House Sessions – Entrevista com Márcio Motor

Entretenimento|Música

Bem, a forma como tem sido o relacionamento de alguns produtores com djs locais levantou uma questão que impulsiona o posicionamento dos profissionais em geral. Ética e valores passaram a ser medidos por quantas pessoas você mantém contato em redes sociais. Qual o nível de credibilidade disso? O que isso vem acarretando? Em termos gerais, dívidas. Dialogar sobre tal cena é inevitável, ainda mais sobre o destrato aos djs, os profissionais em questão nessa coluna. Até que ponto vale se sujeitar ao contratante? Querem fazer de djs conhecidos como uma Junke Box. Talvez nem seja necessário tocar as músicas, porque elas já foram pré-programadas antes do momento de sua apresentação.

É difícil entender esse mercado em que é preciso tocar os mesmos hits que todos já conhecem, mesmo que outros djs no mesmo evento tenham tocado também. Aparece um rosto, um fone, talvez dois rostos, dois fones, talvez três rostos, três fones… mas as músicas que o público consagra de forma inconsciente são as mesmas tocadas o dia inteiro nas rádios mais populares. A música, na verdade, para muitos não importa. Talvez não seja a prioridade para o entretenimento noturno. Falta informação. E por causa disso foi reinaugurado o portal Cenaceará, em que questões são levantadas de uma forma imparcial e profissional. Márcio Motor está a frente dessa equipe e conversa com No Pátio.

No Pátio: Após sua reinauguração, o site Cenaceará tem sido desenvolvido por quantas pessoas? Quem são elas?

Márcio Motor: O Cenaceará renasceu dia 1° de dezembro de 2011, como Cenaceará.DJ e tornou-se basicamente uma rede social da música eletrônica no Estado. Já fomos programa de rádio, viramos site, página do Diário do Nordeste, coluna semanal do Jornal O Povo, caímos na comunidade do Orkut (na época em que saímos do ar, alguns DJs resolveram usar o nome “Cenaceará” para divulgação de festas e discussões acerca deste movimento).

A idealização e criação do site é do artista Toni Mazzotti. Junior Animal (Kaleidoscope Studio/ NuAct) é responsável pela estrutura comercial da empresa. Eu assino como Gerente de Conteúdo, sendo responsável pela atualização, desde a agenda, matérias e cadastro de novos artistas, assim como a fotógrafa Camilla Albano, que divide seus trabalhos com outras atualizações. Agora voltamos ao ar para contar a história dos 25 anos de mercado eletrônico cearense, destes oito anos de Cenaceará. Entre clubs, pubs, bares, festas e festivais que já aconteceram, estão acontecendo e ainda irão acontecer, o Cenaceará.DJ existe para catalogar (e informar), contextualizando cada detalhe e, assim, vamos dando continuidade a essa história que tem como fundo musical a música eletrônica.

No Pátio: Como é sua percepção do perfil jovem em geral quanto ao entretenimento na cidade?

Márcio Motor: O perfil do “baladeiro” cearense é o jovem entre 18 e 21 anos, adepto de grandes festas nos moldes das que acontecem aos finais de semana em clubs até as super open airs (raves) propostas pelas produtoras locais. Estes, na maioria dos eventos, acabam “se misturando” com a velha guarda eletrônica alencarina, um pequeno punhado de entusiastas que, na maioria dos casos, ajudam de certa forma a manter vivo o espírito “dancer”. Essa fatia menor é composta pelo jovem/ adulto, alternativo e entusiasta que firmou nos alicerces do movimento toda uma história, desde a introdução das primeiras festas eletrônicas em Fortaleza, até aquilo que hoje conhecemos e chamamos de “cena”.

Em se tratando de proporções comerciais, volume de público e música ruim nas pistas dos clubes locais, só temos crescido nos últimos oito anos. Explico: musicalmente falando, eu, pessoalmente, vejo um “regresso”, quando olho para trás e enxergo boates extintas como a Rainbow, a Broadway (entre outras poucas, claro), mas com uma responsabilidade sonora ímpar mesclando público underground e mainstream, sem fronteiras entre aquilo que fosse radiodifundindo e/ou discotecando exclusivamente nas pistas dos guetos.

Alguns irão dizer que isso é papo saudosista, e deve ser! Muitos lugares bacanas igualmente
nasceram e morreram na tentativa de levar tal proposta sonora Ceará a fora. Vi gente como
Linhares Junior fundar o Disco Voador e amargar o insucesso de entender que Fortaleza foi e ainda é um pouco provinciana, assim como presenciei outros dissabores deste mercado, como: Vivaldi (antiga Boate Oceano, KISS Disco Club e, agora, Capítulo One), e outros tantos.

No Pátio: O acesso a música diferente é uma questão de produtores apostarem nisso ou coletivos fazendo seus próprios eventos?

Márcio Motor: Um pouco (ou seria um tanto?) de cada. O papel do produtor de eventos no Ceará é de suma importância, quer seja da proposta/tema de quaisquer baladas, quer seja na escolha dos headliners (principais atrações), na escolha do local da festa, e principalmente, na confecção dos line ups, bem como toda a divulgação e responsabilidade na execução da ideia. Os Coletivos, ou Núcleos, como é o caso vigente do Ceará, têm tido muito mais responsabilidade (inclusive social) na composição e execução de suas festas.

Cito o Núcleo de Arte e Cultura Transcendental – NuAct, como benfeitora de excelentes open airs, como é o caso da já tradicional Entrance, um ritual nos moldes dos super festivais internacionais a céu aberto que hoje mescla todos os gêneros da “música diferente”: a eletrônica, além de ser pioneira na inclusão de ações como Redução de Danos, através do Balanceará; a Feeling Club que, indiscutivelmente, nos presenteia com festas semanais de muito bom gosto desde a escolha de suas atrações até a ambientação de seus dancefloors.

No passado, através do Coletivo Undergroove, fomos agraciados com inúmeros projetos tão
importantes para que pudéssemos perpetuar essa história. Em tempo, penso eu que a aposta na música eletrônica tem de ser mútua. De um lado produtores empenhados na responsabilidade em educar um público cada vez mais jovem e, consequentemente, mais leigo; do outro, os coletivos movimentando a estrutura artística (DJs/Lives, por exemplo), enxertando culturalmente ideias que a princípio nos possibilite “intercâmbios”, pois se trazemos mensalmente mega atrações do eixo RJ/ SP, por que quase nunca enviamos nossa prata da casa para nos representar ali?

No Pátio: Alem dos DJs consagrados na cidade, quem são os novos nomes?

Márcio Motor: Dos consagrados, eis aqui uma menção honrosa ao melhor e mais competente DJ do Estado do Ceará: Rodrigo Lobbão. Não será surpresa alguma, inclusive para ele mesmo, citá-lo aqui como sendo o maior exemplo de profissionalismo que, acredito eu, deveria ser seguido por todos. Da “escola” Undergroove, Fil e SickBoy são outros ícones bem fortes para mim. Dos novos nomes, quero estar a vontade para citar livremente alguns bons artistas que venho observando de um ano para cá, alguns não tão novos, mas com importante destaque nos quesitos: técnica de discotecagem, repertório, profissionalismo etc…

Então, vamos lá! O DJ e também VJ Peckman, agora tocando Techno/House; PJ Yugar e seu
Progressivo sempre eficiente nas open airs. Outro que venho achando bem interessante pela conduta Deep House é o Ismael GDO; Carlos Francisco é, sem dúvidas, um cara que fiquei torto ouvindo várias vezes desde suas músicas próprias, até suas performances na pista do Órbita; David Veiga que, sinceramente, é de doer no peito de tão bom de se ouvir na pista; Eduardo D’Antona (DJ Dude), o pernambucano radicado cearense mais foda na confecção de repertórios construídos laboratorialmente com uma visão de mainfloor muito bacana; cito também o genial Victor Falcão, meu companheiro no projeto Born To Chill, Jorge Quental (também produtor de mão cheia), e por ai vai…

O Ceará é, indiscutivelmente, um celeiro de excelentes artistas eletrônicos.

www.cenaceara.dj

http://soundcloud.com/marciomotor

Top 5 Márcio Motor

Harry Axt – Calipso

Scsi-9 – E

Guy Gerber – Timing (Luciano RMX)

Ray Kajioka – Spark

Maetrik – Fabric

 

Fotos: Reprodução

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