Musicomania: O encantado mundo do Teatro Mágico

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Misturando música, poesia, performances e crico, Fernando Anitelli e sua trupe formam o Teatro Mágico. A primeira vez que ouvi uma canção deles, que dizia “Os opostos se distraem, os dispostos se atraem”, confesso que achei demais e virei fã na hora. Ficava me perguntando como algo tão simples podia ser tão bonito. E assim eu me encantei com o Teatro Mágico – ou apenas TM para os mais íntimos. 

O primeiro show que vi deles foi em Guaramiranga, no Festival de Teatro de 2007, e é algo que terei para sempre guardado na memória (e na foto aí de baixo – levemente embaraçosa, não reparem!)  de tão bacana que foi. Mas bem, muitos anos se passaram e o TM continua conquistando plateias pelo Brasil afora. E como nós postamos aqui, eles estarão de volta a Fortaleza neste final de semana.

Teatro Mágico3
Olha a repórter e o Anitelli em 2007!

Aproveitando a ocasião, fiz uma entrevista muito bacana com Fernando Anitelli, fofo e simpático como sempre. Nela, Fernando fala sobre carreira, os 11 anos de Teatro Mágico, planos, sobre a ideologia “contra burguês baixe mp3” (que eu, muito burramente perguntei errado e coloquei um “não” no meio, mas como sou uma jornalista séria, não vou esconder meu erro) e claro, o show aqui em Fortaleza.  Ficou um pouco longa a coluna desta quinzena, mas, vai por mim, vale a pena ler até o final e se encantar com cada palavra deste moço “empoetado” (com o perdão do neologismo).

No Pátio: O que é o Teatro Mágico para você?
Fernando Anitelli: O Teatro Mágico é essencialmente um projeto musical e que mistura variadas expressões artísticas: um pouco de dança, de teatro, poesia, circo… A gente está dentro desse universo faz 11 anos e em a cada álbum, buscamos modificar um pouco do nosso conceito, as referências, sonoridades, os timbres, as pessoas que compõem a própria trupe. Então o Teatro Mágico eh isso, é essa experiência de somar tudo numa coisa só.

No Pátio: No início, ouvi dizer que o projeto teria uma duração definida de dois anos, entretanto, vocês estão aí ainda hoje. De fato tinha esse prazo definido para o TM durar? E se tinha, por que decidiram continuar?
Fernando Anitelli:
Eu nunca disse que o TM teria dois anos de duração, não sei onde foi que conseguiram essa informação. O que foi dito é que o TM faria uma trilogia. Nós gravamos então essa trilogia: Entrada para Raros, O Segundo Ato e Sociedade do Espetáculo. E a gente resolver fazer igual ao Jorge Lucas: faz uma trilogia, e faz outra, depois faz outra e vamos embora! Então nós gravamos os três primeiros álbuns, e depois gravamos o álbum ao vivo que é o Recombinando Atos, nosso quarto álbum, e agora nos estamos no nosso quinto álbum, que é justamente o Grão do Corpo. O Teatro Mágico completou 11 anos e ainda tem muita história para acontecer.

No Pátio: Você já pensou em seguir carreira solo ou algum outro projeto diferente do TM?
Fernando Anitelli: Eu na verdade tenho um projeto chamado As Claves da Gaveta, que são canções que eu nunca usei no Teatro Mágico, que eu quis dar uma outra roupagem para elas. Tem uma cara mais de jazz, uma coisa meio piano, batera e violão, sem as referências de figurino, de cenário e de iluminação do TM. É um outro viés e eu fico muito feliz que muita gente gosta desse álbum. Meu pai, por exemplo, acha que é o melhor álbum que eu já gravei e eu quero mais é poder gravar outros, e com outras parcerias, não parar de produzir.

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No Pátio: Vocês levantavam a bandeira do “contra burguês, não baixe MP3”. Hoje, com tanto acesso à internet e serviços de streaming como Spotify e Deezer, qual a posição de vocês em relação a isso?
Fernando Anitelli: Nessa pergunta há um pequeno equívoco. “Contra buguês não baixe mp3” está errado, a gente nunca falou isso. A gente falou “Contra burguês baixe MP3”. [pausa para meu sentimento de vergonha nessa hora, rsrs] A gente queria justamente quebrar essa lógica de que, para você poder ter acesso a cultura, ou de ouvir a própria música, você teria que pagar por ela. Então a gente compreendeu que precisamos lutar por essa acessibilidade, tanto de fazer a nossa obra escoar e chegar até o público quanto do público também procurar e encontrar o nosso trabalho e poder ouvir e se identificar com isso e passar a curtir a banda e frequentar as apresentações e tudo mais. Então a gente continua com a mesma posição, a musica ela é livre na sua essência. O som se propaga no ar, então, faça sua música, faça seu som e propague-o. A nossa ideia em relação a musica livre permanece.

No Pátio: Vocês fizeram recentemente um show aqui, com várias crianças pequenas cantando junto e tal. Como é sentir essa receptividade do público infantil e essa renovação de público?
Fernando Anitelli: Poxa, poder fazer uma apresentação e sentir que tem crianças ali, famílias, isso tudo é muito significativo. O TM nunca buscou um nicho especifico de mercado e a gente consegue dialogar com pessoas de 8 a 88 anos de idade. Então eu sinto que isso é uma coisa muito bacana. O conceito visual estético do TM encanta muito o pessoal mais novo; os jovens, os universitários gostam das letras, dos arranjos, e os mais velhos, eu acho que gostam das duas coisas. Então eh muito bacana poder ver um trabalho que consegue dialogar com as pessoas de norte a sul do País com um repertório variado, autoral, sempre se renovando e ainda assim mantendo sempre essa força toda.

No Pátio: As letras de vocês trazem poesias e certas críticas. Você acha que essa mensagem atinge até aos menores?
Fernando Anitelli: Eu creio que as letras atingem quem estiver ouvindo e disposto a compreender aquilo ali. Eu não vou saber dizer o quanto isso tem de efeito nas pessoas. Certa vez a Clarice Lispector comentou que já era uma coisa de emergência poder escrever um livro. E o público tinha a liberdade de pegar o livro e folheá-lo, lê-lo, mas o que acontece a partir daí já não cabia mais a ela. O que eu sinto em cada musica que a gente faz é que precisa de uma “moral da história”. Então isso é colocado nas letras. A gente busca traduzir os arranjos de uma maneira criativa, com qualidade e eu já vi criança repetindo junto comigo poesias, já vi criança dizendo “a poesia prevalece!”, umas coisas, umas palavras difíceis. Eu vejo isso e falo “Poxa vida, cara! Isso é muito legal!”. Porque quando eu era criança, eu também gostava de poder seguir determinadas bandas que tinham essas metáforas na letra. Então eu creio que sim, a música cumpre com uma determinada função, e a letra, para quem souber interpretar e traduzi-la, sim, ela também terá o seu efeito.

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No Pátio: Nesse show em Fortaleza houve um problema técnico, com uma falta de energia que deixou o palco sem luzes e sem som. Você disse que só sairia dali quando fizesse o show inteiro e, enquanto consertavam o problema, a plateia começou a cantar para vocês. Como é esse carinho dos fãs? Como é a recepção de vocês em Fortaleza? 
Fernando Anitelli: Em Fortaleza não foi a primeira vez que tivemos problemas técnicos. A gente costumeiramente faz assim: a gente não para, continuamos com o público, interagimos. A gente busca, claro, resolver a coisa toda, mas sem sair do palco, em comunhão com a plateia. Então a gente continuou cantando e o público começou a cantar para a gente. Eu acho muito bonito as homenagens que o pessoal faz. Às vezes é ir numa apresentação transfigurado em um personagem homenageando alguém da trupe, ou um personagem distinto que cada um resolveu inventar. Acho bacana quando eles fazem coreografias juntos, quando eles arremessam rosas para a gente, eles resolvem parar a própria apresentação para recitar um poema q eles mesmo inventaram.  Então esse carinho é sempre muito valioso e a gente recebe com o maior amor do mundo.

No Pátio: Uma pergunta clássica: qual seu momento preferido no TM? Onde ele acha que o Teatro Mágico mais se encontrou?
Fernando Anitelli: Eu creio que meu momento preferido no TM é agora. Até porque só existe agora. O que aconteceu ontem, há algum tempo atrás já se foi, daqui meia hora não existe, e a gente só tem agora para ser e estar. Então eu fico feliz dessa nossa atualidade, o que a gente está falando, o que a gente está cantando, o que o País está atravessando, o significado das letras no momento sensível e a gente colocando as ideias à tona, a musicalidade, os timbres, a textura. A gente sempre busca traduzir no álbum mais atual tudo aquilo que a gente já viu, que deu ou que não deu certo no passado. Então, para mim, o melhor momento do TM é agora.

No Pátio: Quais as futuras magias desse Teatro?
Fernando Anitelli: As futuras magias? Só para explicar de que mágico não tem nada (risos). É trabalho para caramba, é logística, é pesquisa, estudo, responsabilidade. As nossas futuras magias acho que são… Os shows, é cd, parceria, álbum com outro conceito, uma outra temática, a gente não para. A ideia é justamente poder fazer em um próximo trabalho justamente aquilo que agora não conseguiu conceber. Então aguardem que tem muita novidade ai por vir.

No Pátio: E do show em Fortaleza que vai rolar dia 16, pode adiantar alguma coisa de como vai ser?
Fernando Anitelli: Bom, essa apresentação de Fortaleza promete pelo seguinte: a gente completou 11 anos e resolvemos trazer a turnê do álbum Grão do Corpo, nosso trabalho mais recente, com todas as canções que consolidaram o projeto durante esses 11 anos, mas que dialogavam com as temáticas do Grão do Corpo. Para nós, a arte e a postura em termos de postura política, em termos de ideia, em termos de críticas, em termos de busca por um ideal, isso sempre esteve com gente, então não vai ser diferente agora. O Teatro Mágico está aí com essa turnê “Tudo numa coisa só” e eu espero que todos vocês que já conhecem, ou que não conhecem ainda, possam comparecer para celebrar junto com a gente!

Ai gente, juro que já me sinto lá nesse show! Teatro Mágico é muito amor, poesia, encantamento. Não encontro outra palavra que melhor descreva o trabalho desse pessoal que não seja encantamento. Infelizmente precisei cortar um pouco das respostas ou a matéria ficaria gigantesca, mas guardei o que tinha de mais importante: a alma de tanto encantamento.

Fiquem de olho, que o show vai rolar no próximo dia 16, no Santa Praia. Espero que tenham gostado. Para encerrar, uma das minhas músicas que mais gosto deles, a que me fez encantar por eles, a que citei lá em cima o verso “os opostos se distraem, os dispostos se atraem”, Realejo.

[youtube width=”850″ height=”520″]https://www.youtube.com/watch?v=qx9CqCSAyaM[/youtube]

Obrigada e até a próxima!

Fotos e vídeos: Reprodução

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