Objetivo é propiciar a vinda de pesquisadores do exterior ao Brasil para criar núcleos em universidades paulistas
Os impactos sociais e ambientais da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, próxima à cidade de Altamira, no Pará, serão avaliados através de uma pesquisa científica que tem como objetivo propiciar a vinda de pesquisadores do exterior ao Brasil, a fim de criar núcleos de pesquisa em universidades paulistas.
A pesquisa, intitulada “Processos sociais e ambientais que acompanham a construção da hidroelétrica de Belo Monte, Altamira, PA”, tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do São Paulo Excellence Chair (SPEC). Quem lidera é o cubano Emilio Federico Moran, professor da Michigan State University, nos EUA. Cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade Federal do Pará e da Universidade Estadual do Pará também participam da equipe.
Segundo Moran, a pesquisa será iniciada com o levantamento dos impactos sobre a população urbana. “Elaborei junto com meus colaboradores um questionário para entender como a construção da hidrelétrica está afetando os moradores antigos, o pessoal que já estava aqui. Depois, enfocaremos os moradores novos, aqueles que vieram atraídos pela obra: operários, comerciantes, engenheiros, profissionais de vários tipos”, disse.
Afirmou, ainda, que existem muitas alternativas para o desenvolvimento urbano. “No setor rural, parece que temos duas possibilidades. Pode ser que o crescimento da população urbana em função da hidrelétrica, fazendo aumentar a demanda de alimentos, promova uma intensificação agrícola na região. Mas, pode ser também que as obras atraiam trabalhadores do campo, levando a um enfraquecimento da agricultura familiar por falta de mão de obra no setor agrícola. As primeiras observações apontam nesse sentido, mas estamos só começando os estudos”, ressaltou.
Uma das linhas de pesquisa acompanhará a população ribeirinha que, em decorrência da barragem, terá um reassentamento de cerca de 20 mil pessoas. “Vamos acompanhar de perto essa população nativa, que será a mais diretamente afetada. Porque os indígenas conseguiram que a companhia mudasse o plano da barragem, de forma a não terem efeitos diretos. Terão, sim, efeitos indiretos. Já os ribeirinhos vivenciarão um reassentamento enorme: muitos povoados ribeirinhos vão ter de mudar e, de fato, vários já estão sendo removidos na área”, explicou o professor.
Para o pesquisador, as observações preliminares na área já permitiram perceber que alguns problemas que ocorreram no exterior se manifestam no Pará. “A população de Altamira dobrou nos últimos dois anos. Já alcançou 150 mil pessoas. E vários preparativos para receber essa população foram prometidos, mas não realizados a tempo”, comentou. “De modo que Altamira está agora com sua capacidade esgotada em termos de leitos hospitalares, vagas escolares, efetivos de segurança etc., criando-se uma situação caótica para todos na cidade”.
A pesquisa deverá se estender até agosto de 2018 e os cientistas esperam poder subsidiar propostas para um planejamento que considere as pessoas tão importantes quanto à produção de energia.
Foto: André Solnik/Flickr