Fala galera! O Carnaval está chegando, e o Pré Carnaval de Fortaleza vem com tudo! Tá todo mundo empolgado? Eu amo carnaval. Adoro tomar uma gelada na rua democraticamente com todo mundo, onde todos são iguais, e eu acho que o PRÉ de Fortaleza tem muito disso. Eu conversei com um cara que é mestre no assunto e eu tenho o maior respeito e admiração por ele. Eu não sei como ele consegue tempo para fazer tanta coisa, mas ele consegue!
Haroldo Guimarães é Mestre em Direito Constitucional, advogado militante e… cantor da Unidos da Cachorra, a “bateria pioneira do Dragão”, que vai agitar o Pré-Carnaval de Fortaleza nos quatro sábados que antecedem o carnaval. Em conversa bem descontraída (e cheia de conteúdo) o Portal No Pátio colheu as informações mais bacanas do bloco mais famoso e dessa folia que já se consagrou no calendário fortalezense.
Juliana Dias – Qual a temática da Unidos da Cachorra esse ano?
Haroldo Guimarães – É “Fortaleza e seus (pré)carnavais” [Haroldo ensina como escreve, enfaticamente]. Homenageamos, no samba vencedor de 2013, desde a Dona Mocinha ao Cais Bar, desde o bloco Merda ao Cheiro. Carnaval e Pré-Carnaval são a mesma coisa, a diferença é só um prefixo, e folia pode se fazer até nos bares, como nesses que eu falei. São endereços e blocos que fazem parte de nossa memória sentimental e da realidade do folião. A homenagem se dá porque sabemos que estamos inseridos num contexto bem maior, vencedor e bastante representativo para nossa cultura. Estamos num momento importante, olhando para nós mesmos, e nos orgulhando do que somos.
J.D – Qual o diferencial da escola?
H.G – Não somos escola de samba: somos um bloco carnavalesco, que executa samba na rua, dentre muitos outros ritmos. E o diferencial é justamente esse – entendemos que o samba é uma das grandes expressões da musicalidade brasileira, mas não a única. Tocamos também côcos, maracatus, soul-funk, funk carioca, baião, xote, ciranda e galope. O público acha uma maravilha, a gente vê muita gente se emocionar. Não esquecemos dos compositores cearenses também. Cantamos coisas do Fagner, Fausto Nilo, Evaldo Gouveia, Humberto Teixeira, e nossas próprias canções. Tanto o samba de 2012 como o de 2013 fazem uso de expressões tipicamente cearenses e dizem respeito ao nosso modo de ser. Levamos passistas vestidas em trajes que remetem à nossa cultura. Nossas vestimentas, ano passado, foram desenhadas pelo Rafael Limaverde, e, nesse ano, pelo Audifax Rios, sempre com motivos regionais. Quando vestimos essa roupa é como se estivéssemos vestindo a bandeira do Ceará. É bom demais! Entendemos que devemos e podemos chegar no universal pelo regional, e quem acha que a “Cachorra” imita cariocas está redondamente enganado.
Em nenhum momento imitamos quem quer que seja; na verdade, temos a honra de sermos os primeiros a desfilar no circuito do Dragão do Mar, razão pela qual, até hoje, o povo costuma chamar de circuito “das cachorras”. Temos a honra de sermos os primeiros a desfilar no Ceará nesse modelo de bloco, constituído por cantores, cavaquinista e uma bateria isolada dos demais foliões. Incorporamos guitarra. Ano passado, por exemplo, nos acompanhamos do (Bloco) Luxo da Aldeia, chamamos vários convidados, Skolástica é a nossa rainha… E tem muitas surpresas nesse pré que só serão divulgadas na sexta que antecede o desfile.
J.D – Quantos membros atualmente?
H.G – Desfilaremos com cerca de 150 ritmistas, mas todos que acompanham o bloco são membros do bloco. Essa é a nossa lógica. A bateria está protegida por uma corda porque, normalmente, os instrumentos de percussão são presos à altura da cintura e não dá pra tocar sem isolamento. Diretor do bloco, quando não toca, vai fora, e só entra pra dar água pro ritmista. Tem também o problema do peso do instrumento… imagina uma menina daquelas, carregando um surdo imenso e pesado… aquilo dali fere! Já houve acidente dentro da corda, imagina sem isolamento. Fora que, no modelo de bateria, precisamos de uma distância regular entre os ritmistas. O andamento musical, veja só, é dependente de um caminhar organizado. E tem mais: a bateria precisa estar dividida em duas, ao meio, em paralelo à rua, porque os diretores de naipes e mestre de bateria precisam sinalizar e ser vistos.
J.D – O que é naipe?
H.G – É o tipo de instrumento. Cada grupo tem um diretor; por exemplo, o diretor de caixas, diretora de chocalhos, etc. E o mestre de bateria é quem manda nos diretores, digamos assim.
J.D – Todos os participantes são voluntários? O que fazer para participar? Paga-se por isso?
H.G – Nem todos são voluntários. Alguns músicos profissionais, como o cavaquinista, violonista e dois cantores são remunerados, e fazemos questão que seja assim, porque sabemos que o músico é muito desvalorizado em sua profissão, e não queremos isso. Alguns tocam de graça porque se sentem donos do bloco, e a ideia é que todos se sintam assim. Eu mesmo não recebo nada, canto na cachorra, mas não sou profissional. Agora, pra entrar na bateria tem que ter um mínimo de aptidão, se não vai ficar fora da corda. A vantagem é que quem tá fora da corda pode beber mais (risos). Tem escolinha, paga uma besteira todo mês, é promovido para a bateria principal… aí toca. Somos contra cobrar pela vaga de ritmista, isso é seria uma aberração. Isso não existe. Que eu saiba, não. Se descobrirmos, colocamos a boca no trombone.
J.D – Quais as expectativas para o carnaval desse ano com a nova prefeitura?
H.G – Boas. E não tem “nada a ver” essa coisa de ser privatizado, só porque tem patrocínio privado. Os chamados grandes carnavais do Brasil são patrocinados pela iniciativa privada. Todos os três, e faz tempo. O que interferiu, em alguns casos, no modo que se desenvolveram, foram outros fatores, como os meios de comunicação, no caso do Rio. Lá o andamento do samba ou essa coisa de alegorias altíssimas é culpa da Globo, mas não do patrocinador. Esse negócio de abadá em Salvador é coisa de dono de bloco. Tem os camarotes no Galo da Madrugada, mas Olinda e Recife resistem bravamente com uma folia gratuita. Se a folia é paga ou gratuita, isso não é culpa de patrocínio privado. E tem mais: é a coisa mais moderna isso de parceria com particular. Eu dou aula de Direito, “tô” nisso faz tempo, e sei que isso é muito comemorado no Direito Administrativo, por exemplo. O pessoal do Direito Constitucional também gosta. Dizem que recurso público é pra focar em áreas prioritárias como saúde e educação. Ordenação e segurança é que são os bens públicos que queremos agora, não é dinheiro público, entendeu?
J.D – Qual será o trajeto e quais serão os horários da saída do bloco?
H.G – Boa pergunta, ainda bem que você perguntou (risos). Quem abre o Pré-carnaval de Fortaleza é a Unidos da Cachorra. Ou seja, dia 12 de Janeiro, neste sábado, começaremos às 15h. Quero que você chegue cedo, viu? (risos). Tem também (des)concentração [Haroldo ensina como escreve, de novo com energia], um pouco mais cedo, com o “esquenta” mais animado e várias surpresas. Nos dias 19 e 26 de janeiro, e também 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, o horário do nosso bloco será as 16h. O trajeto é pela Almirante Jaceguai, aquela da descida, dobramos à direita na Pessoa Anta e vamos até o “aterrinho”.
J.D – Os paredões de som ainda atrapalharam?
H.G – Olha só: neste último sábado, dia 5, um só paredão de som, depois do nosso ensaio, parou a Almirante Jaceguai, aquela rua da descida, e a Leste-Oeste, Dom Manuel e Monsenhor Tabosa. E foi só um ensaio nosso. Ficou ali em frente ao Órbita. A polícia demorou a agir. Teve uma briga horrível, soube de pelo menos dois assaltos. Complica porque os “caras” não se preocupam com desvio de trânsito, rota de ônibus, segurança, banheiro químico e vizinhança. E aí pode ocorrer o que teve com o “Quem É De Benfica” [Bloco de Pré-Carnaval] ou a “Lauro Maia” [Pré-Carnaval naquela rua], que acabaram por pressão dos moradores, que não podiam sequer sair de casa sem arriscar a vida. É uma gente, no geral, muito egoísta, esse pessoal do Paredão. E são sanguessugas, porque podiam ir para um autódromo, sei lá. Claro que tem gente de bem que curte som automotivo, mas o pessoal que não é do bem tem atrapalhado muito, e deixa a gente com muito medo.
J.D – Como a população pode denunciar?
Bom, a Semam anuncia um número, mas eu sugiro que seja chamada logo a polícia, no 190, isso se você não estiver perto de um policial. O ideal é que a própria polícia levasse o aparelho de som, e não esperasse pela Semam.
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Serviço:
Bloco Unidos da Cachorra
Datas: 12, 19 e 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro.
Local: Rua Almirante Jaceguai, em frente ao Órbita
Concentração 13h
Fotos: Reprodução