Desmatamento zero da Amazônia até 2020: possível ou utópico?

EcoFriendly


É difícil até para os mais crentes acreditar que o desmatamento na Amazônia pode chegar a zero. E até poderia sim, se tivéssemos politicas que pudessem subsidiar as pequenas comunidades que sobrevivem do extrativismo e os povos ribeirinhos e indígenas daquela região. O problema, é que não são esses povos os ameaçadores da Amazônia, mas sim, os latifundiários e todos os que diariamente, às vistas da população, das autoridades locais e muitas vezes acobertados pelos “seus contatos” no parlamento, acabam em um piscar de olhos com o que a natureza levou centenas de anos para colocar de pé.

Em uma conferência sobre empreendedorismo social na última semana, o Governador do Pará, Simão Jatene, disse ser possível o País reduzir o desmatamento amazônico à zero até 2020. Para isso, precisa associar práticas que aumentem os meios de subsistência rurais e que mantenham um crescimento econômico saudável. Para Jatene, é preciso que haja uma revolução no manejo e governança da terra para mudar a maré no Pará. O Estado perdeu mais floresta amazônica – 90.000 km2 de floresta amazônica desde 1996 – nos últimos 15 anos do que qualquer outro no Brasil. Não há punição para estes!

“Não há mais qualquer dúvida de que precisamos parar o desmatamento”, disse ele. “A grande pergunta é como.”

O governador pergunta e acha que já tem a resposta para solucionar o problema. Ele acredita que o Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Pará, sistema que exige que fazendeiros e agricultores registrem suas propriedades, seja uma alternativa para controlar os fazendeiros e agricultores. A participação no CAR cresceu exponencialmente desde que foi lançado em 2009, de 400 em seu primeiro ano para 40 mil em 2011. A razão é simples: os produtores não podem obter ou vender crédito para compradores se não forem registrados.

“Muito do desmatamento aconteceu na Amazônia por causa de uma crença por parte dos autores de que eles não seriam punidos”, declarou Jatene. “Com o CAR, a propriedade da terra não é mais anônima.”

Muito bem lembrado o fator, impunidade, pelo governador. Ele só não faz menção aos inúmeros casos de assassinatos, pessoas ameaçadas por grileiros e tantas outras que sumiram sem deixar rastros por terem denunciado “gente grande” que extrai madeira ilegal. Em sua coluna no site da revista Época, a jornalista Eliane Brum, por vezes denunciou fatos assim. O mais recente “A Amazônia, segundo um morto e um fugitivo”, é o relato do caso de João Chupel Primo (assassinado) e Junior José Guerra que está vivendo clandestinamente fugindo com medo de ter o mesmo fim do amigo. Ambos denunciaram operações criminosas de roubo de madeira na Amazônia.

A Amazônia, a fala de Jatene e de outras tantas lideranças políticas, é um cenário de controvérsias dada a realidade dos fatos que o desmatamento traz no Brasil: seja pelas árvores tombadas e as imensas áreas devastadas, seja pelas inúmeras vidas ceifadas não expostas na “grande mídia”. É bem verdade o que o governador diz:

“O objetivo de um desmatamento líquido zero para uma meta em 2020 não é uma ideia de fora, é uma demanda da sociedade. A maioria é a favor de reduzir o desmatamento; há alguns grupos que querem continuar desmatando, mas eles são minoria.”

A questão até parece fácil quando se trata de identificar os atores: os “alguns grupos” que insistem com o desmatamento não só na Amazônia, mas em todo o Brasil, são compostos por pessoas de alto poder aquisitivo ou resguardados pela lei por ocuparem cargos públicos. E eis que tendo em vista isto, surge mais uma vez a afirmativa do governador do Pará, que agora pode se reverter em questionamento: o Brasil tem condições reais de acabar com o desmatamento da Amazônia até 2020?

 

Fotos: Reprodução

Inscreva-se na nossa newsletter