Musicomania: um Moska na sua vida

Entretenimento|Música|Musicomania

O nome pode até parecer estranho: Paulinho Moska, ou simplesmente Moska, para os mais chegados. Aliás, quem acompanha a carreira dele, se sente assim: chegado, próximo, praticamente amigo mesmo, de sentar no sofá para tomar uma e bater um bom papo. Papo sobre o amor, sobre a vida, sobre o ser, o não ser… Por que é exatamente isso que a gente encontra nas letras e nas melodias de canções como “Tudo Novo de Novo”, “Pensando em Você” ou “Lágrimas de Diamantes” (minha preferida).

Sim, antes de jornalista, colunista, sou fã do Moska há muito, muito tempo, e aqui venho apresentá-lo a vocês, como se fosse um velho amigo, desses que a gente quer que todo mundo conheça. Gente, conheçam o Paulinho Moska, ou só Moska mesmo…

Há muito tempo, lá nos anos 1980, o Moska era de uma banda chamada Inimigos do Rei. De um jeito meio crítico, meio engraçadinho – como era a aura da época – ele fazia sucesso com músicas como “Uma Barata Chamada Kafka”. Olha o preconceito! O nome cult-bacaninha da música não reflete o quanto ela é legal e bem-humorada. Olha ele ali de chapéu e blazer branco (isso é muito anos 80, gente!):

[youtube width=”850″ height=”520″]https://www.youtube.com/watch?v=v1vhay4lmsA[/youtube]

Pois bem, o tempo passou, o moço resolveu seguir carreira solo e pronto: começava ali uma das carreiras mais produtivas que eu já tive o prazer de acompanhar nessa minha média-curta existência. Eu costumo chamar a obra do Moska de romântico-existencialista, por que ele aborda muitos temas ligados ao amor e aos questionamentos existencialistas (pelo menos os meus, por isso rola uma identificação). Mas no fundo, o que a música dele tem mesmo é lirismo, poesia e umas construções frasais que… puxa vida! Eu, como boa jornalista e formada em Letras, adoraria ter pensado. Exemplo disso é a letra de “Lágrimas de Diamantes” (inspirada em uma fotografia):

[youtube width=”850″ height=”520″]https://www.youtube.com/watch?v=LZpUtbrjlrk[/youtube]
“Lágrimas de diamantes
À noite lágrimas de diamantes
De dia, lágrimas; à noite, amantes
Lágrimas de diamantes…”

Tão simples e tão lindo! Pois bem, eu acompanho a carreira dele faz tempo, mas o primeiro show que fui do Moska nem lembro o ano, mas foi no Órbita Bar. Atrasou horas por causa da greve dos aeroportos, algo assim, e eu tinha que trabalhar no dia seguinte. Era a turnê do “Mais Novo de Novo”, e tinha relativamente pouca gente no local. Foi o show mais perfeito que já vi!!! O mais recente foi ano passado, no Dragão do Mar, da turnê “Muito Pouco Para Todos”. Historinha engraçada: Em um dado momento, o Moska anunciou que ia cantar uma música nova, que provavelmente pouca gente conhecia, mas que era bacana e ele ia cantar. Ele começou a cantar “Somente Nela”, e acabou esquecendo e errando a letra da música. Adivinhem que foi a “louca” que em pleno anfiteatro do Dragão do Mar gritou, a plenos pulmões, a letra da música para ele lembrar? Acertou quem respondeu essa jornalista que vos escreve.

[youtube width=”850″ height=”520″]https://www.youtube.com/watch?v=BAt3TYQvo0M[/youtube]

Pode parecer engraçado, mas é como eu falei: com o Moska, a sensação é de “ser de casa”, é conforto poético, é lirismo romântico. É entrega. Agora que eu já apresentei o Moska para vocês, confira uma entrevista que fiz com ele – por e-mail, infelizmente. Ah, essas tecnologias… um dia consigo ao vivo! Vamos deixar ele falar um pouco também:

Quem acompanha sua carreira, percebe que suas músicas se dividem em dois temas centrais, o amor e uma espécie de existencialismo. O Moska tem muitas dúvidas sobre o “ser” no mundo?
Num mundo onde o “ser” foi substituído pelo “estar”, só o que nos resta são dúvidas em relação à existência e ao futuro. Eu sou ateu… Então fica ainda mais difícil caminhar… Porque não posso apelar pra Deus… Nem sonhar com o paraíso… Pois não acredito em vida depois da morte. A minha vida é aqui e agora… Temos que resolver nossos conflitos múltiplos antes que a destruição seja irreversível. Quanto tempo ainda duraremos? E de que forma? Diante da loucura humana com suas ignorâncias transformadas em leis só consigo pensar em falar de amor e perguntar “onde tudo isso vai chegar” ?

Em tempos de diversas intolerâncias, o que é o amor para você?
O amor, na minha vida, ocupa o lugar de Deus. Na verdade acho que o amor pela vida (e a recusa de aceitar a morte) inventou Deus. E me parece que Deus se tornou maior do que o Amor… Uma inversão de valores. Se todos fossemos fiéis do Amor, não haveria intolerância. Porque o amor é um só… Não existe amor cristão, amor muçulmano, amor budista, amor judeu, amor negro, amor homossexual, amor pobre… Amor é Amor até em Marte. Se todos dessem as mãos em nome do amor, ninguém conseguiria segurar uma arma. Quem ama faz o bem e ponto final.

Como é a experiência de trabalhar com grandes nomes da música latina completamente desconhecidas para a maioria dos brasileiros, como Jorge Drexler, Kevin Johanssen e agora, o disco gravado com Fito Paez, esse mais conhecido. Há uma tentativa de resgatar essa cultura latino-americana?
Eu era um brasileiro comum… Não me interessava pela América do Sul, pela língua hispânica nem pela cultura sulamericana… Como se nós não o fôssemos. Quando conheci Jorge Drexler (em 2002) e ele me apresentou ao mundo latino e fiquei muito constrangido (por mim e pelo Brasil)… Por causa do imenso preconceito que temos com eles. Eu fui muito bem recebido por lá e logo conheci artistas maravilhosos com quem me conectei diretamente e passei a compor, gravar e me apresentar nos palcos com eles. Criei dois festivais no CCBB de Brasília juntando artistas nacionais e latinos em 8 encontros musicais… E já escrevi alguns textos sobre os “hermanos” e o “portuñol ético”. O Brasil perde muito construindo seus muros de intolerância e preconceito.

Entre o show voz e violão e o com a banda completa, há alguma preferência?
Quando estou com a banda o show fica mais explosivo… E meu comportamento fica mais “roqueiro”. Mas o show solo me permite um clima mais íntimo… Posso falar mais e usar o silêncio a meu favor. São dois formatos que adoro.

-Você já fez parcerias com os mais variados músicos. Há algum que você queira muito, mas por algum motivo, ainda não tenha acontecido?
Apresento o Zoombido (série de TV no Canal Brasil) há 10 anos e estive com mais de 260 compositores de música popular… Um grande privilégio… Mas ainda tem dezenas de artistas que não puderam participar… Dentre eles Caetano Veloso, Jorge Ben, Marina Lima, Lulu Santos, Chico Buarque, Paulinho da Viola. Todos foram convidados muitas vezes… Fiz a minha parte.

Como você vê essa “nova leva” da MPB, em nomes como Filipe Catto, Clarice Falcão, etc…?
Adoro a nova geração… Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Céu, Cícero, Dani Black, Maria Gadú, Mariana Aydar, Filipe Catto, Clarice Falcão, Duda Brack, Karina Buhr… São muitos e cada um tem sua singularidade. Às vezes menosprezamos um artista novo só porque ele ainda não teve tempo de desenvolver sua assinatura… É preciso estimular os artistas novos para que no futuro eles tenham uma carreira e possam deixar claro o que querem com sua música.

Todo mundo tem uma música “xodó”. Da sua discografia, qual é a canção que você mais se orgulha de ter feito?
Essa é a pergunta mais difícil… Porque as canções são como os filhos de um compositor… Vão formando uma família… E vou me apaixonando por elas… Pelo que dizem… Uma vai completando a outra. No fundo todas as minhas canções falam a mesma coisa: amor pela vida e pela idéia de reconstrução diária. “Tudo Novo de Novo”, “Lágrimas de Diamantes”, “A Seta e o Alvo”, “Muito Pouco”… Pode ler todas as minhas letras com essa lente que a imagem do que eu escrevi vai pular na sua frente.

Ano passado você veio com a turnê “Muito Pouco Para Todos”, agora com a “Violoz” e ainda acabou de lançar o disco “Hermanos”. Você não para! Como é ter essa intensa produção intelectual e musical?
(risos) É porque eu vivo assim o tempo todo… Sentindo, pensando e produzindo. A definição de Vida, pra mim, é isso: sentido, pensamento e produção. Com esse mantra, caminho pelo mundo sempre atento filtrando as coisas através de um critério (olhar) que está sempre em desenvolvimento, aprendendo a cada dia mais e mais sobre a diversidade da vida.

O que alimenta a sua inspiração?
A própria vida (a minha, a sua e a da natureza) já é matéria-prima suficiente para qualquer inspiração…basta você se interessar em conhecê-la, estudá-la, questioná-la… Somos cercados de beleza… As ciências (a física, a química, a biologia, a filosofia, a matemática…) dão uma outra versão sobre a origem e o sentido da vida… E elas me parecem mais verdadeiras do que qualquer religião. A ciência não se baseia num livro escrito há milhares de anos atrás… Ela pensa o mundo de hoje e tenta esclarecer os problemas de hoje. Existe muita fé na ciência também. O amor pode ser científico.

Cantor, compositor, apresentador, escritor, poeta, pessoa. É muito a se falar em tão pouco tempo e espaço. Como já falamos aqui, ele vai fazer um show aqui em Fortaleza nessa sexta. Agora que vocês já foram apresentados, pode ir que é de casa. Com certeza vai ser agradável, vai ter música boa e um bom papo. Dele com a plateia. Sua com você mesmo. Com a vida…

[youtube width=”850″ height=”520″]https://www.youtube.com/watch?v=QXkZXHM6o5M[/youtube]

 

Entrevista: Lua Santos

Fotos e vídeos: Reprodução

Inscreva-se na nossa newsletter