempos da escravidão, quando os escravos precisavam de “corretivos” para serem domesticados e usados para trabalhar dentro da casa dos senhores. Sim, vem de domesticar mesmo, como se faziam com os animais. Que horrível!
Não precisamos nem explicar o “Mulata”, “Mulata tipo exportação”, “mulata da cor do pecado” e afins, né?
Para quem não sabe, o temo “mulata” era usado na Espanha para se referir ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. Ou seja, um animal que deu errado, uma mula, imprestável. Precisa nem dizer que com a miscigenação brasileira, a vinda de imigrantes espanhóis e o racismo típico europeu, logo a expressão foi usada também para negros filhos de escravos com europeus. Daí juntar isso com “tipo exportação” ou “da cor do pecado” só fazem sensualizar as negras, como se elas servissem apenas para satisfazer desejos sexuais. Sem contar a associação com o pecado em uma sociedade essencialmente religiosa como a brasileira… Expressões racistas e machistas ao mesmo tempo… E que ainda desrespeitam a religião…
A absurda “Não sou nem tuas negas”
Eis uma expressão usada quando alguém quer ser respeitado. Até bem irônico isso, afinal, aqui é fácil saber que é uma expressão racista que vem dos tempos da escravidão. As “negas” eram as escravas sexuais dos senhores de engenho. Ou seja, se não é “tuas negas”, não pode chegar perto, certo?
Mas o pior é pensar que, em pleno ano de 2023, ainda tem gente que acha que racismo é frescura e mimimi, hein? Viram como existem expressões racistas profundamente enraizadas em nossa cultura? E olhe que escolhemos apenas cinco, há muitas outras! É hora de refletir sobre o assunto e ver o quanto o preconceito foi normatizado pela “maioria”…
Fotos: Reprodução